Chamam-lhe Večiti derbi (o dérbi eterno) e opõe dois históricos do futebol do leste da Europa e dois nomes incontornáveis na prática da modalidade no velho Continente. Estrela Vermelha (FK Crvena zvezda) e Partizan Belgrado (FK Partizan) mediram forças no passado Sábado no mítico Maracanã sérvio (Stadion Rajko Mitic) num jogo a contar para a 24ª jornada da SuperLiga daquele país dos Balcãs, que terminou empatado a zero. O jogo que deveria ser recordado pelo futebol praticado dentro das quatro linhas vai antes ser lembrado pelos graves incidentes que o antecederam e que obrigaram o árbitro e a federação sérvia a adiar o início da partida 45 minutos.
Os adeptos, com especial destaque para os da equipa da casa, envolveram-se em violentos confrontos com a polícia antimotim, lançando foguetes e cadeiras às forças de autoridade, que se viram obrigadas a retirar por alguns momentos à espera de mais um destacamento policial. O início do jogo, muito depois da hora marcada, não significou contudo o fim das hostilidades, uma vez que durante a segunda metade a partida teve de ser interrompida novamente, até que o fumo proveniente dos foguetes e das tochas que ardiam nas bancadas onde estavam os Delije e os Grobari se dissipasse totalmente.
No que ao futebol diz respeito, foi na verdade um jogo pouco emocionante com apenas duas oportunidades dignas desse nome durante os primeiros 45 minutos. Foi de Darko Lazovic a melhor oportunidade para os homens da casa, à qual respondeu Stefan Babovic também com uma boa possibilidade para marcar. Após o reatamento, o Partizan conseguiu de certa forma controlar as operações e teve várias oportunidades para sentenciar o jogo, mas todas as tentativas esbarraram num inspirado Pedraj Rajkovic, que defendeu com bravura as redes do Estrela Vermelha.
As épocas de glória destas duas equipas e do futebol da antiga Jugoslávia estão já bem enterradas no passado e o desmembramento daquela antiga potência do leste da Europa fez com que o futebol, também ele, pagasse a pesada factura de uma sangrenta guerra civil e de uma crise económica e social que devastou o país.
Da nossa memória colectiva faz seguramente parte aquela majestosa equipa do Estrela Vermelha, que venceu a Taça dos Clubes Campeões Europeus (Liga dos Campeões) em 1991, após bater o poderoso Marselha por 5-3 nas grandes penalidades. Robert Prosinecki, Darko Pancev, Dejan Savicevic, Vladimir Jugovic e Sinisa Mihajlovic são nomes que, seguramente, aqueles que amam o futebol nunca irão esquecer. Pela mão do lendário Ljupko Petrovic, o Estrela Vermelha surpreendeu a Europa deixando pelo caminho equipas como o grande Bayern Munique e Dynamo Dresden, entre outras.
Os seus rivais de Belgrado, o Partizan, não têm o mesmo palmarés internacional dos seus detestados vizinhos, mas os seus fervorosos adeptos não esquecem seguramente a poderosa equipa que chegou à final das Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1966, caindo apenas no confronto com o Real Madrid do grande Miguel Muñoz.
A realidade actual é bem diferente para ambas as equipas, mas tem sido curiosamente o Partizan Belgrado que melhor se tem adaptado às mudanças pelas quais aquele país dos Balcãs tem passado. Os Crno-Beli ganharam 12 títulos nacionais nos últimos 20 anos contra apenas 7 do Estrela Vermelha, que, após ter vencido a SuperLiga na época passada, viu este Sábado a renovação desse mesmo título fugir-lhe por entre os dedos.
O país que foi em tempos apelidado de Brasil da Europa (de tão belo e sumptuoso que era o seu futebol) vê-se agora a braços com uma cultura de violência arrepiante que, acompanhada de uma forte crise financeira e social, não só impede o desporto rei de voltar a atingir os patamares de outrora, como também faz com que o Dérbi Eterno seja apenas notícia pelos motivos errados.
Foto de Capa: FK Partizan