O andebol português passa hoje por uma das suas melhores fases dos últimos anos. As prestações europeias do Sporting Clube de Portugal e do FC Porto são a prova viva disso mesmo. Na mesma lógica, a seleção nacional está de volta às grandes competições e disputará, em janeiro, o europeu.
Simultaneamente, temos vindo a assistir a um fosso cada vez maior entre os três grandes e os restantes. Numa primeira fase, Sporting e Porto distanciaram-se dos seus adversários. O desempenho de ambos nas competições europeias é, de certa forma, demonstrativos da evolução que têm vindo a fazer. Perante este cenário, o SL Benfica tenta este ano aproximar-se, tendo feito um investimento considerável de forma a ser um verdadeiro candidato ao título.
Em 2015-2016, o ABC conseguiu sagrar-se campeão nacional e bater o SL Benfica na final da Taça Challenge. Esse cenário parece hoje quase anedótico, mas a verdade é que foi possível e não foi assim há tanto tempo. O que falta para que seja possível um outsider sagrar-se campeão novamente?
COMO EQUILIBRAR UMA BALANÇA ALTAMENTE DESIQUILIBRADA?
Qual é então a conclusão que devemos retirar? O investimento dos três grandes e o seu sucesso nas competições europeias é incompatível com um campeonato mais competitivo? O que pode a Federação Portuguesa de Andebol (FPA) fazer para diminuir o fosso entre os três grandes e os restantes?
Todas estas perguntas são bastante complexas e não podem ser resolvidas com soluções mágicas.
Em primeiro lugar, e numa opinião muito pessoal e que pode ser algo controversa, entendo que o recente investimento por parte de Sporting, FC Porto e SL Benfica terá como consequência natural uma diminuição da competitividade do campeonato português, pelo menos no curto prazo. A contratação de jogadores como Carlos Ruesga, René Toft Hansen, Carlos Molina, Djibril Mbengue ou Tiago Rocha faz, naturalmente, com que a balança se desequilibre favoravelmente para os três grandes.
Por outro lado, a participação positiva das equipas portuguesas nas competições europeias faz com que os jogadores sejam sujeitos a momentos de maior pressão competitiva e o seu processo de evolução seja naturalmente mais positivo. Um dos melhores exemplos do que acabei de referir é o jogador do Sporting Pedro Valdés. Em 2017-2018, chegou ao clube de alvalade vindo do Avanca e desde aí a sua evolução tem sido exponencial.
Como em quase todas situações, existe sempre um reverso da medalha. Como adepto do andebol português, desejo que as equipas portuguesas continuem a triunfar por essa Europa fora. Entendo também que esse mesmo sucesso pode não ser incompatível com a competitividade do campeonato português. No entanto, para que tal aconteça, a FPA tem de tomar rapidamente algumas medidas para proteger e “favorecer” as equipas mais pequenas.
A ETERNA DISCUSSÃO: PLAYOFFS OU FASE REGULAR?
Uma das grandes discussões do andebol português é qual o modelo competitivo mais adequado para a nossa realidade. Atualmente, temos uma fase regular normal, seguida de uma segunda fase em que as seis melhores equipas disputam o título e as seis piores lutam para ficar na primeira divisão. A variante é que da primeira para a segunda fase as equipas vêm os seus pontos reduzidos para metade.
Confesso que entendo a opção por este modelo competitivo. Em primeiro lugar, permite que Porto, Sporting e Benfica se defrontem inúmeras vezes. Se fizermos as contas, vemos que temos por época pelo menos 12 jogos entre os três grandes. Esta é um aspeto que não deve ser desvalorizado. A modalidade precisa de visibilidade e este tipo de jogos são quase sempre os que alcançam mais pessoas e, verdade seja dita, são também os jogos mais espetaculares.
A outra solução seria a adoção dos playoffs. Na minha opinião, esta seria a solução ideal.
Em primeiro lugar, porque permitiria um aumento da competitividade interna. Bem sei que este é um argumento controverso, mas entendo que é mais fácil o ABC bater Sporting, Benfica ou Porto num playoff do que num campeonato inteiro.
Em segundo lugar, esta solução retiraria importância à fase regular e permitiria às equipas portuguesas apostar forte nas competições europeias, que têm às suas fases iniciais nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro.
Por último, os playoffs fariam com as equipas grandes se defrontassem entre si um maior número de vezes e que esses mesmos jogos tivessem um caráter decisivo ainda maior. Para além da maior visibilidade, esse tipo de jogos são as situações em que os jogadores mais evoluem.
Em suma, a verdade é que o no ano em que o ABC se sagrou campeão o modelo competitivo em vigência eram os playoffs. Este parece-me a maior prova de que a solução que maior promove a competitividade e diminui o fosso entre os três grandes e os restantes são mesmo os playoffs.
FUTURO RISONHO
Apesar de entender que o atual modelo competitivo não é o mais adequado, não queria deixar de dar uma palavra à FPA e ao trabalho que a mesma tem vindo a desenvolver. O sucesso das seleções nacionais, sobretudo nos escalões mais jovens, e a fase em que o andebol português atualmente se encontra em muito se deve à FPA.
Para terminar, penso que o regresso dos playoffs estará para breve e, a acontecer, seria a cereja no topo do bolo.
Foto De Capa: EHF Champions League
artigo revisto por: Ana Ferreira