Este domingo, em jogo a contar para nona jornada da Premier League, jogou-se o verdadeiro clássico de Inglaterra, o Manchester United FC contra o Liverpool FC em Old Trafford. Se na última década os Red Devils têm se superiorizado aos Reds, o cenário mudou de figura. O Liverpool FC de Klopp é o atual campeão da Europa e vice-campeão inglês, chegando a esta partida com oito vitórias em oito jornadas da Liga Inglesa. O Manchester United FC de Ole Gunnar Solskjaer, que vinha de exibições deprimentes e resultados penosos, contava com duas vitórias, três empates e três derrotas, nos primeiros oito jogos.
Com este contexto, rapidamente se percebe que o Liverpool FC, mesmo jogando na casa do rival, era muito favorito para esta partida. Pela frente tinha um Manchester United FC desfalcado, por exemplo, sem Nemanja Matic ou Paul Pogba, sem confiança e sem estabilidade, com Solskjaer em risco de ser afastado a qualquer momento.
Pois bem, apesar de todo este cenário, o treinador norueguês puxou de toda a sua experiência como jogador e treinador para travar um rival muito superior nos dias de hoje. Apesar da chuva de críticas (mesmo após o empate a 1 com os Reds), o técnico montou um sistema e um modelo, que expôs as fragilidades do adversário e anulou grande parte das virtudes da demolidora transição ofensiva do Liverpool FC.
A primeira parte teve um ritmo alucinante. Com bola cá, bola lá, o Liverpool FC, bem ao seu estilo, mas órfão de Salah lesionado, era quem tinha mais bola e quem pensava mais o jogo, chegando com critério ao último terço do campo. Já o Manchester United FC, com De Gea recuperado, apresentou-se num sistema com três centrais, com Rojo (que deu uma grande resposta aos críticos, com uma exibição a roçar a perfeição) à esquerda, Maguire no centro e Lindelof à direita. Nas laterais, Young projetado à esquerda, Bissaka à direita, com McTominay e Fred no miolo.
No ataque, os meninos Rashford e James. O “ás” de Solskjaer chamava-se Andreas Pereira. O brasileiro era o elemento equilibrador de toda a estratégia do nórdico para este jogo, expondo toda a sua inteligência tática, tendo de interpretar quando devia integrar o meio campo a três e quando devia assumir uma posição mais avançada, juntando-se a James e Rashford.

Fonte: Manchester United FC
Com bola, a equipa desdobrava-se num 3-4-3 e, sem bola, num 5-3-2. A estratégia estava tão afinada e preparada que a equipa parecia um leque, sobretudo na primeira parte. A atacar não havia grandes cerimónias. Alexander-Arnold concedia espaço nas costas e a bola entrava muito mais vezes por ali, do que pelo lado de Robertson, com jogadores como Young, Fred, McTominay, Maguire ou James a jogarem (quase sem ver) direto sempre na mesma zona, sendo que Rashford não parava um segundo e arrancava ainda antes do passe. A equipa revelou tais automatismos, como se já tivessem jogado contra aquele adversário naquele sistema e com aquela estratégia por umas dez vezes.
Por falar em passes sem ver, que dizer do golo dos Red Devils? James, um autêntico achado vindo do Championship e, para já, o melhor reforço do MUFC desta época, levanta a cabeça, vê Rashford a atacar o primeiro poste, dando a entender que se ia antecipar a van Dijk (que é quase imbatível a atacar a bola e a sua zona), e, quando baixa a cabeça, Rashford trava a marcha e ataca o segundo poste… James nem viu esse movimento, mas meteu uma bola incrível ao segundo poste, anulando o efeito van Dijk e a permitir o, na altura, 1-0. Este golo revela trabalho de casa e revela toda uma qualidade de execução e inteligência de James e Rashford, que merecem ser admiradas.

Fonte: Manchester United FC
O golo fez mal aos Red Devils. Na segunda parte, deixaram de ter tanta presença ofensiva, recuaram e acabaram por sofrer o empate, num lance em que Young não fecha como lateral esquerdo e o mágico Lallana não facilita.
Na minha opinião, o MUFC não merecia ter sofrido o golo do empate. Primeiro, porque não tem nem metade da capacidade dos Reds, segundo, pelo empenho tático e por todo o potencial que a equipa evidenciou perante o rei da Europa.
Ole Gunnar Solskjaer ganhou algum crédito com esta exibição e jogadores como James e McTominay provaram, uma vez mais, que são o grande futuro deste Manchester United FC. Duas máquinas sub23, que revelam uma qualidade individual e uma inteligência coletiva, que os poderão colocar na elite do futebol europeu e mundial nas suas respetivas posições.
Foto de Capa: Manchester United
Artigo revisto por Inês Vieira Brandão