Messi, Ronaldo… e os outros

    Eu sei que é um tema gasto; aliás, mais do que gasto, é um tema consumido e digerido até à exaustão. Não vou sequer percorrer esse caminho tão susceptível e melindroso que é a pergunta Messi ou Ronaldo? Porém, há questões que ainda podem ser colocadas, há perspetivas que ainda podem ser analisadas e, não menos importante, há comparações que ainda se podem fazer.

    A primeira questão serve para nos enquadrarmos na ordem cronológica do “quando é que isto começou”. Exactamente quando é que Ronaldo e Messi se tornaram na realeza do futebol mundial e elevaram a fasquia do “melhor do mundo” a um nível nunca antes visto?!

    Ronaldo e Messi / Fonte: i.telegraph.co.uk
    Ronaldo e Messi / Fonte: i.telegraph.co.uk

    Dou asas ao meu patriotismo e começo por Ronaldo. Quando se transferiu do Sporting para o Manchester United, em 2003, Ronaldo estaria longe de imaginar (ou talvez não) que na temporada de 2007-2008 marcaria um total de 42 golos em 49 jogos, distribuídos pela Liga Inglesa, FA Cup, Taça de Inglaterra e Liga dos Campeões, perfazendo uma média 0,86 golos por cada jogo, muito distante da época anterior, na qual tinha “apenas” marcado 23 golos em 53 jogos. Portanto, no caso do avançado português, poderá dizer-se que foi na referida temporada que exerceu um domínio assombroso sobre a coroa do futebol, ano em que, aliás, foi galardoado com a merecidíssima Bola de Ouro, atribuída pela revista francesa France Football.

    A verdade é que Ronaldo, no ano seguinte, voltou a baixar consideravelmente a sua média de golos e só regressou aos números do emblemático ano da Bola de Ouro quando se transferiu para o Real Madrid em 2009-2010. Mas já lá vamos.
    Quanto a Messi, o astro do Barcelona, o percurso é em tudo semelhante ao do português CR7, no que toca aos golos, obviamente. Senão vejamos: em 2007-2008 Messi jogou um total de 40 partidas, distribuídas pela Liga Espanhola, Copa Del Rey e Liga dos Campeões, e marcou um total de 16 golos. Contudo, na época seguinte, em 2008-2009, o argentino abanou as redes adversárias por 38 vezes em 51 jogos, terminando a época com uma média de 0,75 golos por jogo. Um facto curioso é que nesse ano o conjunto blaugrana venceu a maior prova de clubes do mundo precisamente frente ao Manchester United de Cristiano Ronaldo.

    Cristiano Ronaldo / Fonte: ronaldo7.net
    Cristiano Ronaldo / Fonte: ronaldo7.net

    Passámos assim para a segunda fase da cronologia que teve início após o internacional português ter protagonizado a maior transferência do futebol e aterrado em Madrid. De uma forma muito simples, Ronaldo e Messi, desde 2009 até ao dia de hoje, marcaram juntos cerca de 457 golos em 436 jogos. Para percebermos o real impacto que ambos têm na Liga Espanhola, basta ver que, desde a temporada de 2009-2010, foram marcados 4439 golos em 1600 jogos, por todas as 20 equipas que compõem o campeonato dos nuestros hermanos. Neste bolo, a fatia de golos de Messi e Ronaldo é de 10,3%., ou seja, em cada 10 golos marcados na Liga Espanhola um é de Ronaldo ou de Messi. Verdadeiramente notável e único.

    Não há, em mais nenhuma liga do mundo, dois jogadores que tenham tanta influência no desfecho de cada partida.

    É por esta razão que sempre que surgem comparações sobre “quem é o melhor”, estas perturbam a minha serenidade e bom senso. A questão, meus amigos, está errada. A questão deve ser feita de outra forma: “Quem tem audácia, capacidade e talento para atingir tal grandeza?” Quem é capaz de se elevar tão alto na tentativa de igualar as duas maiores figuras do futebol mundial sabendo que, à partida, está condenado ao insucesso?! Gareth Bale e Neymar surgem instintivamente ao pensamento, mas não creio. Atenção: não duvido da qualidade de ambos e da importância que vão ter, futuramente, nos respectivos clubes, mas na Liga Espanhola, e no Universo Futebol, há Messi, há Ronaldo, e depois há os outros. E esses, apesar de tudo, ainda estão a anos-luz de distância das duas grandes estrelas do Barcelona e Real Madrid.

    E, desta forma, levei-me automaticamente à última e mais importante questão: “Até quando?!” Até quando vai existir uma discrepância e desigualdade tão visíveis para a restante comunidade de jogadores?! Essa deixo em aberto, primeiro porque é impossível avançar uma data em geral, quanto mais específica, e, segundo porque da mesma forma que uma criança, ilusoriamente, tem esperança que o Natal nunca acabe, eu desejo que Ronaldo e Messi nunca mais acabem, que fiquem – como vão com toda a certeza ficar – para a eternidade no Olimpo do futebol.

    A nós, comuns mortais, cabe-nos apreciar e congratular os deuses do desporto rei por tamanha oferenda.

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