Um Uruguai com a baliza inviolável era a equipa que partia para este encontro dos ‘quartos’ do Mundial Sub-20. Quatro golos em quatro jogos era algo que indiciava uma média calculista de um golo por jogo. Em sentido contrário, Portugal era uma equipa em ascensão que vinha de eliminar a organizadora, Coreia do Sul.
Logo aos 55 segundos, Xadas isolou Xande Silva e o avançado, à saída de Santiago Mele, picou a bola sobre o corpo do uruguaio e fez o 1-0. O primeiro golo do jogador do Vitória de Guimarães no mundial.
Disposto em 4x3x3, com um meio-campo triplamente complementar, com Pepê-Delgado-Xadas, a formação de Emílio Peixe tentava contrariar o 4x4x2 clássico e de pressão a meio-campo do Uruguai, o que dificultou várias vezes a saída de bola de Portugal.
Recuperado do choque do golo madrugador, a seleção ‘celeste’ reagiu com uma ameaça, primeiro, após remate dentro da área de Schiappacasse. De seguida, aos 16 minutos, chegou o golo. De canto, aparece o mesmo avançado, ao segundo poste, após saída em falso de Diogo Costa. Cabeceia ao ferro e, na recarga, Santiago Bueno restabelece o empate.
Até final da primeira parte, o Uruguai continuou a controlar o jogo de meio-campo da seleção nacional, pressionando a saída de jogo de Portugal, ora Pêpê, ora Pedro Delgado, escapando a seleção nacional em ocasiões de ataque através da movimentação entre-linhas de Xadas ou do envolvimento dos laterais com os extremos.
É numa diagonal do extremo Diogo Gonçalves, da esquerda para o meio, que acontece o segundo golo de Portugal, aos 41 minutos, e um dos golos ‘top’ deste mundial, que deixou Emílio Peixe com as mãos no rosto, expressando um misto de espanto e de orgulho.
A FIFA já tratava Diogo Gonçalves por ‘the new 7’ (‘o novo 7’) à partida para este jogo. Diogo Gonçalves, ontem, questionado sobre tal rótulo ou sobre o peso nacional de envergar a camisola 7, respondeu que o que “interessa é o jogador e não o número”. E é assim mesmo; o número só confirma, emblematicamente, o craque.
Para a segunda parte, a formação sul-americana entrou mais forte e beneficiou de uma falta evitável de Yuri Ribeiro dentro da área para empatar o jogo, aos 50 minutos, por intermédio de Federico Valente.
A partir daí, o jogo voltou a modo de contenção mútua, mas com identidades diferentes. Portugal, que acabou o jogo com 62% de posse de bola, teve mais o esférico nos pés, mas maioritariamente de forma inócua, muito por culpa da meritória organização defensiva contrária, sobretudo no que toca à pressão a meio-campo.
Houve duas ocasiões até fim do tempo regulamentar para Portugal, com dois remates fora da área de Xadas, primeiro, e Gedson, depois. Para a seleção celeste, registo para o perigo causado num ataque à bola ao segundo poste na sequência de um canto.
No prolongamento, Emílio Peixe tira, primeiro, Diogo Gonçalves, por Zé Gomes, e, depois, ao intervalo, faz entrar Florentino para o lugar de Xande Silva. O trio atacante passou a ser André Ribeiro (que tinha entrado para o lugar de Bruno Costa) na esquerda, Xadas na direita e Zé Gomes no meio.
Os substitutos não estiveram à altura de quem lhes cedeu o lugar. Se André Ribeiro não teve a capacidade de comer espaços no ataque como Diogo Gonçalves, Zé Gomes passou o tempo esquecido numa ilha incerta entre os centrais contrários. A equipa ressentiu-se disso na criação ofensiva.
Nos penáltis, chegou-se até ao 14.º. Primeiro, Rodrigo Amaral, o 10 uruguaio, teve a oportunidade nos pés para decidir e falhou. Depois foi o pé direito de Zé Gomes que podia ter resolvido a questão para as cores lusas… Mas, aí, apareceu o show Mele, que defendeu três penáltis consecutivos. Depois, Bueno, o que já tinha faturado em tempo regulamentar, completou o trabalho do compatriota.
O guarda-redes tentou desestabilizar, olhos nos olhos, cada um dos portugueses que bateram a bola dos 11 metros. Mel(e) amargo este que envenenou Portugal.
Portugal é eliminado nos quartos-de-final. Cai de pé. Sim, cai. Mas, assim, dói mais.
Foto de Capa: Diario Deportivo