
Mais um jogo equilibrado. Mais um jogo equilibrado que cai para o outro lado. Portugal continua a mostrar valor, a querer e saber ter bola, a querer e saber construir desde trás, atraindo marcação para encontrar espaços e poder lançar as “setas” Diana Silva e Jéssica Silva em direção à baliza contrária, a querer e saber desmontar os blocos contrários. Só ainda não sabe ao certo como vencer de forma regular.
Mas quer. E, pelo que joga, pela solidez de ideias que o grupo vai apresentando, pela confiança que as jogadoras demonstram no processo de crescimento que as levou pela primeira vez a um Mundial, está cada vez mais perto de fazê-lo e provar que a vitória na receção à Noruega não foi um acaso. Neste jogo, não deu. As austríacas foram muito mais pragmáticas e, apesar de não terem sido exemplares na finalização – tiveram demasiadas más decisões no último terço -, foram suficientemente mais eficazes do que as portuguesas, que continuam a pecar em demasia nesse que é o parâmetro definidor no futebol.
Portugal sofreu dois golos em cada uma das quatro partidas disputadas nesta prova e a forma como gere o jogo sem bola é algo a trabalhar, como o próprio Francisco Neto admitiu. No entanto, fica a sensação de que uma maior eficácia (um problema que já vem de longe) seria suficiente para Portugal vencer mais vezes e solidificar o seu processo de crescimento de forma mais célere. Fica, de jogo para jogo, a sensação de que é nesse ponto que as lusas ainda estão abaixo de seleções como a Áustria e a França.
O caminho, no entanto, continua a ser para frente, estando a seleção ciente de que estar na Liga A da Ligas Nações é fulcral para a sua evolução e que, por isso, os dois últimos jogos da fase de grupos são mais ainda para ganhar. Francisco Neto, no entanto, acredita poder crescer a querer ganhar como até aqui, pelo que se espera que o estilo de jogo português – com bola, a envolver todas as jogadoras, com duas avançadas rápidas e móveis, com Kika Nazareth como dínamo ofensivo da equipa, com bola a correr pela relva desde o terço mais recuado, incluindo a guarda-redes na circulação de bola, atraindo a pressão adversária, procurando o corredor central primeiro para depois libertar nas alas, com arrojo, com vontade de “jogar à bola” e não ficar a ver a outra equipa jogar – se mantenha mesmo perante a necessidade mais premente de vencer.
Verdade seja dita: apesar das duas derrotas por 2-1 ante a Áustria, não me parece má política. O que esta equipa de Portugal já joga e ainda pode vir a jogar vai certamente ser a base para a construção de um futuro não muito longínquo vitorioso. Resta saber se chega para o futuro mais próximo.
BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
BnR: Os jogos deste grupo têm sido equilibrados, mas o grupo em si nem tanto, porque os jogos equilibrados têm caído mais para um lado do que para os outros e, por isso, Portugal, na próxima e última dupla jornada, tem mais necessidade de vencer. Nesses dois jogos, vai olhar mais para o ter que vencer ou o processo de crescimento continua a ser o mais importante?
Francisco Neto: Nós a crescer queremos ganhar. Se calhar, se pensássemos de outra forma, baixávamos linhas, procurávamos estimular só os contra-ataques. Mas não foi isso que nos levou ao Campeonato do Mundo, não foi isso que nos permitiu ganhar à Noruega, não foi isso que nos permitiu equilibrar o jogo na segunda parte contra a França. A mensagem é clara, elas sabem que temos uma ideia de jogo audaz e corajosa para elas. Para nós, enquanto equipa técnica, não há passo atrás.
BnR: Na primeira parte, houve um momento em que deu para ouvir o Francisco a dizer à Patrícia Morais: “Patrícia, chama a pressão”. O Francisco Neto falava há pouco de Portugal ter querido partir o jogo a dado momento. Falhou alguma coisa nessa estratégia de chamar a pressão para que Portugal tivesse que mudar o plano e partir mais o jogo?
Francisco Neto: Partir o jogo foi mais a partir do 1-2. Nós estávamos a ligar desde trás, mas não faz sentido, quando as adversárias não tomam uma atitude. Nós costumamos dizer isto a brincar, mas falando a sério: elas paradas quase conseguiam defender. Então, a grande ideia era atrair, fazê-las andar, fazê-las movimentar, para que elas começassem a saltar na nossa pressão e aí conseguíssemos ligar. E foi isso que conseguimos fazer. Muitas vezes, na segunda parte, conseguimos encontrar a Kika, que lançou muitas vezes a Diana. A Norton, na primeira parte, muito por jogadas individuais, também conseguiu sair da pressão.
Outras declarações:
“Há coisas que são globais e que tivemos as mesmas lacunas em alguns momentos”.
“Criámos oportunidades suficientes para vencer este jogo”.
“Fizemos um jogo com muita competência em muitos momentos”.
“Temos que melhorar a nossa capacidade de finalização e não permitir os ataques adversários”.
“Não deixámos de ser uma equipa que luta até ao fim”.
“O grande objetivo é fazer o nosso trabalho na última dupla jornada”.
“Provámos nestes quatro jogos que não somos inferiores a ninguém”.
“Temos de continuara a crescer”.
“Quisemos partir o jogo, sabíamos que iam baixar linhas”.
BnR: A Dolores dizia que enquanto houver possibilidades, vão lutar. A verdade é que se a França não perder perante a Noruega, Portugal está fora da luta pela final-four. Isso vai alterar alguma coisa?
Dolores Silva: “Temos de ser fiéis a nós mesmos. Ainda faltam seis pontos importantes e queremos lutar para manter Portugal entre os melhores, que é o nosso objetivo”.
Outras declarações:
“O plano era ganhar três pontos, era reagir em nossa casa, diante dos nossos adeptos”.
“Mais uma vez, em muitos momentos do jogo, conseguimos ter mais bola, mas só com golos é que podemos ser felizes”.
“Pretendemos jogar na primeira liga, frente às melhores”.