SSC Napoli | Imparáveis, imbatíveis, invictos

    A evolução, o progresso e a confiança são os três alicerces daquilo que pode ser definido como sucesso. Os dois primeiros levam inevitavelmente ao terceiro, que acaba por surgir de forma natural e, uma vez presente, parece teimar em desaparecer.

    O famoso “parece que tudo lhes corre bem” é mais acessível na teoria do que na prática, e essa sorte dá muito mais trabalho do que aparenta. Para os mais desatentos, ou para aqueles que insistem em fazer parte desse nicho (quando o sucesso à sua equipa não diz respeito), os bons momentos não passam efetivamente de sorte, mas na perspetiva de alguém que se importa em analisar o fenómeno no seu estado mais puro, é fácil perceber que a sorte não é obra do acaso, e o sucesso muito menos.

    Presenciamos, ano após ano, um pouco espalhado por toda a parte, casos de uma competência extrema que parecem ter um único desfecho possível: o da vitória e do cumprimento (e até o excedente) dos objetivos inicialmente propostos. Talvez seja muito cedo para fazer previsões sobre o desfecho da temporada, mas acreditamos que seja, no mínimo, necessário, falar sobre a equipa que tem impressionado toda a Europa: o SSC Napoli.

    Liderada por Luciano Spalletti e pela sua equipa técnica, os napolitanos vão, passo a passo, ultrapassando todos os desafios que lhes são propostos, sejam eles de menor ou maior dificuldade. Olhando para o panorama geral e para aquilo que os factos nos mostram, é fácil perceber que as coisas estão a correr bem. Primeiro lugar no campeonato, com dez vitórias e dois empates, cinco pontos à frente do segundo classificado, a Atalanta BC. Em matéria de golos, são já 30 marcados em 12 partidas, o que dá uma média de dois golos e meio por jogo. Em contrapartida já sofreram nove, número que não é representativo de um sucesso defensivo extraordinário, mas que é bastante aceitável quando a equipa marca tanto e garante triunfos pelo dano que consegue causar no adversário.

    Como se o sucesso num campeonato tão competitivo quanto o italiano não bastasse, o Napoli tem estado ainda melhor (por difícil que pareça) na Liga dos Campeões, onde fez, até agora, uma prova verdadeiramente irrepreensível. Num grupo com Liverpool FC, AFC Ajax e Rangers FC, os italianos somaram cinco vitórias em cinco partidas, com 20 golos marcados e apenas quatro sofridos. Não sei se se apercebeu, mas isto dá uma média de quatro golos por partida, e estamos aqui a falar da melhor competição de clubes do mundo. Falta ainda um jogo contra a equipa inglesa (cuja primeira ronda ditou um surpreendente resultado de 4-1 a favor dos italianos), mas olhando para os outros dois confrontos diretos, os italianos levaram a melhor sobre o AFC Ajax por um total de 10-3 e sobre o Rangers FC por 6-0.

    A presença do técnico italiano nem sempre foi consensual, recordando o episódio de 12 de maio quando os adeptos roubaram o carro do treinador na tentativa de que este se demitisse. Cerca de cinco meses depois, as coisas parecem estar bem diferentes e torna-se difícil, mesmo para os mais orgulhosos, não admirar, no mínimo, o trabalho que está a ser feito.

    Se por um lado isto é bem evidente de que um treinador precisa das peças certas para fazer a sua ideia funcionar, também vem mostrar que as grandes conquistas não se fazem de um dia para o outro e que é preciso dar tempo para que o processo se forme, se desenvolva, e dê frutos, venham eles mais cedo ou mais tarde daquilo que é expectável.

    Spalletti passou, naturalmente, por uma fase complicada no Napoli, e está agora a conseguir colher tudo aquilo que vem semeando desde o início da temporada passada. Depois de sair do Inter de Milão, o técnico de 63 anos acabou por se afastar, durante duas temporadas, do futebol, e talvez aí tenha tirado um tempo para ele próprio tentar alcançar um entendimento do jogo que, até então, não tinha. Como acontece com a maioria dos casos de sucesso, as conquistas não foram imediatas, mas a realidade é que os napolitanos acabaram por conseguir um terceiro lugar, bastante melhor do que haviam conseguido nos anos passados.

    A aposta no técnico e nas suas ideias foi muito forte, e um outro resultado que não o primeiro lugar seria razão para despedimento em muitos outros sítios. Felizmente que assim não se sucedeu, e já antes da presente época arrancar o treinador continuou o planeamento de algo que poderia, finalmente, começar a dar frutos. Juntou aos talentos já existentes no Napoli – Anguissa, Lobotka, Politano, Zielinski, Lozano, Osimhen – nomes que se vieram a revelar simplesmente essenciais, como Ndombele, Raspadori, Simeone e, o mais falado do momento, Khvicha Kvaratskhelia. Spalletti percebeu efetivamente onde estavam os pontos fortes do plantel e, de forma cirúrgica, colmatou os pontos fracos, dando a esta equipa um equilíbrio que lhes vai permitindo “passear” perante qualquer desafio que encontrem.

    A ideia do futebol cínico característico de Itália parece não se encaixar bem nos ideais do treinador, que prefere ver a sua equipa dominar o jogo com bola, valorizando a constante rotação dos jogadores dentro de campo, não deixando ao adversário grandes referências de marcação. A qualidade das peças integrantes é, naturalmente, fundamental, mas também aí parece ser uma questão de total mérito do técnico, que mais pareceu adaptar o futebol às características dos jogadores do que o contrário. Nenhuma das opções é mais correta do que a outra, mas quando se lida com jogadores que não são, efetivamente, os melhores e mais exclusivos do mundo, talvez a opção de os forçar a fazer algo em que não se sentem confortáveis acabe por sair mais furada do que robusta. O Napoli tem um plantel de enorme qualidade, não é esse o ponto que tentamos aqui contrariar, mas há que ter a consciência de que não falamos, neste caso, de um Manchester City FC ou de um Paris Saint-Germain FC, que tem condições para jogar de inúmeras maneiras diferentes, face à qualidade e extensão dos seus planteis.

    Spalletti e a sua equipa técnica parecem ter encontrado a fórmula perfeita para fazer as coisas funcionar. Ainda assim, e eles mais do que ninguém saberão, que ainda estamos numa fase muito prematura da temporada, e é tão fácil ganhar uma confiança estratosférica como perdê-la quando as coisas não correm bem. Para já vão, sem grandes dificuldades, fazendo o seu trabalho de forma tranquila, prometendo continuar em grande plano, pelo menos até à paragem para o Campeonato do Mundo.

    São, a par dos parisienses, a única equipa que ainda não perdeu nas cinco principais ligas europeias, e esse é um estatuto que vão querer levar o mais longe possível. Sabem, no entanto, melhor do que ninguém que, embora não aparente, esse é um estatuto muito difícil de manter, uma vez que nem as melhores equipas do mundo conseguem estar sempre no seu auge. Há, por isso, uma enorme curiosidade sobre o que este Napoli poderá fazer, bem como uma enorme satisfação em ver um mítico do futebol italiano reaparecer depois de alguns anos de ausência dos grandes palcos.

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    Guilherme Vilabril Rodrigues
    Guilherme Vilabril Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    O Guilherme estuda Jornalismo na Escola Superior de Comunicação de Comunicação Social e é um apaixonado pelo futebol. Praticante desde os três anos, desde cedo que foi rodeado por bola e por treinadores de bancada. Quer ser jornalista desportivo, e viu no Bola na Rede uma excelente oportunidade para começar a dar os primeiros toques.