Quando Unai Emery pegou na equipa em Outubro de 2022 fizera-o em missão de salvamento. Os alarmes haviam soado com a inoperância de Steven Gerrard, que deixara os Villans à beira da linha de água e com a equipa em claro sub-rendimento. Emery não teve medo do desafio, talvez demasiado exigente pelas circunstâncias do seu passado.
Olhado com desconfiança desde que se atreveu a baixar as expectativas aos adeptos Gunners por revelar a realidade palpável – que sim, em 2018, o Arsenal era um clube em reestruturação. Mesmo apesar de os ter levado a uma final europeia e a dois quintos lugares internos, Emery reforçara sobre si próprio a aura de fracasso, sempre a pairar na opinião pública desde a remontada do Barça naquela noite dos 6-1 ao seu PSG.
Mas as oportunidades nos colossos só surgiram pela extrema competência aos comandos de clubes de segunda linha, como relembram as quatro Ligas Europa no currículo ou a fantástica Meia-final de Champions conseguida com o Villareal, já depois de ganhar outra Liga Europa pelo submarino.
As bases táticas do seu sucesso já são facilmente identificáveis desde que o seu Sevilha aguentou um bem oleado Benfica de Jorge Jesus: o compacto 4-4-2, de linhas muito juntas para induzir a claustrofobia no adversário, sem necessariamente ser em bloco baixo – a linha defensiva não se coíbe de avançar uns bons metros para travar os incautos com a armadilha de fora-de-jogo. Em 2024-25, só Hansi Flick conseguiu ultrapassar Emery nesta vertente.
Os extremos não o são verdadeiramente, pelas preocupações em cobrir zona central tanto em contenção como em construção: McGinn, como bom escocês um trabalhador por excelência, reimaginou-se como organizador, assim como Tielemans – e é desses homens que Emery se socorre para completar o seu meio-campo, que então não se estende em linha, mas num quadrado, mais intenso e pragmático que fantasista (e por isso Zaniolo não resultou).
Os magos encaixam mais à frente, muitas vezes perto do ponta-de-lança, procurando sim depois o espaço livre dependendo da pressão adversária – claro que, sendo Bailey, muitas das vezes aparece na ala direita em organização ofensiva, no 3-2-5 da moda que dá liberdade a Lucas Digne para explorar o lado esquerdo, contribuindo para a equipa com bola precisa na área, já que Bailey preferirá sempre no um para um e a zona interior.
2024 revelou-se um ano em cheio pela consistência que a equipa foi atingindo na segunda metade de 23/24, onde cimentou definitivamente a candidatura ao 4.º lugar final com a épica vitória em casa do Arsenal, em Abril, jogando os Gunners para fora da luta pelo título.
Nesta época, a equipa teve que saber fazer coincidir os preparos europeus de alto nível com a competitividade da Premier e, obviamente, a equipa ressentiu-se a partir de Novembro, chegando a atravessar fase de oito jogos sem vencer. A indefinição na linha defensiva, com as ausências de Tyron Mings a retirar capacidade de liderança, apesar da saliência técnica que a dupla Pau Torres-Konsa pode oferecer, tem tornado a equipa mais permeável.
O foco de Emery no desenvolvimento das pérolas Rogers, Philogene ou Jhon Dúran retirou importância a peças essenciais como Ollie Watkins e Bailey, sendo dificil a sua coexistência no balneário. Em entrevista recente à Sky Sports desvalorizou as declarações de Dúran no Verão, alegando estar preparado para sair do Villa Park, e sublinhou a importância de «desenvolver o jogador e a pessoa, conjungando as duas em harmonia, atendendo às necessidades emocionais ainda antes que as técnicas ou táticas», apesar de comentar sobre a sua afirmação da forma mais explícita quanto à ambição do colombiano: «Tentamos seleccionar os jogadores que nos podem dar mais mentalidade vencedora, de entrar em qualquer campo com a ideia de triunfar».
Apesar dos percalços na Premier, a caminhada europeia vai de vento em popa. O Villa não chegava à Champions desde que fora campeão europeu, no princípio dos 80’s, e o seu regresso fica marcado pela mesma excelência competitiva: apenas uma derrota em seis jornadas, com quatro vitórias, uma delas contra o Bayern, o que lhe proporciona o quinto lugar na tabela – melhor só Liverpool, Barcelona, Arsenal e Leverkusen. «Para mim a Europa foi sempre algo de muito especial (…) Quando aqui cheguei, a primeira mensagem que transmiti foi: eu quero jogar na Europa!».
O 9.º lugar no campeonato, chegados à ultima semana de Dezembro, não assusta. O top 4, fechado pelo Nottingham de Nuno Espírito Santo, está só a seis pontos – facilmente recuperáveis se a equipa encarrilar como já o fez no início desta época. Há uma aceitável sequênca Brighton-Leicester-Everton até ao encontro com o Arsenal dia 18 de Janeiro e o departamento médico vai recuperando peças aos poucos, fortalecendo o grupo: Jacob Ramsey foi a novidade nos treinos deste fim de semana, aliviando a ressaca da derrota no Boxing Day e os castigos impostos pela expulsão de Dúran em St James Park e pelo quinto amarelo de Matty Cash.