Depois de um serão de jantar animado, o filho, chamado Selecção, vai para o seu quarto, enquanto a mãe, Nação, acaba de lavar a loiça. O pai, a Federação, lê o jornal, calmamente sentado no sofá, colocado em frente à televisão.
– Selecção Portuguesa de Futebol, chega imediatamente aqui! – chamou a mãe do pequeno.
“Pronto, já me estão a chamar pelo nome completo, já vou levar um raspanete”, pensou Selecção.
– Sim, mãe?
– Eu e o teu pai estamos muito preocupados contigo, filho. Andas a deixar tudo para a última, não tens qualquer sentido de responsabilidade, precisas sempre de ir aos playoffs para te qualificares. Assim não pode ser.
– Oh mãe, mas eu consegui eliminar os suecos! O Ronaldo até marcou quatro golos, às tantas ainda vai ser Bola de Ouro à minha pala…
– Não desvies a conversa, meu menino, que isso não é desculpa. Tiveste um grupo mais do que acessível e arriscaste a ficar, mais uma vez, fora do Mundial. Isto não pode ser assim, eu e o teu pai já te avisámos disso.
– Mas eu passei ou não passei??
– Selecção Portuguesa de Futebol, tu não me respondas! Tinhas potencial para passar o grupo em primeiro e à vontade, sabes bem disso. Estive preocupadíssima contigo, quando a Suécia marcou o segundo golo ia tendo um ataque de nervos. Não podes continuar a contar com a tua qualidade para resolver quando não te esforças nos jogos mais pequenos!!
– Oh, se tivesse um ponta-de-lança de jeito e o Patrício não tivesse dado aquele frango…
– Lá estás tu a pôr as culpas em cima dos outros! A culpa não é do Patrício, que ele bem te salvou em inúmeras ocasiões. E já sabias de antemão que não tens pontas-de-lança decentes. Isso não é desculpa! Tu tens equipa para discutir os jogos taco a taco com selecções como a Espanha, campeã do mundo e bicampeã europeia!!
– Sim, mãe…
– Filho, eu acredito tanto em ti e custa-me ver que deixas sempre as qualificações para a última hora. É completamente desnecessário, e o teu pai diz o mesmo…
– Mulher, deixa o rapaz em paz… – disse o pai.
– Como assim, Federação?
– O objectivo era conseguir o apuramento. A bem ou a mal, ele conseguiu. O dinheiro entrou e vamos ao Brasil. É isso que me importa.
– Está bem, mas já o devia ter feito muito antes! Rússia e Israel? O que é isso para uma equipa como a nossa? Não pode ser, Selecção Portuguesa de Futebol, não pode. Tu sabes que só estou a tentar ajudar-te, filho…
– Eu sei, mãe, tens razão…
– Promete-me que vais ter mais juízo nessa cabeça e jogar a sério em todos os jogos, por favor.
– Sim, mãe…
– Ah, e já agora, vê lá se consegues não perder contra a Grécia se os apanharmos no Mundial. Eu e o teu pai ainda não recuperámos da tragédia de 2004…
– Claro, não te preocupes.
– Pronto, vai lá para o teu quarto brincar, meu filho.
– Obrigado, mãe. Obrigado, pai.
Selecção foi feliz para o seu quarto, radiante por se ter safado do raspanete. No fundo, sabia que os pais tinham razão, mas ainda estava eufórico com a vitória sobre a Suécia. Sentou-se à secretária do seu quarto. Na cabeceira, estavam algumas notas: “Trabalho de casa – começar a preparar a pré-convocatória e estudar equipas do Mundial”.
“Que se lixe, ainda tenho tempo”, pensou Selecção. Assim, atirou os sapatos para um canto da sala, inspirou fundo, e começou a jogar um qualquer jogo de consola…