Quando o jogo circula pelas alas, Fabinho, normalmente descaído sob o lado direito, “vigia” Bernardo Silva, Bakayoko, no lado esquerdo do centro do terreno, é o “encarregado” de Lemar. Quando a bola passa pela zona central, a dupla responsável tanto pode assumir tarefas de construção, como “guardar” as acções de Mbappé, um pêndulo ofensivo que gosta mais de circular sobre a esquerda, mas que também arranca desde a direita, daí convocar a atenção dos dois.
Esta vigia, porém, não é estanque. As subidas dos laterais Sidibé (direita) e Mendy (esquerda) são capazes de a reforçar, porém são mais as vezes em que dão trabalho redobrado a Fabinho e Bakayoko do que aquelas em que o facilitam.
Pode-se dizer que, ao juntar Fabinho e Bakayoko no meio-campo, focando-os para as prováveis perdas de bola da sua equipa, Jardim libertou os melhor dos aromas das flores que tem à sua disposição.
Permitiu que Bernardo Silva desse duas voltas sobre um adversário antes de sair a jogar, deixou que Mbappé (caso sério!) fizesse diagonais no sentido da baliza ou que Lemar partisse para o 1×1 para tentar uma linha de passe mais objectiva.
Eles sabem que podem expressar todo o talento sem medo das consequências que isso pode trazer, e o resultado está à vista: o Mónaco, para além de ser o líder da Liga Francesa com 87 (!) golos em 30 jornadas (agradece Falcao, renascido, Guido Carrillo, Germain ou outro que ocupe o lugar de referência de área), à frente de um PSG que se julgava imbatível, está na final da Taça da Liga de França, nos quartos-de-final da Taça de França e, claro, da Champions (nunca mais chegam os jogos com o Dortmund!).
Perante calendário tão vasto e jogadores que, pela sua natureza repentista, são propensos a lesões, será possível ao Mónaco aguentar esta intensidade? É difícil, até porque Boschilia e Carrillo, apesar de excelentes soluções, têm tido problemas com lesões, restando apenas Dirar para ajudar à fantasia dos miúdos da frente.
Caso Boschillia e Carrillo consigam fazer uma reta final sem défice físico e desde que não se perca o tal duo do meio-campo, ou as dinâmicas dele (Moutinho tem a inteligência tática necessária para as manter), o facto de o plantel monegasco ser pouco vasto pode ser disfarçado e caminhar-se para uma época lendária.
Foto de capa: Daily Mail