5 jogadores fora das grandes ligas que podem dar o salto

    O futebol, à semelhança da sociedade, encontra-se cada vez mais globalizado. Retirando os problemas da perda de identidade da equação – apesar da sua relevância – a globalização da bola de futebol permitiu o crescimento do desporto pelo globo. Com o crescimento do futebol e do investimento feito um pouco por todo o mundo, aumentou também a qualidade de jogadores talentosos descobertos em palcos até então alternativos.

    Uns mais que outros, esta lista reúne alguns dos principais talentos que, fora de Portugal e das ligas top-5 da Europa se têm destacado e que podem dar o salto e subir o nível. O melhor elogio a esta lista é mesmo a ausência de tantos nomes que por cá poderiam – e deveriam – ser destacados.

    Desde os mercados mais históricos aos que nos últimos anos têm ganho relevância, estes são cinco jogadores que se destacam fora dos principais palcos, mas cuja situação pode estar para mudar muito em breve.

    1.

    Anatoliy Trubin (FK Shakhtar Donetsk) – Como qualquer bom onze, a lista começa pela baliza. O Shakhtar Donetsk é um dos clubes mais bem geridos na Europa de Leste e tem mantido uma política constante e identitária na gestão do clube.

    Os conflitos bélicos desumanos que marcam o dia-a-dia ucraniano refletem-se no clube que abalou por razões muito superiores ao futebol. A grande ligação do clube ao futebol brasileiro está mais distante, mas a aposta na formação e no muito talento que existe em solo ucraniano não mudou.

    Trubin é uma das maiores promessas da Europa no geral, e da Ucrânia em particular no que à baliza diz respeito. E na sua evolução é preciso regressar uns anos atrás para identificar dois treinadores importantes na sua carreira. Luís Castro, pela aposta num jovem com apenas 18 anos, e Roberto De Zerbi, que revolucionou a principal qualidade de Trubin.

    O ousado treinador italiano que vai dando cartas em solo inglês treinou Trubin em 2021/22 enquanto o som das bombas não se elevou ao som dos adeptos e elevou o patamar de Trubin. Desde cedo que se percebeu o talento no jogo de pés de Trubin, mas De Zerbi aprimorou a capacidade técnica do ucraniano para colocar a bola com uma capacidade enorme em entender os momentos do jogo, em atrair a pressão e em identificar o homem livre. A reunião das duas torna o guarda-redes num dos melhores do mundo neste quesito. É também muito forte entre os postes com bons reflexos e fora destes no controlo aéreo da pequena área e da profundidade. Aos 21 anos pode dar o salto. Recentemente tem sido associado ao Inter de Milão e dificilmente seria possível encontrar casamento mais perfeito. Substituiria Onana, um jogador com tanto estatuto também pelo jogo de pés, numa equipa que precisa de um guarda-redes confortável sob pressão e num campeonato onde a superação da pressão adversária é tão importante e relevada.

    2.

    Gustav Isaksen (FC Midtjylland) – Apesar da maior atenção mediática nos últimos anos, o futebol nórdico continua a ser um dos palcos alternativos com maior concentração de jogadores talentosos a preços baixos.

    O Midtjylland é, à semelhança de outros clubes dinamarqueses, um clube com crescimento sustentado, assente na prospeção de talentos locais com mercados fora do radar, nomeadamente o africano. A parceria com o Mafra, clube que milita na segunda divisão portuguesa, aproximou o clube a Portugal e trouxe, por exemplo, Ousmane Diomandé para as terras de Camões.

    Gustav Isaksen é um dos produtos da escola do Midtjylland. Fez a formação no clube dinamarquês e é, há já alguns anos, a principal referência técnica do clube dinamarquês que perdeu várias peças importantes no último ano como Evander, Raphael Onyedika ou Anders Dreyer. As perdas traduziram-se numa equipa menos completa, mas permitiram a Isaksen agarrar protagonismo como estrela maior.

    Esquerdino a partir da direita, destaca-se pela agressividade na condução e, principalmente pelo sentido de baliza. Isaksen é a prova que não é preciso ser ponta de lança para se ser a referência goleadora e é uma garantia de golos a partir de posições menos centrais. Não é propriamente um extremo que gosta de jogar perto do corredor, mas um avançado interior com diagonais fortes, competente a aparecer na área para finalizar e com um recurso que o torna imprevisível: a ambidestria. Apesar de esquerdino, Isaksen é também muito forte com o pé direito, garantindo imprevisibilidade na condução de bola e no remate, ao dificultar a tarefa do defesa, que nunca sabe qual o pé que o dinamarquês procurará.

    Já podia ter dado o salto há alguns anos, mas depois de uma temporada com 22 golos e sete assistências em 45 jogos parece difícil imaginar um cenário em que o Midtjylland o consiga agarrar. Ainda que sem grande força, foi recentemente associado ao AC Milan que acabou de garantir Pulisic.

    3.

    Mohammed Kudus (AFC Ajax) – Por falar em futebol dinamarquês, Kudus é o principal produto da política de formação e de aposta no desenvolvimento do futebol africano de um dos rivais do Midtjylland. O Nordsjaelland, parte do grupo “Right to Dream” é o expoente de um dos projetos mais interessantes no futebol.

    Liderado por Tom Vernon, um nome importante no que toca ao scouting do Manchester United, o projeto tem uma academia no Gana que, além de jogadores profissionais, pretende lançar cidadãos conscientes para a sociedade e para o mundo académico. Além do futebol masculino já apostou no futebol feminino e é a justificação para a chegada de nomes como Ernest Nuamah, Kamaldeen Sulemana ou Mohammed Kudus ao futebol nórdico.

    Kudus saiu da Dinamarca já há três temporadas, numa transferência que se adivinhava promissora para o Ajax, clube com uma filosofia de aposta em jovens, e onde teria espaço para se mostrar em competições europeias. Uma lesão atrasou o desenvolvimento de Kudus, mas na última temporada, apesar do baixo nível exibicional dos neerlandeses, Kudus voltou a destacar-se na plenitude. Pelo meio, uma grande prestação no Mundial, apesar da eliminação precoce.

    Pode jogar em qualquer uma das posições do meio-campo ofensivo para a frente (inclusive como um nove móvel) fruto da qualidade. Posiciona-se entrelinhas, roda sobre o adversário e tem facilidade imensa na condução em velocidade. Fisicamente é diferenciado e tecnicamente superlativo, destacando-se como um agitador de partidas e sendo capaz de criar oportunidades só por si. Tem capacidade de chegada a área e uma boa meia-distância, garantindo golos.

    Num Ajax longe da estabilidade a que nos habituou, Kudus deve procurar novo clube para prosseguir carreira. O rumor mais forte é o do Brighton e os astros do futebol sorriem com a possibilidade de ver o ganês nas mãos de Roberto De Zerbi. A Premier League parece o terreno ideal para Kudus se afirmar e uma equipa capaz de entrar no meio-campo adversário tantas vezes em igualdade ou em vantagem numérica beneficiaria o seu jogo.

    4.

    Dor David Turgeman (Macabbi Tel Aviv FC) – É o representante na lista da nova geração israelita que acumulou boas prestações nos campeonatos de formação nos últimos anos. Chegou à final no Europeu Sub-19 e às meias-finais no Mundial Sub-20 e no Europeu Sub-21, já este ano, garantindo a presença na próxima edição dos Jogos Olímpicos.

    Oscar Gloukh já saiu de território israelita e é um dos nomes a acompanhar num Red Bull Salzburg que acumula sempre muito talento, mas não é o único nome israelita a ter debaixo de olho. Na geração israelita mais promissora de sempre é necessário ter em conta todo o potencial de jogadores como Stav Lemkin, Ilay Madmon e Dor Turgeman.

    Tal como os nomes previamente mencionados ainda atua no país natal. Joga no Macabbi Tel Aviv que procura o acesso à Liga Conferência e, aos 19 anos, teve na última temporada a verdadeira época de estreia na equipa principal do clube, depois de um empréstimo ao Beitar Ramla.

    É um avançado moderno, com muitos atributos a jogar em apoio, permitindo à equipa subir em posse e segurando a bola. Tem capacidade técnica no drible – é delicioso o golo que eliminou o Brasil do Mundial Sub-20 – e faro para o golo. Numa equipa de jogadores com mentalidade associativa terá sempre espaço para brilhar.

    Para acompanhar está naturalmente, a profissionalização da geração no que ao futebol de seleções diz respeito – na próxima edição, Israel fará parte da Divisão A (a mesma que Portugal na Liga das Nações) –, bem como no futebol de clubes. Já foi associado ao Benfica e, embora o negócio não deva passar pelas águias, Dor David Turgeman não deve continuar por muito mais tempo em Israel. Também não deverão ser poucos os interessados nos seus serviços.

    5.

    Hans Vanaken (Club Brugge KV) – Contraria a tendência dos restantes jogadores da lista pela idade. Hans Vanaken tem 30 anos e pode ter nesta janela de transferências a última oportunidade para dar o salto na carreira e jogar pela primeira vez fora da Bélgica.

    Entre a odisseia na Liga dos Campeões e uma época menos conseguida eternamente, o Club Brugge vai iniciar a temporada a tentar garantir a presença na Liga Conferência, contribuindo para mais um ano que a Bélgica quer positivo no que diz respeito à soma de pontos para o coeficiente da UEFA (na temporada passada encerrou o top-5).

    Apesar da temporada irregular e de já ter perdido dois dos principais jogadores (Noa Lang e Clinton Mata), o Club Brugge pode lutar por um regresso ao título belga e por uma corrida por fora na Liga Conferência. Vanaken, referência do clube desde 2015/16, será certamente importante nas aspirações belgas.

    Com 1,94 metros apresenta um perfil curioso. Não é vulgar ver jogadores tão altos com tamanhos argumentos técnicos. Vanaken pode atuar em qualquer altura do meio-campo – em jogos menos conseguidos coletivamente costuma procurar maior influência nas primeiras fases de construção, como vértice à frente da defesa –, mas ganha preponderância como médio de chegada à área. Tem constantemente bons números de golo pela influência no último terço e pela capacidade no remate. Em oito épocas no Brugge apenas numa não atingiu a barreira dos 10 golos (ficou-se pelos nove).

    No passado verão foi muito associado a uma transferência para o West Ham United por apenas 10 milhões de euros. O Club Brugge não quis vender Vanaken e o médio acabou por continuar na Bélgica, onde vai construindo um legado bonito. Nesta janela de transferências e aos 30 Vanaken deverá ter de tomar uma decisão: dar o salto para uma liga superior naquela que pode ser a última oportunidade da carreira, ou continuar em Brugge onde já é ídolo do clube.

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