O estranho caso do Forest Green Rovers FC

    Um Ano Novo chegou, um mês já passou. 2021 ficou.

    Sendo algo apenas “muito pessoal”, ou não, tendo em conta que o planeta Terra fez o favor de nos pôr a todos à prova exatamente da mesma maneira, continuo com a sensação de que aprendi “demasiado”, a passear alegremente pelos jardins que visitei no último ano. É que as lições ficaram mesmo, aqui, coladinhas à nuca.

    Dizia eu há umas semanas atrás, logo após aterrar na Noruega, que passar um dia sem aprender algo novo é, basicamente, um atentado a nós próprios.

    Viver todos os dias com a sensação de que terminaram as descobertas, de que já nada nos pode surpreender, das duas uma: ou se é ingénuo, ou se está bem confortável dentro da caixinha onde não se vislumbram as infindáveis portas que por aí andam com surpresas à nossa espera.

    Uma das ferramentas que mais gosto de usar para aprender é, efetivamente, a emigração. A troca total e completa de realidade.

    Mudança? Custa muito, ensina mais ainda.

    Coincidências ou não, uma vez que a água é o elemento que costuma entrar de rompante para agitar qualquer narrativa, estava a atravessar o profundo túnel de Bømlo quando o meu novo fiel companheiro das agora raras tardes de futebol, também conhecido por “chefe”, decidiu dizer:

    “Olha lá. Tu que escreves sobre futebol, já pensaste em fazer um artigo sobre os Forest Green Rovers?”

    “Quem?!”

    E bom, pronta para surpresas estou eu sempre, não é?

    Para os (com certeza) poucos que, tal como eu, não conheciam os “verdinhos”, permitam-me que os apresente brevemente.

    Fundado em 1889, este clube do quarto escalão do futebol britânico começou a atrair atenções quando alguém começou a injetar capital. Até aqui, nada de novo.

    O responsável veio ao mundo como Dale Vince e é, em termos práticos, conhecido por ser um industrialista “ex”-hippie, dono da Ecotricity, empresa fornecedora de energias renováveis.

    Pessoas diferentes, histórias diferentes. E haja orgulho em ser-se diferente.

    Assim, com um “empurrãozito”, a pequena cidade de Nailsworth não só abriu portas para deixar entrar um vento forte, como tem vindo a abraçar um sol reconfortante que transborda positivismo para o resto do mundo.

    Para desgosto dos meus amigos engenheiros ambientais, caso leiam isto, surpreendeu-me realmente muito a quantidade de detalhes com que é possível marcar a diferença, no bom sentido.

    Por muito old school e/ou ingénua que seja, era suposto estar à espera de ouvir que existe um clube de futebol vegan? Que existe vida para alguém das bifanas e dos couratos do Alto dos Moinhos?!

    Os equipamentos são feitos de plástico reciclado, o relvado é orgânico e cortado por um robot alimentado por energia solar, a água da chuva que cai nas bancadas é reciclada e as imediações do estádio incluem pontos de carregamento para carros elétricos, de forma a incentivar os adeptos a viajar de forma sustentável.

    Resumindo e baralhando, é certo e sabido que venho cá mais para refletirmos em conjunto do que para escrever sobre o futebol propriamente dito.

    Onde é que quis chegar com este artigo? Não, não espero que todos deixem de comer carne ao ler isto.

    Pergunto-vos: acham realmente que estamos apenas a falar sobre mais um “marmanjo” a querer fazer render o peixe?

    O futebol só será um negócio se começarmos, nós, a vê-lo como um negócio. Não podemos vê-lo, simplesmente, como aquilo que é? Como o desporto que, por tocar tanto em milhões de corações, torna mais fácil passar uma boa mensagem?

    “Tempo é dinheiro”, sim, mas, mais do que isso, “dinheiro é tempo” e a forma como utilizamos o nosso tempo é o que melhor nos define.

    Sobre negócios, a verdade é esta: os mais lucrativos são cada vez mais os que têm propósitos de vida associados. O tal “fazer com paixão” de que costumo falar.

    Essa energia positiva, mais depressa ou mais devagar, espalha-se a todos os que chegam a um ponto em que já estão prontos para recebê-la. E é renovável.

    No final de contas, é com as pessoas que abriram esta porta antes de nós que aprendemos mais.

    E no final dos contos, vivemos todos no mesmo sítio, mas todos nós vivemos no nosso próprio mundo, criado à vista de cada um. Quanto mais bonito pintarmos esse nosso mundo, e quanto mais partilharmos os nossos lápis de cor, melhor para ti, melhor para mim, melhor para todos nós e para o sítio em que continuamos a ter de aprender a coabitar.

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