O Botafogo FR é neste momento líder isolado do Brasileirão. A equipa do Rio de Janeiro tem 48 pontos, mais 11 do que o Palmeiras, emblema orientado por Abel Ferreira e que é o atual campeão em título. Esta vantagem foi construída em somente 20 jornadas. Num total, apenas contabilizando as partidas para o campeonato, a formação de Bruno Lage conseguiu 15 vitórias, três empates e duas derrotas, algo que nem os adeptos imaginariam em janeiro de 2023.
A estrela solitária, embora esteja integrada no famoso G12, não é um clube propriamente titulado, sendo que a conquista do Brasileirão lhe escapa desde 1995, ou seja, são 28 anos sem levantar o troféu, o que pode dar uma pressão extra para o que falta jogar. Ainda assim, há que ter otimismo, já que a margem de erro é alta e a conquista de 80% dos pontos até ao momento disputados, não dá grande espaço para dúvidas: o Botafogo é altamente favorito para conquistar o primeiro lugar.
Existem mais algumas razões, além da margem pontual, para dar este dantesco favoritismo ao glorioso. A primeira é a profundidade do seu plantel. Apesar de ter duas competições por disputar (Brasileirão e Copa Sudamericana), a equipa tem opções de qualidade para todas as posições. Mesmo com o mercado de transferências na Europa aberto, é bastante improvável que alguma peça fundamental acabe por sair- o mesmo não se pode garantir para o próximo inverno, com os rumores que colocam Lucas Perri, Adryelson e até mesmo Bruno Lage a caminho do Olympique Lyonnais (outra das equipas de John Textor).
Com uma formação de excelência, Bruno Lage não terá problema em colocar dois ou três jovens na equipa, em caso de necessidade de suprimir lesionados e/ou castigados. Kauê, Wendel Lessa ou Raí, estão mais que integrados nos treinos do Botafogo, mas existem outros exemplos nos Sub-20. Para aumentar o lote de jogadores, neste último mês aterraram no Rio de Janeiro mais uma série de reforços, como Bastos, Mateo Ponte ou Valentín Adamo, numa medida de aumentar a qualidade existente e diminuir o risco de crise de lesões. Diego Costa também assinou pelo emblema do Nilton Santos, sendo um substituto à altura de Tiquinho Soares, pelo menos na teoria.
Já que tocámos no tema Nilton Santos, o calendário é um outro motivo pode deixar os adeptos do Botafogo mais seguros para a conquista do título. Apesar de faltarem algumas jornadas, a equipa tem uma segunda volta com alguns jogos importantes em casa, “obrigando” os rivais a irem ao seu estádio: CR Flamengo, SE Palmeiras ou Grémio FBPA, que são três das restantes quatro equipas que estão no top 5 do Brasileirão, vão ter que ir à casa do Botafogo. Ainda assim, há que ter cuidado com certas deslocações, como ao Fluminense ou ao SC Corinthians, clubes com capacidade de gerir um ambiente bastante hostil a quem os visita.
A estabilidade emocional é um outro ponto que traz segurança ao Botafogo. Não existe qualquer polémica envolvendo o plantel, nem a equipa técnica. De facto, o momento mais conturbado da época ocorreu com a saída de Luís Castro, para o Al Nassr FC, que foi ultrapassado em total segurança, com um ótimo trabalho de Cláudio Caçapa na função de interino e a chegada de Bruno Lage, um técnico com a mentalidade e postura absolutamente correta, para o que é vivido no seio do grupo de trabalho. Flamengo ou Palmeiras não vivem uma fase parecida, o que para a análise deste prisma, é ótimo.
No conjunto de Jorge Sampaoli, somam-se polémicas e críticas, sendo a última delas a agressão de um preparador físico a Pedro, avançado dos rubronegros. As conferências de imprensa recheadas de palavras fortes por parte de Abel Ferreira, não ajudam a que o “seu” Palmeiras se aproxime do primeiro posto. A presença de elementos experientes no balneário, como Gatito Fernández, Joel Carli, Victor Cuesta ou Tiquinho Soares protege os jovens e cria um grupo maduro, de modo a evitar polémicas.
Os matemáticos afirmam que se o Botafogo atingir os 84 pontos, terá 100% de probabilidades de ser coroado como campeão. Embora esta marca esteja longe, falta quase uma volta por disputar. E não há dúvida que não será necessário atingir esse número, porque os adversários vão errar. O Brasileirão é uma competição muito disputada, onde os últimos podem surpreender os primeiros e qualquer equipa pode entrar em crise com relativa facilidade. O Botafogo está a fazer um trabalho exímio para evitar essa situação, daí ser o principal favorito à conquista do título, a fazer recordar o Sporting CP 2019/20, que perder muitos pontos na segunda volta, mas que celebrou o primeiro posto com relativa tranquilidade
No entanto, há um exemplo que os responsáveis do conjunto do Rio de Janeiro deveriam estudar e analisar, de modo a não se repetir. O caso do São Paulo FC 2020, comandado por Fernando Diniz é um exemplo de como perder um campeonato com uma vantagem confortável. O clube tinha sete pontos de vantagem e acabou por cair, terminando inclusivamente no quarto posto. A quebra de forma de jogadores, crise de lesões, plantel curto e a perda de alegria em jogar futebol, são algumas das razões que levaram o tricolor paulista a perder um título que estava na sua mão.
O Botafogo não mostra qualquer sinal que pode sofrer com o mesmo processo, mas o foco tem que ser trabalhado diariamente, por todas as áreas do clube. Caso contrário, este discurso positivista, com o qual as pessoas ligadas ao mundo do futebol olham para a situação, pode mudar radicalmente. 2023 pode ser o ano em que se deixe de olhar para a estrela solitária como o emblema do azar ou do “quase”.
