Quem tem culpa na crise do Bayern?

    Ainda estamos em novembro, mas o fim da hegemonia do Bayern München FC na Bundesliga parece mais provável que nunca. Em quinto lugar, a sete pontos do primeiro, o símbolo da Baviera está a ter um dos seus piores arranques de época de sempre. No futebol, a culpa nunca morre solteira e, neste caso, até tem vários pretendentes. Dos jogadores, ao treinador, à dirigência, há muitos responsáveis pelas dificuldades vividas no Allianz Arena.

    Sete. Este é o número de jogadores do Bayern de Munique que, nesta época, já marcaram um ou mais golos. Ora, esta estatística isolada não é particularmente negativa, mas quando temos em conta que a equipa marcou, para já, 20 golos no campeonato (em 11 jogos), percebemos que é sintoma de um problema maior. Isto porque, na época passada, o Bayern registou 92 golos nas 34 partidas que disputou. É quase o triplo da média de golos por jogo que apresenta este ano. Ainda que Robert Lewandoski tenha recuperado, após uns maus meses de agosto e setembro, jogadores como Thomas Müller e Arjen Robben têm-se mostrado muito menos eficazes na ofensiva bávara.

    Quem vê as estatísticas, vê menos golos, menos dribles e menos passes completados. Quem vê os jogos, vê uma equipa que parece ter todos os componentes que já fizeram dela campeã seis épocas consecutivas, mas que simplesmente já não se ligam da mesma maneira.

    E na defesa, os problemas são igualmente gravosos. Os jogadores com melhor média de cortes por jogo são Thiago Alcântara e Javi Martínez, ambos médios. Os números de Boateng e Hummels estão muito abaixo do que se viu o ano passado, assim como a sua concentração em campo, segurança na altura de construir o ataque e coesão posicional. Na baliza, Manuel Neuer, após regressar, em maio, de uma lesão de oito meses, não parece ter a mesma confiança e o decréscimo de rendimento dos defesas não é desculpa para todos os golos que sofreu até agora (14, só na Bundesliga).

    Neuer é, nesta época, o quarto guarda redes da Bundesliga com menos defesas
    Fonte: FC Bayern München

    E o homem que comanda este batalhão desnorteado, será dele a culpa? Niko Kovač chegou no início desta época a Munique, vindo do Eintracht Frankfurt. Ex-jogador do Bayern (2001-2003), Kovač não tinha tarefa fácil: substituir Jupp Heynckes, que dera ao clube uma Liga dos Campeões e quatro Bundesligas, nunca seria fácil. O facto é que, entre 25 de setembro e 8 de outubro, o símbolo bávaro fez quatro partidas, das quais não ganhou nenhuma, e desceu para o sexto lugar do campeonato. No fim de semana passado, quando parecia numa fase crescente, am spós cinco vitórias eeis jogos, o Bayern vacilou perante o Borussia Dortmund, perdendo por 3-2 (esteve a ganhar 1-0 e 2-1) e, com as vitórias do RB Leipzig e do Eintracht Frankfurt, acabou por descer para quinto lugar, ficando a sete pontos do primeiro, ocupado pelo próprio Dortmund.

    12 vitórias, 3 empates e 3 derrotas. É este o registo de Kovac no Bayern, para já
    Fonte: Eintracht Frankfurt

    O dedo foi imediatamente apontado a Kovač, sobretudo, por causa da não utilização de James Rodríguez nesse jogo. E enquanto essa opção é, de facto, questionável, dada a forma do colombiano, não será que aquilo com que Kovač tem de trabalhar, a equipa que herdou de Jupp Heynckes, também pode estar a ter efeito na sua má adaptação ao novo clube?

    O Bayern tem, atualmente, a média de idades mais baixa da Bundesliga (28 anos e 66 dias). Dos 11 jogadores que ganharam a final da Liga dos Campeões em 2013, sete ainda são regularmente titulares (Neuer, Jérôme Boateng, Robben, Franck Ribéry, Müller, Alaba e Javi Martínez). Os extremos mais utilizados, Robben e Ribéry, têm 34 e 35 anos, respetivamente. Como já se disse antes, quem vê o Bayern a jogar, vê uma equipa que sabe jogar, sabe o que tem de fazer, mas à qual falta alguma coisa. E, em termos leigos, o que falta é juventude.

    Maior disponibilidade física. Apesar da qualidade dos jogadores, o tempo é o tempo; e com ele vem uma baixa inevitável de rendimento do corpo. A direção de Karl-Heinz Rummenigge não parece interessada em apostar nos jovens. Trouxe Leon Goretkza, Serge Gnabry e Renato Sanches (este último a voltar de empréstimo) no verão, mas poucos têm sido os seus minutos de jogo. Juntando isto a uma academia que pouco tem produzido nos últimos anos – com Joshua Kimmich a ser a exceção que merece o maior destaque -, é difícil perceber Rummenigge, quando este diz que o Bayern tem “uma mentalidade diferente” da dos outros clubes na Europa. “Comprar só para agradar aos fãs não resulta”, diz. Tudo certo: em equipa que ganha não se mexe. Mas, e quando a equipa deixar de ganhar?

    Ainda estamos em novembro, é verdade. O Bayern München FC estará, inevitavelmente, na disputa pelo título de campeão alemão. Tanto pela competitividade do seu plantel, que conta com campeões Mundiais, Europeus (não é, Renato?) e muito mais, como pelo próprio ADN do clube, da estrutura e dos adeptos. Mas a altura de mudar não está a chegar, porque já passou. É hora de fechar a era Jupp Heynckes, que, mesmo na sua ausência, entre 2013 e 2017, esteve bem presente, e começar uma nova, sob a alçada de Niko Kovač, um treinador talentoso, no qual Rummenigge vai ter de confiar.

    Foto de capa: FC Bayern München

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    Gonçalo Taborda
    Gonçalo Tabordahttp://www.bolanarede.pt
    O Gonçalo vem de Sacavém e está a tirar o curso de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. Afirma que tem duas paixões na vida: futebol e escrita. Mas só conseguia fazer uma delas como deve ser, por isso decidiu juntar-se ao Bola na Rede.                                                                                                                                                 O O Gonçalo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.