A CRIS€ do futebol turco

    Longe de ser motivo habitual de grande destaque, a liga turca ganhou nos últimos tempos especial relevância pela negativa. O panorama desportivo da Turquia não passou indiferente à frágil situação económica do país, que viu a sua moeda desvalorizar significativamente no mercado internacional.

    Os gastos exorbitantes com jogadores e a falta de organismos que regulem e controlem o capítulo financeiro do desporto nos últimos anos levaram alguns clubes turcos a endividarem-se de forma alarmante, com o Fenerbahçe SK a reportar, em agosto, uma dívida de 2,1 mil milhões. Já o Besiktas JK possui uma dúvida de mil milhões e o Galatasaray SK 750,8 milhões de liras turcas. De seguida, segue-se o Trabzonspor, que apresentou uma dívida de 741 milhões.

    Ora, estes ditos clubes grandes têm sofrido esta temporada com esta nova realidade e isso está bem patente na tabela classificativa, que ilustra um “campeonato estranho”: o Fenerbahçe, que é um eterno candidato ao título e que está qualificado para os 16 avos-de-final da Liga Europa, ocupa o penúltimo lugar do campeonato e já foi inclusivamente eliminado da Taça da Turquia por uma equipa da segunda divisão.

    O Besiktas e o Trabzonspor, à data deste artigo, estão fora do pódio e é notória a quebra no rendimento desportivo. O Galatasaray, ainda assim, mantém-se nos lugares cimeiros.

    Os principais clubes turcos perderam força por consequência da reestruturação financeira que tiveram de efetuar e teve especial impacto na política de contratações. Há três anos atrás, por exemplo, atuavam na Liga Turca jogadores como Sneijder, Podolski, Nani e Markovic.

    Com o rótulo de jogador experiente ou de promessa, qualquer jogador que chegasse aos principais clubes turcos levava muita qualidade, mas era sinónimo também de grandes salários. Em larga escala, esta política fez com que os clubes atingissem o limite das suas capacidades financeiras e, além destes jogadores já terem abandonado o país, a atual situação é completamente diferente.

    O perfil de jogador que agora é contratado por um clube turco mudou radicalmente. Hoje, os clubes turcos viram-se para um tipo de futebolista mediano proveniente de clubes bastante inferiores.

    O Galatasaray contratou Marcão ao Grupo Desportivo de Chaves, clube que é o último classificado da Primeira Liga. Por outro lado, o Besiktas viu Pepe sair do clube para regressar ao FC Porto, onde passará a auferir um melhor salário. Fruto desta crise é também o caso de Ozan Kabak. O central turco, de apenas 18 anos, partiu nesta janela de mercado para o VfB Estugarda, por 11 milhões de euros. O clube simplesmente não teve capacidade de reter este jovem talento.

    O jovem Ozan deixou um grande clube turco para assinar por um clube em risco de descer na Alemanha
    Fonte: VfB Stuttgart

    Estes acontecimentos não foram uma exceção à regra e isto aconteceu um pouco por todos os clubes da SuperLiga, resultando na desvalorização dos plantéis das equipas, o que tem um impacto negativo no futebol do país.

    Tendo em conta o panorama económico negativo, segundo os órgãos de comunicação social turcos, os bancos vão elaborar medidas e analisar a situação de cada clube, enquanto a Federação irá assumir a função de supervisionar as contas dos mesmos. Tratando-se somente de mais uma tentativa de aliviar a conjetura económica adversa, logicamente, nenhuma dívida será perdoada.

    Cada vez mais, as condições económicas relacionam-se com a produtividade futebolística e, se é consensual que as principais equipas turcas perderam alguma qualidade esta época, será também interessante perceber se tal terá impacto nas competições europeias, com especial destaque para o Galatasaray que será adversário do SL Benfica na próxima ronda da Liga Europa.

    Foto de capa: Galatasaray

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    Gonçalo Miguel Santos
    Gonçalo Miguel Santoshttp://www.bolanarede.pt
    Ainda era caracterizado com um diminutivo e sentado ao lado do seu pai, já vibrava com o futebol, entusiasmado e de olhos colados na televisão à espera dos golos. O menino cresceu e com o tamanho veio o gosto pela escrita e o seu sentido crítico.                                                                                                                                                 O Gonçalo não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.