Jorge Jesus | Longe da vista, longe do coração

    Hoje é dia de final da Copa Libertadores da América. Hoje é dia de o Clube de Regatas do Flamengo e o Club Atlético River Plate disputarem a maior competição de clubes fora da Europa. Hoje é dia de Jorge Jesus e Marcelo Gallardo tocarem o Olimpo.

    Quantos treinadores europeus já conquistaram a Libertadores? Somente o croata Mirko Jozic, em 1991, pelo CSD Colo Colo. Jorge Jesus está portanto a um passo de ficar definitivamente na história do futebol.

    Entre os milhares de treinadores em actividade, poucos são aqueles que vale a pena seguir. A maioria vive preso numa inércia de dança das cadeiras, na qual todos se confundem sem deixar qualquer memória de si.

    Mas nem todos vivem nesta inércia de um quase anonimato futebolístico. Há treinadores marcantes, individualidades afirmativas. Há treinadores que escrevem o seu próprio futebol, que inspiram e que transferem a sua personalidade para os relvados, onde as suas equipas actuam. Deixam a sua marca e cada jogo é uma demonstração daquilo que trabalham e acreditam.

    Diego Simeone, Jurgen Klopp e Pep Guardiola são três exemplos óbvios. Gostemos ou não do futebol que as suas equipas apresentam, sabemos que é um reflexo das suas mentes.

    Neste âmbito há um português em claro destaque – Jorge Jesus.

    Goste-se mais ou menos do actual técnico do CR Flamengo, é inquestionável a sua qualidade de treino. Fã de uma equipa ofensiva cheia de liberdade técnica e criativa, Jorge Jesus é incansável na sua exigência defensiva e nos movimentos dos jogadores sem bola.

    Não é um treinador de contenção, não é um treinador de pressão constante e também não é um treinador de posse, Jorge Jesus é um treinador de posicionamentos. Defende com poucos, mas defende com todos – todos defendem mas poucos actuam nas zonas mais recuadas. A sua qualidade de treino é tão alta que os jogadores adaptam-se rapidamente a diferentes posições.

    Sejamos honestos, antes de ser condecorado com o título de cidadão honorário do Rio de Janeiro e de conquistar o Brasil, e possivelmente a América do Sul, antes de ser louvado na Arábia Saudita e antes de ter elevado o futebol do Sporting CP ao nível do do FC Porto e SL Benfica, Jorge Jesus reacendeu a paixão dos adeptos benfiquistas, abrilhantou a camisola vermelha e branca e elevou o futebol do glorioso para patamares não vistos há mais de 20 anos.

    Este novo Sport Lisboa e Benfica, este clube novamente campeão e dominador, esta hegemonia encarnada, é fruto do trabalho e conhecimentos que Jorge Jesus colocou nos relvados da Luz.

    Três títulos em seis anos, várias taças, duas finais da Liga Europa e principalmente vários e vários jogos memoráveis. O futebol praticado pela equipa, a valorização dos jogadores que renderam milhões e milhões ao clube, a exigência colocada em campo e as várias conquistas. Todo o clube desenvolveu-se de forma tremenda durante os anos de Jorge Jesus.

    Chegado ao Flamengo, após ter saído daquele mundo fortemente egocêntrico que criou no Benfica, Jesus é um treinador renascido
    Fonte: CR Flamengo

    Sim o segundo ano foi horrível, sim houve uma humilhação no Dragão, sim não olhava ao Seixal, sim perdeu as duas finais, sim não ganhou todos os campeonatos e sim teve vários comportamentos reprováveis dentro do clube. Não foi um período perfeito, longe disso, mas foi um momento alto do futebol encarnado.

    O saldo dos seus seis anos é claramente positivo. A qualidade futebolística do Sport Lisboa e Benfica com Jorge Jesus é incomparável à apresentada anteriormente com Quique, Camacho e Fernando Santos, e também à apresentada posteriormente por Rui Vitória e até por Bruno Lage.

    Jorge Jesus é um monstro do treino, um monstro do treino que sempre foi traído pela sua arrogância. A insistência em jogadores medíocres é prova disso. Mas maior prova é mesmo a má leitura do jogo que sempre apresentou. Tão convencido das suas opções, sempre com tanta certeza que não errava, Jorge Jesus via os jogos com um olhar totalmente enviesado pela sua arrogância e isso levava-o a constantes más mexidas na equipa.

    Agora, chegado ao CR Flamengo, após ter saído daquele mundo fortemente egocêntrico que criou no Sport Lisboa e Benfica, Jorge Jesus é um treinador renascido. É quem sempre foi, mas com capacidade de aprendizagem. Comunica melhor, lida melhor com os jogadores e acima de tudo ganhou uma pequena dose de humildade que lhe é suficiente para reconhecer os méritos dos adversários e principalmente os seus deméritos. É, neste momento, um treinador muito mais completo e assim muito mais competente. Este Jorge Jesus já está, finalmente, ao nível de uma La Liga ou de um Calcio.

    É engraçado perceber que hoje consigo apreciar muito mais o seu trabalho, o seu feitio e os seus feitos. Hoje, que está fora de Portugal, e principalmente fora do SL Benfica.
    Enquanto adepto benfiquista não aceito muitos dos comportamentos que ele teve com o símbolo do glorioso.

    Não aceito a forma como desprezou a nossa formação, não aceito que estivesse tão pouco preparado para disputar uma Champions e principalmente não aceito a forma nada digna como invariáveis vezes representou o meu clube. Aquela pessoa não merecia liderar o futebol de um clube de históricos valores como é o Sport Lisboa e Benfica. E, para mim, isto era mais determinante que qualquer campeonato que pudesse conquistar, era mais valioso que qualquer exibição de ouro que nos pudesse proporcionar.

    Agora sim posso apreciar verdadeiramente o treinador Jorge Jesus. Longe do meu clube está longe do meu coração e deixando as emoções de lado, posso desfrutar do excelente trabalho que está a fazer.

    Perante o marasmo que vive o futebol do Sport Lisboa e Benfica, percebo as saudades que muitos vão tendo dos tempos de Jorge Jesus.

    Não quero Jorge Jesus de volta ao SL Benfica. Não me deixou saudades porque encerrei em paz o seu capítulo na Luz. Quero poder continuar a apreciar o maravilhoso treinador que se tornou mas somente pela televisão.

    Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís, William Arão, Gerson, Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol, Piris da Motta, Reinier, Vitinho e até o regressado Diego. Hoje em dia este é um elenco de luxo para Jorge Jesus.

    Que dê espetaculo juntamente com o Gallardo e que, em Dezembro, possamos ver um frente a frente entre Jorge Jesus e Jurgen Klopp.

     

    Foto de Capa: CR Flamengo

    Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

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    Daniel Oliveira
    Daniel Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
    Primeira palavra bola. Primeiro brinquedo bola. E assim sempre será. É a ver jogos que partilha os melhores momentos de amizade. É a ver jogos que faz as melhores viagens. É a ver jogos que esquece os maiores problemas. Foi na paixão pelo jogo que sempre ultrapassou os outros desgostos de amor. Agora a caminhar para velho pode partilhar em palavras aquilo que sempre guardou para si em pensamentos e pequenos desabafos.                                                                                                                                                 O Daniel não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.