O incrível mundo da fantasia de Lamine Yamal e Endrick

    Quanto mais tenra a idade, maior o tamanho dos sonhos e a criatividade no fabuloso mundo da imaginação. Às crianças o mundo é risonho, o futuro promissor e o super-homem é o mais comum dos humanos, todos eles capazes de tudo o que poderia parecer impensável. Lamine Yamal e Endrick são estas crianças.

    Lamine Yamal é o novo menino bonito de La Masia e do futebol espanhol. Vai construir uma carreira com nome próprio e apelido, embora as comparações com um astro argentino com percurso semelhante pareçam inevitáveis. Contra o Brasil fez uma exibição que muitos classificariam como a melhor da carreira. Ainda tem 16 anos.

    Lamine Yamal dá à seleção espanhola rasgos de individualidade e desequilíbrio. O jogo de Espanha é, por feitio e não defeito, muito horizontal, com privilégio claro para o uso dos três corredores, para a gestão em posse e para a segurança constante. Esta monotonia intencional é traduzida em perigo constante por Lamine Yamal.

    Recebe a bola colado ao pé sobre o corredor direito e a partir daqui é impossível encontrar um padrão no seu jogo. O passo seguinte é, geralmente, encarar o adversário de frente e abrir o manual de fintas, dribles e invenções. Parte para cima, não se inibe de procurar o adorno e tem recursos técnicos e criativos para escrever poesia com os pés. Cada lance é dotado de genialidade e de uma estética sonhadora de quem vê no retângulo de relva um salão de baile e que se movimenta como tal.

    Lamine Yamal resiste à solução mais fácil e tornou-se em menos de um ano num dos mais irreverentes extremos do planeta. Com 16 anos. Tem um refino técnico enorme e tudo parece coordenado ao seu tempo e ao seu espaço. Usa os dois pés para ludibriar defesas e mete-se propositadamente em caminhos apertados para sair deles como herói. A esta irreverência de um menino que cresceu demasiado rápido, mas que continua com a ousadia que lhe é característica, junta-se a maturidade na decisão.

    Também na altura de decidir Lamine Yamal marca pontos. Arrisca no passe de rotura, lê as movimentações dos colegas e coloca bolas difíceis. Acerta nos momentos de pausa e nos momentos de aceleração e consegue rematar. Aos 16 anos já bateu inúmeros recordes e tem o mundo aos seus pés. É a mais recente esperança da seleção espanhola.

    Espanha Brasil Wendell Lamine Yamal
    Fonte: RFEF

    Endrick tem um status internacional diferente – ainda menor – mas aos 17 anos já é diferenciado e nesta paragem para seleções fez o suficiente para garantir um lugar no onze titular do Brasil. Depois de anos sem um ponta de lança que desse garantias, a nova geração brasileira apresenta inúmeros jogadores para a posição, mas nenhum tão multidimensional quanto Endrick.

    Entrou ao intervalo e, depois de cinco minutos em campo, Endrick já celebrava mais um golo. Mais do que todas as qualidades futebolísticas, o brasileiro é diferenciado por uma aura que aparenta ter e que torna o seu aparecimento em campo inevitável. Aos 17 anos guiou o Palmeiras para uma recuperação histórica no Brasileirão e estreou-se a marcar na Europa em palcos tão singelos como Wembley e o Santiago Bernabéu.

    Endrick tem uma presença muito para além do futebolista. Falar de Sir. Bobby Charlton depois de marcar em Inglaterra não é um acaso e apresentar-se ao futuro relvado desta maneira era inevitável. Estamos a assistir à criação de uma estrela e, embora seja necessário sempre cautelas nesta afirmação, não há nenhuma razão além de uma lesão grave que impeça Endrick de se afirmar no mundo do futebol.

    Toda esta figura de Endrick só existe, ainda assim, pelo futebol. Ao contrário de outros jogadores, elevados a um determinado patamar por razões exteriores, a base de tudo em Endrick está dentro das quatro linhas. Domina na perfeição a arte do posicionamento, movimenta-se para atacar a bola e remata com identidade.

    A espontaneidade no remate é a maior virtude de Endrick. Pode ameaçar a qualquer altura e de qualquer posição no terreno. Tem uma batida forte e seca na bola que a faz chegar rapidamente à baliza. Fora da área é exímio a recuar para abrir espaços e lançar. Foram várias as bolas que procurou fazer chegar a Vinícius Júnior que, com movimentos de fora para dentro, atacava o espaço deixado livre pelo avançado.

    Endrick Brasil
    Fonte: CBF

    Lamine Yamal e Endrick estão no futebol para marcar a próxima era. Têm, pelo menos, mais 15 anos a grande nível e estão no início de uma carreira que se avizinha diferenciada. O El Clássico, refém de protagonistas que o tornaram, outrora, o jogo mais mediático e impactante do futebol, está em boas mãos.

    No mundo para além de Lamine Yamal e de Endrick, Luís De La Fuente e Dorival Júnior procuram renovar Espanha e Brasil. À rotação quase total da seleção espanhola de um jogo para o outro, o técnico da canarinha procurou manter o esqueleto base para um início de trabalho com muitas limitações ao nível de lesões que tornam mais complicada a tarefa de prever a equipa que representará o Brasil na Copa América.

    Com Lamine Yamal a roubar todo o protagonismo, a grande exibição dos médios da Espanha passou ao lado dos holofotes. Numa equipa com um jogo tão metódico, as infiltrações de Fabián Ruiz e, principalmente, de Dani Olmo permitiam oferecer opções em rutura. O jogo do médio do Leipzig foi fantástico neste sentido.

    Por ter deixado o Barcelona muito jovem e se ter destacado na Croácia, continua a passar um pouco fora do radar de muitos, mas Dani Olmo é um jogador fundamental para a Roja. Já havia sido protagonista com De La Fuente nos escalões de formação e vai repeti-lo. Como médio de infiltração ataca o espaço e tem olhos na baliza, entrelinhas joga de costas, roda e define. Ousa no remate e a definição no segundo golo é sublime.

    Acima de todos está Rodri. É o porta-estandarte da nova geração espanhola e, sem ser um jogador semelhante, substituiu Sergio Busquets. Além do trabalho invisível com e sem bola, nos últimos anos desenvolveu o instinto para ser protagonista. Aparece nos jogos mais importantes e nos momentos decisivos, chama para si a pressão para a usar como balanço e é decisivo. Chega ao pé da área para rematar e é um game-changer muito útil.

    Rodri Espanha
    Fonte: RFEF

    Do lado do Brasil, o meio-campo é zona de luxo e, ao mesmo tempo, delicada para Dorival Júnior. Saber conjugar diferentes perfis consoante as necessidades é chave para o ciclo brasileiro. De todos os médios do Brasil há um com lugar cativo: Lucas Paquetá. Habituado no West Ham a ser um artesão entre operários, é diferenciado pela multidimensionalidade. Sabe jogar perto e longe da baliza, com e sem bola. Pode ser deslocado para um dos corredores, usado como elemento a mais na saída de bola ou como médio definidor (naquela que é a sua melhor versão). Será fundamental na seleção.

    Bruno Guimarães e João Gomes foram titulares em ambos os jogos e partem em vantagem na disputa por um lugar. O médio do Newcastle é um dos melhores do mundo na arte da variação do flanco e do passe longo. Poucos desempenham tão bem a função de quarterback num campo de futebol. O jogador do Wolverhampton é um cão de guarda capaz de cobrir grandes áreas do terreno e de lutar por todas as bolas. O compromisso defensivo de ambos é importante numa equipa em que são os médios quem cobre os laterais.

    Ainda assim, com bola, ambos – mesmo Bruno Guimarães – apresentam algumas limitações. Pela evolução da carreira, o médio do Newcastle é um lançador quase automatizado. De tempos a tempos resgata a capacidade brutal do passe criativo e que quebra linhas, mas está talhado para receber, rodar e procurar o lado contrário. André entrou e, embora seja um médio com menor qualidade no geral, ofereceu outra capacidade de jogar sob pressão. As opções de carreira e influências do clube não dão para apagar no contexto seleção.

    Também João Gomes não oferece os mesmos recursos de Andreas Pereira com bola no pé. É um médio com atributos defensivos de topo e fundamental em certos contextos, mas o médio do Flamengo acrescenta em progressão criteriosa com bola (não oferece as mesmas condições quando precisa de romper com espaço) e ao nível do passe. Ter muitas e diferentes opções nunca é um problema.

    Também ao nível dos laterais há diferenças. Depois de (mais uma) exibição muito cumpridora perante Bukayo Saka, Wendell não foi tão seguro defensivamente contra o gingão Lamine Yamal que, se trocasse de camisola, ninguém estranharia. Ainda assim, cumpriu. Com bola e à semelhança do que faz no FC Porto tem um importante papel tático. Aparece por dentro, em posições completamente centralizadas para abrir o campo para o extremo esquerdo, no caso Vinícius Júnior, incentivando situações de 1X1 e de vantagem numérica no meio para combinar.

    À direita Danilo é resistente. Numa convocatória repleta de novidades e de inexperiência, o lateral, um dos mais consistentes nos últimos anos, continua a ter lugar. Joga mais baixo no terreno, praticamente como terceiro central, e é uma referência dentro e fora de campo. Os jogos começam a ganhar-se no balneário.

    Lucas Paquetá Brasil
    Fonte: CBF
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