Dos eliminados também reza a história – parte II

    Depois de feita a análise aos destaques das equipas eliminadas no Mundial Sub-20 após os oitavos-de-final, é agora tempo do rescaldo final, de analisar aquelas que, apesar de não terem erguido o troféu, marcaram a história da competição pela surpresa que provocaram em críticos, analistas, olheiros e adeptos, provando que a imprevisibilidade no futebol é uma das coisas mais bonitas do desporto-rei. São elas:

    Hungria

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    Uma selecção bastante diferente da do Europeu sub-19
    Fonte: Facebook Oficial do campeonato do Mundo de sub-20

    Foi uma selecção não mencionada na primeira parte desta “rubrica” mas que merece ser referida pela rápida evolução que se verificou neste conjunto. Há exactos onze meses, o mesmo conjunto de jogadores que era violentamente goleado pela selecção portuguesa no Europeu de Sub-19 deu mostras de solidez defensiva, organização posicional e, até, atrevimento na altura de visar as redes contrárias.

    Mervó destacou-se pelos golos marcados (sobretudo o hat-trick diante da Coreia do Norte), especialmente por ser, de origem, um homem do meio-campo, mas há a realçar também as boas prestações do guarda-redes Székely, a “sociedade” desequilibradora Zsótér/Tamás na ala esquerda e a inteligência táctica de Máté Vida, capaz de ocupar todas as posições do meio-campo mas mais eficiente no lugar do trinco, de onde emanava a voz de comando que também ecoa pela segunda divisão da Hungria – com apenas 19 anos, foi peça fundamental na subida do Vasas à “primeira”.

    A selecção foi eliminada apenas nos oitavos de final e pela campeã Sérvia. Depois de ter estado a ganhar por 1-0, sofreu o empate aos 91 minutos, e um auto-golo, a dois minutos do final do prolongamento, ditou o afastamento dos magiares.

    Mali

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    A selecção do Mali apresentou um futebol agradável de ser ver
    Fonte: Facebook Oficial do campeonato do Mundo de sub-20

    Passe-desmarcação, passe-desmarcação, execução. O futebol é eficaz assim. E bonito, também. O Mali comprovou-o no seu notável percurso até às meias-finais do Mundial Sub-20. Depois de se apurar num grupo onde deixou para trás o México, deu show contra o Gana, nos oitavos-de-final, goleando uma selecção que lhes tinha ganhado na CAF e na qual se depositavam muitas esperanças, eliminou a Alemanha e só perdeu para a campeã Sérvia no prolongamento.

    As exibições desta selecção, muito bem orientada por Faniery Diarra, encheram a alma de qualquer adepto de futebol, aliando a crença (começaram a perder com a Alemanha e a Sérvia e conseguiram empatar) e a magia própria dos conjuntos africanos, encabeçada por Adama Traoré (tanto futebol nos pés!) e adjudicada por Dieudonne Gbalke, à organização táctica muito poucas vezes vista nestas equipas, sobretudo num escalão de formação.

    Brasil

    Apesar de ter chegado à final, o Brasil demonstrou muito pouco
    Apesar de ter chegado à final, o Brasil demonstrou muito pouco
    Fonte: Facebook Oficial do campeonato do Mundo de sub-20

    Os canarinhos terminaram o grupo no primeiro lugar com três vitórias em outros tantos jogos, não perderam qualquer encontro no tempo regular, deixaram para trás selecções como as do Uruguai ou de Portugal, favorita à conquista do troféu, e até golearam o seu adversário, por 5-0, nas meias-finais. Chegaram à final e perderam apenas no prolongamento. Pode falar-se numa equipa que fez tudo para ganhar? Não.

    O Brasil Sub-20 foi uma equipa que teve o privilégio de ser bafejada pela sorte. Esteve a perder com a Nigéria e com a Hungria na fase de grupos e só demonstrou o seu futebol na segunda parte destes encontros, revelou sobranceria no encontro contra a Coreia, e contra Uruguai e Portugal, nos oitavos e nos quartos-de-final, respectivamente, estas selecções estiveram mais perto de se apurar do que a selecção brasileira. Nas meias, beneficiou de uma entrada desastrosa do Senegal para conseguir fazer o resultado na primeira parte (vencia por 4-0 aos 35 minutos!).

    O futebol praticado pelos brasileiros foi maioritariamente lento e desprovido de ideias. Não que não houvesse talento, este apenas não foi explorado devidamente. Rogério Micale é, por isso, quem mais culpas leva no cartório, sobretudo devido ao desaproveitamento dos recursos de que dispunha para tornar este Brasil, mais uma vez, campeão do mundo de sub-20 (se teve a sorte de chegar à final com erros sucessivos, imagine-se o que aconteceria sem eles!), nomeadamente a ausência de Andreas Pereira das opções do técnico, que o provou errado na final – entrou aos 65 minutos, marcou aos 73, arrastando o jogo para o prolongamento e dotando o Brasil de maior qualidade de decisão nos últimos 30 metros.

    Salvou-se a solidez defensiva da equipa, muitas vezes alicerçada na inteligência do capitão Danilo.

    Foto de capa: Facebook Oficial do campeonato do Mundo de sub-20

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