Lasitskene e a suspensão russa
Como já abordámos anteriormente, a russa foi particularmente afetada pela suspensa à Federação Russa (RusAF) em virtude das falhas da sua agência antidopagem (RUSADA) bem como do envolvimento e encobrimento Estatal. O facto dos Jogos Olímpicos apenas se realizarem de 4 em 4 anos significam que uma ausência é especialmente notada, uma vez que os atletas só daí a 4 anos têm uma nova oportunidade, o que no caso dos saltadores ainda ganha uma maior dimensão, uma vez que manter uma carreira ao mais alto nível durante 12 anos (3 ciclos olímpicos) não é algo particularmente comum.
O Desporto, e o Atletismo em particular, têm sempre o seu grau de incerteza e não é por isso seguro dizer que Lasitskene teria hoje já um Ouro olímpico no seu palmarés. Ainda assim, é racional constatarmos que se a mesma tivesse estado presente no Rio teria sido uma das principais favoritas, entrando em prova como a campeã mundial. A russa nunca escondeu que esta é uma espinha atravessada na sua garganta, embora a mesma sempre tenha apontado críticas – mais ou menos diretas – em igual medida à IAAF e à Federação Russa.
No que diz respeito à IAAF, a voz das suas críticas tem sido sucessivamente o seu marido Vladas Lasitskas – comentador da Eurosport Russia – que várias vezes nas redes sociais tem chamado à atenção para o que afirma serem comportamentos discriminatórios e diferenciados da IAAF. Entre exemplos apresentados por Vladas estão o facto de outras nações terem tantos ou mais casos de doping do que a Rússia, de uma forma bastante regular com a conivência de autoridades e sistemas locais sem que nada aconteça a nível de sanções. Também é comum lermos comentários de Lasitskas chamando à atenção para a falta de reconhecimento da IAAF e da European Athletics para com Mariya, não a nomeando sucessivamente para as listas finais dos prémios de melhores atletas do ano, o que o mesmo afirma ser uma extensão do castigo russo. Já que no refere à RusAF, Vladas não está sozinho e também Mariya Lasitskene já se fez ouvir, criticando a falta de ação da Federação Russa para cumprir com os parâmetros internacionais e de alguma falta de apoio da federação para com os atletas que têm o atual estatuto de atletas neutrais. A posição da atleta – que muitas vezes parece ser veiculada através do seu marido – é a de que a Rússia deve cumprir com as regras do jogo, mas que em caso de incumprimento, isso não deve ser algo que afete diretamente os atletas que nunca violaram qualquer regulamento anti-doping e que são prejudicados apenas por serem nacionais russos. A própria situação de atleta neutral é encarado como um mal necessário, embora a atleta não esconda o seu desconforto por não representar a bandeira russa e por não poder ouvir o hino nacional do seu país quando sobe ao lugar mais alto do pódio.
A situação russa preocupa tanto a atleta que, receando que volte a ter de ficar de fora de uma grande competição internacional, reconheceu esta semana em entrevista à agência russa TASS, que caso a suspensão russa se mantenha em 2019, já planeia mudar de residência para o exterior do país para que possa ser testada de acordo com as exigências da WADA. Neste momento, a WADA levantou temporariamente a suspensão russa, e a decisão será definitiva desde que a RUSADA cumpra com um conjunto de requisitos, que parecem longe de resolução. Durante todo este processo, a IAAF decidiu não seguir a decisão da WADA e continua a proibir todos os atletas russos de competir em representação da bandeira nacional.