Um “diabo” sem chama

    É um “sonho” defender contra ele, dizia Rio Ferdinand em outubro de 2018. “Ele não se mexe, por isso sabes sempre o que ele vai fazer”. Romelu Lukaku vai na sua segunda época pelo Manchester United FC, um percurso que começou bem, mas cedo azedou. Estará o belga abaixo do escalão ou será que são os Red Devils que ainda não encontraram o sistema certo para ele?

    Chegado a Old Trafford do Everton Football Club, no verão de 2017, a troco de 85 milhões de euros, Lukaku registou 11 golos nos seus primeiros dez jogos. Um começo de sonho, mas que hoje parece tão distante. Desde então, o número nove do Manchester United apenas encontrou o fundo das redes mais 25 vezes com a camisola do histórico inglês. Um total de 36 golos em 77 partidas. Embora não tenha uma média terrível (quase meio golo por jogo), não é de todo uma média que justifique o seu preço. E, se é verdade que um jogador não escolhe a quantia que o clube paga por si, também é verdade que alguma da desilusão com Lukaku tem sido justificada.

    O avançado tem sido amplamente criticado por um certo défice técnico. E, até certo ponto, isto verifica-se. Lukaku tem-se revelado pouco capaz de proteger a bola, apesar do seu bom físico. Quando se encontra de costas para a baliza, raramente se consegue virar, e mesmo quando encara o adversário, acaba por perder o controlo do esférico antes sequer de enfrentar o defesa. O primeiro toque do belga tem sido de tal forma pouco eficaz que se tornou numa piada recorrente em comentários e discussões online. É um problema que apenas se tem exacerbado com a sua falta de confiança.

    Romelu Lukaku é a prova de que, nos níveis mais altos do desporto rei, a estatura física não é tudo
    Fonte: Manchester United FC

    Mas Lukaku apenas se via obrigado a enfrentar adversários ou a jogar de costas para a baliza porque o sistema de José Mourinho assim o ditava. Muitas vezes, o belga encontrava-se sozinho no terço defensivo adversário, sem opções de passe, com todos os seus colegas extremamente recuados. O jogo com o Sevilha FC, na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões do ano passado, é um exemplo primordial desta tendência. Sem qualquer tipo de apoio no ataque, Lukaku simplesmente não tinha tempo de construir uma jogada. Recebia a bola de Paul Pogba, que fazia um passe ainda antes do meio-campo, e, no meio de três ou quatro adversários, não havia físico que lhe valesse. Não havia também colegas de equipa que aproveitassem o espaço que ele criava ao atrair tantos defesas. Assim, Lukaku perdeu a bola variadíssimas vezes e acabou por ser um dos mais criticados em campo. Mas que poderia ele fazer numa situação destas? Não importa a qualidade do jogador quando este recebe a bola isolado perante a defesa adversária inteira. Contam-se pelos dedos de uma mão os jogadores que, ao longo da história do futebol, conseguiriam fazer alguma coisa numa situação dessas.

    Ole Gunnar Solskjær parece, para já, mais preocupado em devolver algum protagonismo a Paul Pogba e criar um sistema que permita ao francês ser o novo maestro de Old Trafford. Ainda não tem um mês no cargo, por isso não podemos tirar conclusões sobre o impacto que a sua chegada terá em Lukaku. Não obstante, o belga conta com três golos nos quatro jogos que fez desde que o norueguês chegou ao comando da equipa técnica. Solskjær parece querer incutir um estilo de jogo rápido e entusiasmante: aquilo a que os adeptos do Manchester United estão habituados. Prova disso foi a inclusão de Marcus Rashford, Anthony Martial e Jesse Lingard no XI inicial no último jogo contra o Tottenham Hotspur FC, em detrimento de Lukaku.

    Será esta decisão um presságio para o fim dos dias de Lukaku em Manchester? Ou será que Solskjær percebe que devolver o belga à sua melhor forma implica restaurar uma confiança que foi abalada no último ano pelos adeptos, pela imprensa e até pelo próprio José Mourinho?

    Com 25 anos, Romelu Lukaku ainda tem tempo para recuperar desta má fase. Ainda está para alcançar o seu auge físico, e poderá ser nessa altura que se tornará numa estrela em Old Trafford e justificará a quantia que os Red Devils pagaram por ele. O potencial está lá, e talvez a mentoria de um avançado histórico de Old Trafford seja precisamente aquilo de que ele precisa para o concretizar.

    Fonte: Manchester United FC

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    Gonçalo Taborda
    Gonçalo Tabordahttp://www.bolanarede.pt
    O Gonçalo vem de Sacavém e está a tirar o curso de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. Afirma que tem duas paixões na vida: futebol e escrita. Mas só conseguia fazer uma delas como deve ser, por isso decidiu juntar-se ao Bola na Rede.                                                                                                                                                 O O Gonçalo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.