Jurgen Klopp e o fim do romance perfeito

    Jurgen Klopp anunciou que vai deixar o Liverpool no final da presente temporada. O germânico é um nome que fica na história do emblema inglês.

    Se alguém, antes da passada sexta-feira, te dissesse que Jurgen Klopp ia sair do Liverpool no final da presente temporada, provavelmente ias-te rir e acusar o teu amigo de espalhar rumores falsos. Afinal, estamos a falar do casamento perfeito. O match entre o emblema inglês e o técnico alemão foi de 100%. São raros os treinadores que entram no coração dos adeptos desta maneira, é quase um amor de uma vida. Alex Ferguson e Arsène Wenger possivelmente foram os últimos representantes deste “escalão” de timoneiros e tiveram que passar largos anos em Manchester United e Arsenal, respetivamente, para conseguir o seu status. Jurgen Klopp, apesar de ter estado menos tempo (que mesmo assim são nove anos), conseguiu efeito semelhante nos reds.

    E isto não vem apenas das suas valências enquanto treinador. Jurgen Klopp conquistou o respeito da instituição e a admiração de todos os adeptos e de uma cidade, onde é extremamente difícil de agradar a todos (a sua vertente política demonstra esse fenómeno na perfeição). Afinal, quem é que não gosta do antigo líder do Borussia Dortmund? Nem o mais fanático por Pep Guardiola ou José Mourinho consegue desprezar ou menosprezar o germânico, que voltou a reerguer um dos emblemas mais históricos de toda a Europa. Jurgen Klopp já tinha largos admiradores devido ao seu trabalho na Westfália, mas em Anfield concretizou o seu magnum opus. Sejamos sinceros, o Liverpool “pouco contava para o totobola” antes da sua chegada, excluindo em 2013/14, onde uma “escorregadela” tirou o título ao clube. Tinha-se transformado numa equipa que não conseguia lutar pela Premier League e que era motivo de troça pelos seus rivais. O adversário da cidade, o Everton, nem estava assim tão longe do patamar em que o Liverpool se encontrava.

    Porém, Jurgen Klopp transformou-se no centro de um projeto que colheu muitos frutos, com o seu estilo rock ‘n’ roll. Recebeu um carrinho de mão e entregou um Ferrari, pois se os reds são um emblema de sucesso e considerado um tubarão europeu é na atualidade, grande parte é culpa de Klopp. O alemão conseguiu títulos, ao nível nacional e internacional:

    • Uma Champions League
    • Uma Supertaça Europeia
    • Um Mundial de Clubes
    • Uma Liga Inglesa
    • Uma Taça de Inglaterra
    • Uma Taça da Liga Inglesa
    • Uma Supertaça Inglesa

    Somente não conquistou mais por culpa do Manchester City, que sempre teve equipas e orçamentos superiores ao Liverpool. Por três vezes fez mais de 90 pontos na Premier League, mas só venceu uma, mostrando ser um super adversário para qualquer emblema.

    O histórico do técnico em Inglaterra não se faz só de taças. Jurgen Klopp conseguiu retirar o melhor de uma equipa, ao mesmo tempo que fazia as suas individualidades crescer. Virgil van Dijk ou Mohamed Salah eram bons quando chegaram a Anfield, mas foi o germânico que os tornou nos melhores do mundo nas suas posições. Trent Alexander-Arnold, Curtis Jones, Harvey Elliott, Diogo Jota, Fabinho, entre muitos outros, não seriam os mesmos sem Klopp. Fez uma primeira reconstrução, que levou a todos os troféus referidos anteriormente e estava em outro processo semelhante. O Liverpool nunca deu grandes estrelas ao germânico, mas sim atletas com grande potencial para serem trabalhados e Jurgen Klopp foi um escultor tão bom como Donatello.

    Na manhã do dia 26 de janeiro de 2024, Jurgen Klopp chocou o mundo do futebol, anunciando que abandonará o Liverpool no final da época. A justificação? O cansaço e a falta de energia:

    «É que estou, como posso dizer, a ficar sem energia. Não tenho qualquer problema agora, obviamente, já o sabia há mais tempo que teria de o anunciar a dada altura, mas agora estou absolutamente bem. Sei que não posso fazer o mesmo trabalho vezes sem conta. Depois dos anos que passámos juntos, depois de todo o tempo que passámos juntos e depois de todas as coisas que passámos juntos, o respeito por ti cresceu, o amor cresceu por ti e o mínimo que te devo é a verdade – e essa é a verdade».

    Por muito que custe aos adeptos, Jurgen Klopp tem razão. Foram nove temporadas de concentração máxima, fazendo história ano após ano, reconstruindo um clube que estava na lama. Há que respeitar e compreender. Ninguém ficou feliz com a decisão, nem mesmo os adversários:

    «Não é bom para a Premier League. Ele criou a sua era aqui, trouxe o clube de volta ao sítio onde penso que pertencem. Por isso, dou-lhe os meus parabéns. Ele fez um trabalho incrível pelo Liverpool», afirmou Erik ten Hag.

    «Eu amo o Klopp. Tenho grande respeito e considero-o como um dos melhores treinadores do mundo. Gosto do seu comportamento, e quando ele diz algo, concordo com 99% disso», referiu Roberto de Zerbi.

    «Foi o melhor rival que tive na minha vida como treinador. A Premier League vai sentir falta dele, da sua personalidade carismática e da forma como a sua equipa joga. Desejo-lhe o melhor. O futebol precisa de treinadores e personalidades como ele», disse Pep Guardiola.

    Quantos os teus adversários diretos dizem isto de ti, podes ficar satisfeito com a pessoa que és e com o trabalho que desempenhaste. Não é fácil conquistar o respeito que Jurgen Klopp conquistou. Transformou-se em alguém que merece uma estátua em Anfield, já que é o grande herói moderno do Liverpool (a par de Gerrard) e provavelmente o maior rival de carreira de Pep Guardiola (José Mourinho poderia ter uma palavra a dizer nesta batalha).

    Do lado de Klopp, é fácil prever o futuro, pelo menos a curto prazo, não precisamos de nenhuma bola de cristal. Um ano parado, absolutamente de férias e em 2025/26 assumir um novo projeto, onde lhe deem tempo e espaço, seja um clube ou uma seleção. Já do lado do Liverpool, não se pode afirmar o mesmo, a aura é negra. Os adeptos têm que fazer o luto o mais depressa possível, virar a página, ou pelo menos aprender como é que isso se faz, não havendo propriamente manuais que o expliquem. A partir de 2024/25, um novo elemento estará no banco e as comparações vão ser inevitáveis. Jurgen Klopp é difícil de superar, mas os reds têm todos os ingredientes para arrancar um novo projeto, só falta mesmo um chef.

    O Liverpool tem dois maus exemplos do passado a não seguir, com Ferguson e Wenger. O escocês ainda não foi esquecido pelo Manchester United, mesmo que já tenha saído de Old Trafford em 2012/13. Já o Arsenal conseguiu que Arteta conquistasse o coração dos seus adeptos, mas não foi fácil e no Emirates ainda se “chorou” bastante tempo pelo francês.  Em Anfield vai ser complicado aceitar uma nova realidade. A imagem de ver o alemão a celebrar com as bancadas, a fazer o The Kop vibrar não se esquece de um dia para o outro. Qualquer nome que chegue ao clube, será um downgrade, mas tem que se dar tempo e oportunidade para o treinador crescer, como foi feito com Jurgen Klopp.

    A hora da despedida é sempre complicada e a deste romance está marcada. Podia ser mais fácil de aceitar uma saída repentina, com a mesma justificação, mas o Liverpool terá assim mais tempo para preparar o seu futuro e evitar cair no abismo, como aconteceu com outros. O plantel é relativamente jovem, tem pilares importantes e perder não é uma opção. Há que ter critério em escolher as novas peças, já que não foi apenas Klopp a ir embora, mas parte da estrutura que tantos triunfos conquistou. No verão de 2024, os reds têm que ter tudo pronto para a máquina funcionar a 100%, mesmo que o motor já não seja alemão.

    Aconteça o que acontecer, Jurgen Klopp tem o seu lugar marcado na história do Liverpool e da Premier League, tal como o conquistou no Borussia Dortmund e na Bundesliga. Resta saber qual será a próxima instituição a abrir as portas a este benfeitor (não será em Inglaterra). Daqui a umas temporadas, quem sabe se este divórcio não é desfeito e voltamos a ver Liverpool e Klopp de mãos dadas de novo?

    Aproveitemos as últimas danças deste casal maravilha, pois relações como esta, há poucas.

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