Portugal | As três linhas mestras para o sucesso duma Seleção

    O cargo de selecionador difere substancialmente do de um treinador. Essa tipologia começa logo por diferenciar-se na quantidade de jogos existentes que cada um tem pela frente. Logo por aí, as formas de trabalhar, invariavelmente, diferem. As diferenças são tão óbvias que não vale a pena focá-las.

    Passemos, desta forma, à fase seguinte. O que leva ao sucesso duma Seleção? Não há uma receita, tal como não a há nos clubes, sejam eles de que parte do globo forem. O facto de não haver, não implica, contudo, que não haja um conjunto de parâmetros que, (bem) conjugados, possa levar uma Seleção ao trilho do sucesso.
    • Organização

    É o primeiro porque é o mais óbvio. Raramente existirão “casas a arder” que atinjam o sucesso desportivo e, quando acontece, tal constituirá um caso isolado.

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    Podemos dar o exemplo da Seleção Nacional Portuguesa de agora e fazer um comparativo com a de 1986. Uma Seleção que se apresentou em Saltillo plena de vedetas, mas que, fruto das imensas carambolas, de uma desorganização gritante e de uma série de escândalos antes desse Mundial acabou por fazer o que fazer (ou não fazer o que não fazer).

    Fonte: FPF
    De facto, comparar a estrutura federativa de agora à de 1986 é quase um crime lesa-pátria. As diferenças vão para além da Via Láctea e isso ajuda a perceber muito o sucesso (ou falta dele). Mas isso, entenda-se, é transversal aos clubes.
    • «Baby boom» de clube(s) que marca uma geração

    É um fator que acaba por extravasar as competências federativas, mas que sucede (ou não) e, por tabela, acaba por contribuir (ou não) decisivamente para o sucesso (ou insucesso) das Seleções.

    Há inúmeros exemplos disso. Os Magriços, que levaram Portugal ao último lugar do pódio no Mundial 1966, eram a base do Benfica vencedor dos anos 60 (que anos antes se havia sagrado bicampeão europeu de clubes). A Seleção de 2004, que ficou a uma unha de vencer o Europeu em casa, jogava o que jogava muito devido à base do FC Porto de Mourinho, que, como se sabe, vencera, nesse mesmo ano, a Liga dos Campeões Europeus.

    E podemos partir para exemplos além-fronteiras recentes. A espantosa Alemanha de 2014, que triturou o Brasil na semifinal, beneficiou, não só de um trabalho de fundo por parte da Federação Alemã, como também de uma base de jogadores do Bayern Munique de Guardiola. Por falar em Guardiola, a Espanha que dilacerava quem lhe aparecia pela frente entre 2008 e 2012, ganhando tudo o que havia para ganhar (dois Europeus e um Mundial), era sustentada no Barcelona de… Guardiola.

    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede
    Voltando à Seleção de Portugal, já a equipa nacional beneficiou da formação de excelência de Sporting Clube de Portugal e, nos tempos de agora, mais do Sport Lisboa e Benfica. Períodos bem marcados, o que não implica dizer que outros clubes, como, claro, o Futebol Clube do Porto, não tenham tido um contributo importante ao longo das décadas. Bem pelo contrário.
    • Fator continuidade

    Não é, nos clubes, um fator determinante. Compreensivelmente ou não. Há muitos jogos, ritmo alucinante e isso causa desgaste. Daí que se entenda que um reinado Ferguson ou Wenger, em, respetivamente, Manchester United e Arsenal, só para citar dois dos casos mais emblemáticos, não sejam, de todo, regra, mas exceção.

    Na Seleção, contudo, é muito importante o fator estabilidade. Há, por exemplo, pouco tempo para impor uma ideia de jogo. Conceitos, formas de abordagem e de pensar o jogo (à medida de cada selecionador, entenda-se). Pelo que, desta forma, um trabalho a longo prazo acabe por, mais tarde ou mais cedo, dar frutos e, assim, beneficiar a Seleção (mais em forma de equipa).

    Vejamos o exemplo de Fernando Santos, que conseguiu, critique-se ou não, goste-se ou não, incutir a sua ideia de jogo. Ver hoje jogar a Seleção Nacional Portuguesa é ver uma equipa com marca de água. Sabe-se como joga, as suas dinâmicas são (re)conhecidas, há um coletivo. Isto, mesmo havendo mexidas nas convocatórias (bem mais do que nos tempos de Scolari, que apresentava uma postura bem mais rígida nesta questão de cerrar o grupo).

    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    Em contraponto, podemos falar da Sérvia da atualidade. Uma Seleção plena de talentos e de jogadores a atuar em Ligas de topo (Nemanja Matić, Milinković-Savić, Luka Jovic, Aleksandar Mitrović, Dušan Tadić, Aleksandar Kolarov,…), mas que, fruto de um corrupio de treinadores e de uma Federação do século passado, acaba por, na forma, ser um conjunto de grandes jogadores integrados num coletivo… inócuo.

    Entre Portugal e a Sérvia há, então, a pequena grande diferença de uma agir como coletivo, ter uma identidade muito própria e bem demarcada e outra ser, como se costuma dizer na gíria, um mero conjunto de jogadores.

     

    Artigo de opinião da autoria de André Rodrigues
    Foto de Capa: UEFA

    Revisto por: Jorge Neves

     

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