Eduardo Camavinga | Uma pérola no centro do terreno

No início de 2013, o Stade Rennais FC, clube que também formou Yoann Gourcuff e Ousmane Dembele, mostrava já interesse em roubar o diamante em bruto ao AGL Drapeau Fougères, cujos treinadores e dirigentes retêm até hoje memórias vividas da extraordinária precocidade que Eduardo demonstrou desde logo, nos primeiros treinos.

O evento que viria a adiar a transferência dificilmente poderia ter sido mais devastador: devido a uma falha elétrica, um incêndio destruiu tudo o que tinham de mais precioso e a família Camavinga via-se subitamente sem poupanças, sem documentos, sem teto. Foi apenas em novembro de 2019 que o jogador conseguiu finalmente a nacionalidade francesa. Mas já lá vamos.

Ainda no dia da tragédia, o pai, com uma lágrima teimosa a bater insistentemente à porta que ele nunca abria, pegou-o ao colo, muito sério, e disse-lhe algo como: “Estamos a passar por mais uma grande adversidade, mas é o Futebol que nos vai levantar e és tu a esperança da família”, palavras que Eduardo Camavinga haveria de recordar com carinho aos 16 anos, aquando a assinatura do seu primeiro contrato como jogador de Futebol profissional.

A quantidade exorbitante de pressão colocada numa criança de apenas 11 anos parece quase tirânica, mas ninguém deve nunca tentar calçar botas que não são suas e também sabemos bem que é muitas vezes na adversidade que mais nos motivamos para encontrar a única solução possível: jogar à apanhada com o sol até que o agarremos com as nossas próprias mãos. Show must go on e não vale atirar a toalha ao chão.

Predestinado, então, para grandes voos já desde os primeiros tempos no Fougères, o menino que falava pouco, abraçou com todas as suas forças o sonho de se tornar numa estrela e o sucesso chegou ainda mais depressa do que aquilo que a família esperava.

Segundo Landry Chauvin, antigo diretor da academia do Rennes, o jovem descrito como “la pépite“ estava sempre à frente de todos os meninos da sua idade em termos de talento, inteligência e maturidade. Antigos treinadores brincam ao recordar que mal terminavam de explicar um exercício, já Eduardo o tinha apanhado. Eram constantemente obrigados a criar novos treinos para conseguir desafiá-lo. Há duas épocas, depois de brilhar no empate contra o Olympique de Marseille, arriscaram perguntar-lhe donde vinham aquela coragem e confiança inabaláveis. Algo timidamente, respondeu que sempre tinha sido assim e que durante a sua formação subia com frequência ao escalão acima antes do tempo, pelo que defrontar jogadores maiores do que ele não era (de todo!) coisa que o assustasse.

Talentos há muitos, mas com tanta maturidade à baila, é claro que também não é de estranhar que já ande mais do que habituado a bater recordes de prematuridade. Falemos de 2019. No Rennes, Camavinga tornou-se no jogador profissional mais jovem da história do clube e, na estreia contra o Angers, a seis de abril, com 16 anos quatro meses de idade, no jogador mais jovem a jogar na equipa principal, sendo igualmente o mais jovem a marcar pelo clube. Contra o AS Monaco, em maio, tornou-se no primeiro jogador nascido depois de um de janeiro de 2002 a começar um jogo como titular numa das cinco principais ligas europeias. Em agosto, foi o mais jovem a ser nomeado como jogador do mês na Ligue 1.

Pela França, com 17 anos e nove meses, passou a ser o mais jovem internacional desde 1945 e é agora o terceiro mais jovem de sempre. A sete de outubro, contra a Ucrânia, marcou o primeiro golo com um pontapé de bicicleta, que dificilmente me sairá da memória, e, assim, tornou-se no jogador mais jovem a marcar pela França desde Maurice Gastiger em 1914. A qualidade é de tal forma vertiginosa que nunca ninguém achou necessário esperar e ele lá vai, elegantemente, correspondendo.

E, afinal, como joga o esquerdino Camavinga? Há quem o trate como “médio defensivo”. Demasiado redutor. Quando começou, chegou a jogar como defesa central, mas também jogou como atacante. Mais do que um treinador já referiu o mesmo: quando querem manter um resultado, colocam-no na defesa; quando querem ganhar, colocam-no no ataque. Ah, a abençoada versatilidade. E assim é fácil compreender, não é?

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