
Do futebol não profissional, ao recorde de golos em jornadas consecutivas na Premier League, passando pelas Red Bull em catadupa ou pelo conto de fadas de 2015/16, acabando no regresso ao principal escalão inglês, onde fez questão de relembrar os adeptos do Tottenham que nunca haviam vencido uma Premier League. Eis Jamie Vardy, o excêntrico de Leicester.
Nascido em Sheffield no ano de 1987, Jaime Richard Vardy começou o seu percurso (segundo os registos disponíveis) no clube da sua terra natal, o Sheffield Wednesday. Foi aí que sofreu o primeiro revés da sua ilustre carreira, sendo dispensado aos 16 anos por alegadamente não ter a estrutura ideal para um jogador de futebol profissional. O sonho de Vardy ia perdendo força, mantendo-se até aos 19 anos nas camadas jovens do Stocksbridge Park, que atuava na nona divisão do futebol inglês.
Com 20 anos, foi chamado à equipa principal do clube. Jamie era operador fabril ao mesmo tempo que jogava, recebendo apenas pouco mais de 100€ por mês do futebol. A vida polémica de Vardy começa a fazer-se sentir nesta altura. Numa noite, num “pub” da sua localidade, envolveu-se numa briga onde defendia um amigo seu. O resultado foi o uso de pulseira eletrónica durante seis meses, e uma proibição de sair de casa entre as seis da tarde e as seis da manhã.
As três épocas seguintes foram de sonho. Faturou por 66 vezes na equipa principal, dando o salto aos 23 anos para a oitava divisão inglesa, para o Halifax Town, onde jogou apenas uma temporada, apontando 26 golos em 37 jogos. Foi então que apareceu o Fleetwood Town, da quinta divisão inglesa, o primeiro clube semi-profissional da carreira, aos 24 anos, que pagou 175 mil euros pela sua contratação. E Vardy não desperdiçou a oportunidade. Melhor jogador do campeonato, mais de 30 golos na temporada e campeão da quinta divisão.
É aqui que a sua vida muda para sempre. Em 2012, com 25 anos, o Leicester (segunda divisão inglesa) paga um milhão de euros pelos seus serviços, o que recebe muitas críticas, dado o patamar onde jogava. A vida de Vardy não começou da melhor maneira. A primeira temporada foi marcada por pouca utilização, não sendo titular, e saindo poucas vezes do banco.
Foi nessa altura que Vardy, num patamar que alguma vez havia sonhado chegar, se vislumbrou com as quantias que recebia, e entrou no mundo do álcool. Os dirigentes do Leicester chegaram a ponderar rescindir com o jogador caso algo não mudasse. Mas mudou, e para melhor. Na época seguinte, Vardy agarrou a titularidade, marcou 16 golos no Championship e assumiu grande culpa na subida do Leicester à Premier League.
Chegava à Premier League com 26 anos, vindo “de cá de baixo”, até ao topo. Esta história por si só já era merecedora de um conto de fadas, mas só viria a melhorar. Depois de uma temporada de menos utilização e onde evitaram a despromoção, chegava a época 2015/16, e penso que qualquer adepto de futebol sabe o que significa isso.
Claudio Ranieri chega a Inglaterra, e monta aquela equipa onde alinhavam Kante, Mahrez, Fuhcs, Drinkwater, Wes Morgan, Kasper Schmeichel, Okazaki e Jamie Vardy, o camisola nove e referência da equipa. Foram 30 contribuições para golo naquela temporada, 23 vitórias, 12 empates e apenas três derrotas, que culminou com o inédito título do Leicester. Jamie Vardy bateu ainda o recorde de mais jornadas seguidas (11) a marcar. Foi eleito o melhor jogador da Premier League em 2015/16 e realizou ainda 26 jogos pela seleção inglesa.
Mas segundo Jamie Vardy, nada seria possível sem as suas Red Bull. Numa entrevista concedida na época do título, o internacional inglês confessou que bebia cerca de três Red Bull por dia (ao pequeno-almoço, almoço e antes de jogar/treinar), assumindo também que fumava por vezes, justificando-se afirmando que não existia nada de ilegal nisso. Confessou-se também adepto de Vinho do Porto, deixando escapar que bebia sempre nos dias antes dos jogos, uma vez que lhe permitia um maior descanso e facilidade em adormecer.
Após tocar nos céus com o Leicester, Vardy recusou a oportunidade de jogar no Arsenal, afirmando que o Leicester lhe deu a mão quando ninguém acreditava nele, e por isso lhe devia eterna gratidão. Vardy renovou por mais duas vezes desde aí, e aos 37 anos, após descer de divisão com o “seu” Leicester, voltou a marcar 20 golos no Championship na época anterior, trazendo o clube para o convívio dos grandes na Premier League.
E como não podia ser de outra forma, no regresso, o Leicester empatou frente ao Tottenham, e o golo dos “foxes” foi marcado pelo próprio, relembrando no momento da sua substituição, Cuti Romero, central do Tottenham, que o inglês detinha uma Premier League a seu nome, enquanto o argentino nunca havia levantado o troféu.
Polémico, excêntrico, goleador, irreverente. Eis Jamie Vardy, o símbolo do Leicester.