5 ex-“novos Messi”: Bendição ou maldição?

    Lionel Messi é um jogador marcante na história do futebol. Alguns atletas, a partir de um certo momento, começaram a ser apelidados de seus sucessores. Será que funcionou?

    Lionel Messi é considerado por muitos o melhor futebolista de toda a história. O único que chegou às oito Bolas de Ouro e com um palmarés recheado de títulos para todos os gostos. Não é um fenómeno sequer anual o aparecimento de tais joias, é algo muito raro, no entanto, foi inevitável a criação do termo “novo Messi”. Porém, o que é isso? É um elemento que se destaca em sua determinada equipa, aparecendo muito jovem e conseguindo fazer a diferença, como Messi fez no seu tempo. Associar promessas de La Masia a esta designação também foi usual, porém perdeu-se um pouco no tempo, diluída em certos insucessos.

    Foram tantos os elementos indicados a ser o sucessor de Messi, que o termo passou a ser conotado como negativo, já que só nos lembrávamos dos tais “novos Messis” quando os mesmos não tinham sucesso. Porém, surge aqui um problema. Afinal, quem teve sucesso quando comparado com o astro argentino? No máximo, transformaram-se em atletas que realizaram/realizam boas carreiras, mas sempre muito longe do que Lionel Messi fez. Foram dezenas de nomes relacionados com este apelido, desde a casos de maior sucesso, como Mohamed Salah, até elementos desconhecidos do grande público, como Daniel Bode ou Stanley Okoro.

    Antes de indicarmos uma pequena lista de “novos Messis” vale a pena referir que por vezes não é positivo para o atleta ser conotado de tal forma. É muita pressão, já que são analisados por todo o mundo, quer scouts, quer médio de imprensa, o que pode afetar o desempenho do jovem jogador, que ao ter 18/19/20 anos, ainda está a ser moldado a todos os níveis, físico, psicológico, como futebolista e inclusivamente como indivíduo. Em certos exemplos, não haja dúvidas que foi a pressão de ser um “novo-Messi” que determinou o fracasso.

    5.

    Deulofeu com a Udinese
    Fonte: Twitter Gerard Deulofeu

    Gerard Deulofeu- Gerard Deulofeu foi mais um canterano do FC Barcelona, que surgiu no mundo do futebol no começo da década passada. As expectativas eram altas, com a sua estreia na equipa principal dos blaugrana a acontecer em 2011/12, aos 17 anos de idade. O extremo espanhol nunca conseguiu reais oportunidades e acabou por ser cedido a dois clubes: Everton FC e Sevilla FC. A passagem pelo emblema andaluz foi terrível e de fácil recordação, porque foi um dos elementos mais fracos da La Liga nessa temporada. Ainda assim, Deulofeu conseguiu recompor a sua carreira. Rumou aos toffees em definitivo e brilhou em 2015/16, de tal forma que o AC Milan garantiu o seu empréstimo. O crescimento do atleta fez inclusivamente que o Barcelona o contratasse novamente, por 12 milhões de euros, mas passou somente meia temporada em Camp Nou, terminando por rumar ao Watford, no verão de 2017.

    Hoje em dia, aos 29 anos de idade, Gerard Deulofeu é um jogador feito, representa a Udinese Calcio (onde chegou em 2020/21) e é um dos capitães de equipa, apesar de assolado por lesões. O espanhol admitiu que ser rotulado de “novo Messi” não lhe fez bem à carreira:

    «Torna a vida difícil tentar corresponder a expectativas impossíveis. É muito difícil tentar crescer como jogador. Aprendi muito, sobretudo quando, aos 16 anos, me disseram para treinar com a equipa principal do Barça. O que era óbvio era que eles conseguiam aguentar a pressão – eu não».

    4.

    DIego Lainez SC Braga
    Fonte: SC Braga

    Diego Lainez- Diego Lainez é um nome familiar para o público português, mas já lá vamos. O mexicano ainda tem apenas 23 anos, mas já se percebeu que nunca chegará ao patamar de Lionel Messi, nem perto. O extremo, esquerdino como o jogador do Inter Miami CF, começou a brilhar ao serviço do Club América, do seu país. Aos 16 anos já atuava na equipa principal, o que acabou por chamar a atenção do Real Betis Balompié, que gastou 12 milhões de euros, em 2018/19. Os adeptos do emblema de Sevilha estavam entusiasmados com a sua chegada:

    «Diego tem um grande potencial como jogador e é normal que tenha de se adaptar ao futebol europeu. É normal que tenha de se adaptar ao futebol europeu, que é muito agressivo e, pouco a pouco, esperamos que ele seja o novo Messi», afirmou José Manuel, que na época queria criar uma Peña (espécie de núcleo) do Betis, no México.

    A verdade é que Lainez nunca arrancou, por mais oportunidades que lhe tenham sido dadas. Manuel Pellegrini não conseguiu retirar do mexicano o melhor dele, acabando por desaparecer dos onzes iniciais, levando-o a ser cedido, em 2022/23. O clube que o acolheu é o SC Braga, nascendo a coligação Lainez-Portugal. O extremo foi recebido com altas expectativas, mas voltou a defraudar quem tanto esperava dele. Foram 13 jogos, com dois golos e duas assistências, acabando por regressar ao México em janeiro de 2023, onde está até hoje, no Tigres UANL, já em definitivo, com poucas chances de ter uma nova oportunidade na Europa a curto prazo. De facto, o SC Braga saiu-se melhor, com a chegada de Bruma, poucas horas depois da saída de Lainez.

    3.

    Alen Halilovic Fortuna Sittard
    Fonte: Fortuna Sittard

    Alen Halilovic- Encaramos nesta lista o primeiro da mesma. Se Lainez e Deulofeu ainda não saíram de campeonatos protagonistas, ou de onde são naturais, Halilovic já esteve em várias nações, sem deixar qualquer tipo de saudades.  Após ter assumido a batuta do GNK Dínamo Zagreb, o Barcelona decidiu ar uma oportunidade ao menino croata, em 2014/15, para atuar na equipa B. A temporada mediana que realizou ao serviço da turma de Eusebio Sacristán, levou a que Halilovic fosse cedido ao Real Sporting, alcançando a manutenção na La Liga, tendo feito 37 jogos, com cinco golo e cinco assistências.

    O Hamburguer SV não perdeu tempo e pagou cinco milhões de euros ao Barcelona por um elementos que ainda era considerado uma promessa. No entanto, foi aqui que começou o declínio de Halilovic. Depois disto, nunca mais foi indiscutível em uma equipa, nem o destaque do plantel (teve, a espaços, bons momentos no Las Palmas). Ainda passou pelo AC Milan, numa transferência que é complicada de explicar, já que somente realizou três jogos. Num total, Halilovic já representou 12 equipas: Dínamo Zagreb, Barcelona, Sporting Gijón, Hamburgo, Las Palmas, AC Milan, Standard Liège, SC Herenveen, Birmingham City FC, Reading FC, HNK Rijeka e Fortuna Sittard, onde aterrou no verão de 2023, mas onde não soma números de sonho (10 jogos, um golo, uma assistência).

    O próprio Halilovic, em 2014, fez alguns elogios a Lionel Messi (a quem nunca gostou de ser comparado) e disse uma grande verdade:

    «Admiro o Leo, mas estou muito longe da sua qualidade», afirmou em entrevista à UEFA. Quase dez anos depois, esta frase mantém-se fresca, porque Halilovic não foi Messi e nunca será.

    2.

    Ryan Gauld jogador
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Ryan Gauld- O mítico Messi escocês. Este é o caso que os adeptos portugueses, principalmente os sportinguistas puderam acompanhar de mais de perto. Ryan Gauld chegou ao Sporting CP em 2014/15, proveniente do Dundee United. Após duas temporadas de qualidade na equipa B, foi emprestado ao Vitória FC, ao CD Aves e ao SC Farense, em Portugal. Ainda esteve cedido ao Hibernian FC . Em nenhum dos casos, Ryan Gauld mostrou ser um mau jogador, bem pelo contrário. O escocês nunca caiu no goto de Jorge Jesus, o que lhe dificultou imenso a tarefa (e a tantos outros) de poder jogar na equipa principal do Sporting com relativa regularidade.

    Quem aproveitou foi o Farense, que fechou com ele em definitivo, tornando-o no protagonista da equipa de Faro, entre 2019/20 e 2020/21. Já longe de ser reconhecido como um “novo Messi”, Gauld transformou-se num craque do meio campo, acabando por rumar à MLS, mais concretamente aos Vancouver Whitecaps, onde atingiu o apogeu em 2023: 41 jogos, 12 golos e 18 assistências. Curiosamente, é um dos rivais de Lionel Messi no prémio de MVP da MLS, algo que poucos imaginariam no dia em que Bruno de Carvalho o tirou do Vitória FC (janeiro de 2017), após mais uma polémica alimentada pelo antigo presidente dos leões.

    «Esta temporada teve altos e baixos. A começar, tive aquilo que queria: experiência na Primeira Liga, para ver se conseguia aguentar, e depois o empréstimo foi encurtado, o que foi frustrante», afirmou Ryan Gauld à BBC, no final de 2016/17, época que pode ter mudado a carreira do internacional escocês. Aos 27 anos de idade, ainda terá tempo para regressar à Europa, mas a comodidade que apresenta no Canadá, faz-nos pensar que isso não irá acontecer em breve.

    1.

    Bojan Krkic com Joan Laporta
    Fonte: Twitter Bojan Krkic

    Bojan Krkic- A lista teria que ser fechada com este nome. Bojan Krkic foi o primeiro “novo Messi” que apareceu e provavelmente o jogador em que foram mais depositadas mais expectativas neste século. O espanhol brilhou na equipa B do Barcelona nas temporadas de 2005/06 e 2006/07, além de ter estado a um bom nível na turma principal, entre 2007 e 2010. Porém, 2010/11 representa o começo do declínio de Bojan na Cidade Condal. Com Pep Guardiola a fechar o ataque com Messi, Villa e Pedro, deixou de haver tanto espaço para Bojan, que acabou por sair no verão seguinte para a AS Roma, onde não foi igualmente extraordinário. A partir daí, duas passagens que poucos se recordam: AC Milan e AFC Ajax. Em seguida, conseguiu fixar-se no Stoke City FC, mas sofreu algumas lesões, que nunca possibilitaram que atingisse o seu prime.

    A carreira de Bojan é sobejamente conhecida e analisada. Após o final da sua passagem pelo Britannia Stadium (esteve emprestado ao FSV Mainz 05 e ao Deportivo Alavés durante a mesma), terminou por representar o Montreal Impact, em 2019 e 2020 e o Vissel Kobe, em 2021 e 2022, encerrando a sua carreira de futebolista, estando neste momento na estrutura do Barcelona. Tal como Halilovic, é um globe-trotter.

    Apesar de nunca se ter estabelecido na elite, Bojan Krkic merece ser ouvido, já que abordou a sua carreira e as comparações, em entrevista à ESPN:

    «Toda a gente é livre de colocar essa pressão sobre outra pessoa. Isso já aconteceu e vai continuar a acontecer. É preciso ter consciência de que, quando se joga em equipas como o Barcelona, um dos maiores clubes do mundo, a idade é o menos importante. O requisito é ser bom, jogar, ganhar, e é isso que implica. As coisas exteriores não têm nada a ver com o jogador ou com o jovem que está a passar por essas emoções. O que é da sua responsabilidade é a forma como gere esta pressão externa, como se pode armar para compreender o momento de desenvolvimento em que se encontra, para compreender que todos os rótulos que lhe são colocados não correspondem ao que pensa de si próprio. Isso depende do jogador, bem como do seu círculo íntimo, em termos de como se sente nessa situação».

    O antigo jogador, atualmente com 33 anos, afirmou que não é positivo o apelido “novo Messi”:

    «Penso que sempre foi assim e continuará a ser assim. É um reflexo da sociedade. Queremos tudo no momento, não damos valor ao que temos e não nos valorizamos. Às vezes damos mais valor à pessoa que está ao nosso lado e isso às vezes tira-nos a satisfação que poderíamos ter se sentíssemos e observássemos o que cada um de nós tem. Dito isto, também não percebo muito bem a necessidade de encontrar ou querer encontrar o “novo Messi” ou, antes do Messi, o “novo Ronaldinho”. Porque, no final, cada um de nós está a perder a essência do que aquele jogador pode vir a ser, que não tem nada a ver com outro e a beleza disto é que é assim».

    Bojan Krkic pode até ser considerado o “novo Messi” que conseguiu cair mais a pique, já que terminou a sua carreira bastante cedo, mas a sua opinião, possivelmente reflete-se em todos aquelas que já foram designados de “novos-Messis”. Lionel Messi somente existiu um, provavelmente não aparecerá alguém sequer parecido nas próximas décadas. Cada atleta tem as suas próprias caraterísticas e em certos casos uma comparação tão “pesada” não faz sentido e pode até mesmo ser injusta, estagnando o atleta, que ainda tem tudo para viver.

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