A invencibilidade de Shaunae Miller-Uibo

    A época de Miller-Uibo teve ainda a particularidade de terminar sem qualquer derrota, tendo vencido todas as provas em que participou (e até fez Salto em Altura e Lançamento do Peso nos Nacionais!), sendo a única atleta em 2018 (feminino ou masculino) a dominar por completo, com invencibilidade absoluta, duas disciplinas em simultâneo! 

    O que esperar para 2019

    É bastante incerto falarmos do que poderá ser Miller-Uibo em 2019, não pela sua qualidade e provável evolução, mas sim porque tudo irá ser determinado pelas suas escolhas durante a época. Os Mundiais de Doha, que se realizam apenas entre Setembro e Outubro do próximo ano, marcarão o ponto alto da temporada e os atletas apontarão o pique para essas datas tardias. No entanto, Miller-Uibo tem muito que decidir e planificar até aí chegar. Sendo uma atleta que tem apresentado tão elevado nível nos 200 e nos 400 metros, em Doha terá obrigatoriamente que fazer uma escolha, por muito que a atleta tenha mostrado previamente intenções de dobrar as distâncias. É que olhando para o último calendário divulgado pela IAAF, não se vislumbra tal possibilidade, uma vez que existem – em mais do que um dia – eliminatórias de ambas as distâncias separadas por minutos!  Em condições normais e, dado, ter feito a enorme marca que fez nos 400 metros, parece sensato que a aposta passe pelos 400 metros, até porque será dela esperado que também ajude a sua nação na estafeta feminina e na estafeta mista, onde tem elevadas expetativas. 

    A estafeta mista 4×400 com nomes como Miller-Uibo e Steven Gardiner é uma grande aposta das Bahamas
    Fonte: Olympic

    Mas não existindo ainda um pronunciamento oficial da atleta nem da sua agência, não sabemos se passará por aí a aposta. Quanto a marcas, acreditamos que em ambas as distâncias tem margem de progressão. Nos 200 parece claro que tem mais do que os 21.88 para mostrar e nos 400 – com a “ajuda” da pressão de Naser – pode ainda subir alguns lugares na tabela das mais rápidas de sempre, sem que pareça plausível poder alcançar as marcas de Marita Koch (47.60) e Jarmila Kratochvílová (47.99), tempos que têm a sua aura de ceticismo e que são sempre encarados com um asterisco à frente pela maioria dos fãs do desporto. 

    A concorrência que enfrenta(rá)

    Caso a atleta decida apostar nos 200 metros em Doha, poderá ter a concorrência dos grandes nomes mundiais da velocidade mais curta. Elaine Thompson (a campeã olímpica) caso pretenda dobrar distâncias e Dafne Schippers (a campeã mundial) poderão apresentar-se como sérias ameaças, sem esquecer Marie-Josée Ta Lou (dupla medalhada de Prata em Londres) ou Dina Asher-Smith (a mais rápida em 2017). É, no entanto um tiro no escuro a um ano dos Mundiais fazer tal tipo de previsões, especialmente porque é bastante provável que algumas atletas não queiram fazer duas distâncias, apostando no aumento de probabilidade de sucesso se se concentrarem exclusivamente numa prova. 

    Ainda assim, a nossa aposta é que Miller-Uibo apostará nos 400 metros. Aí deverá ter a companhia da jovem, de apenas 20 anos, que representa o Bahrein, Salwa Eid Naser. Naser correu este ano mais do que nunca e apenas perdeu uma prova de 400 metros – a prova de Bruxelas onde Miller-Uibo baixou pela primeira vez dos 49 segundos! Nesse dia, Naser correu em impressionantes 49.08 segundos – um novo recorde asiático – e mais tarde viria a conquistar os Jogos Asiáticos e a Liga Diamante na distância. A jovem já afirmou que pretende correr algumas provas de 200 em 2019, mas parece-nos altamente improvável que a sua grande aposta não sejam os 400 metros. Será de momento a maior rival de Miller-Uibo e as duas em prova é promessa de uma corrida rapidíssima, com estilos muito diferentes mas igualmente eficazes. Miller-Uibo faz uso dos seus 1.85 metros e pernas longas para imprimir uma passada larga, chegando bastante forte aos metros finais. Já Naser que, curiosamente, também acaba bastante bem, é normalmente das mais baixas em pista (1.68 metros) em provas de 400 metros, mas nunca se deixa intimidar, sendo mortífera caso chegue à curva final em posição de discutir medalhas, como provou em Londres.

    A rivalidade com Naser promete!
    Fonte: IAAF

    Longe dos holofotes em 2018 e a regressar em 2019 teremos a experiente Allyson Felix. A norte-americana, que é a mulher mais medalhada da história em eventos globais no Atletismo, prepara-se para fazer o último ciclo da sua carreira, ponderando o término em Tóquio (2020) ou Eugene (2021). Continua com a mesma fome de vencer, embora admita que está numa fase da carreira que tem que ser mais inteligente na forma de gestão. Nos 400 metros, Felix nunca correu tão rápido quanto Miller-Uibo ou Naser. A atleta tem um melhor pessoal de 49.26, mas nos últimos 3 anos não baixou dos 49.5, sendo difícil ver uma forma de Allyson Felix bater as duas atletas anteriormente mencionadas, quando chegar a Doha, à beira de completar 34 anos. 

    Phillys Francis é a campeã mundial em título e retirá-la da equação seria cometer um grave erro como o foi há 1 ano atrás. Os seus 49.92 que tem como recorde pessoal (na final de Londres) parecem longe de Miller-Uibo, mas numa final (quase) tudo pode acontecer e a final da capital inglesa prova isso mesmo. Francis tem o hábito de correr o seu melhor nos momentos mais importantes da temporada e em finais (nacionais ou globais), pelo que será uma das atletas que antevemos que não terá problemas em atingir o pico numa fase tão tardia do ano. Tem um wild card para Doha pelo que a preparação e o seu planeamento será exclusiva para esse momento da época, sem ter que se preocupar com o ranking mundial ou com as prestações nos Nacionais. 

    Depois existem um conjunto de atletas que são uma incógnita. Lynna Irby (19 anos) e Kendall Ellis (22 anos) são duas jovens norte-americanas que baixaram dos 50 segundos este ano e se voltarem a correr a esse nível poderão lutar por um lugar na equipa norte-americana. Aliás, a seleção norte-americana parece tão apertada, que até estávamos a deixar de fora a campeã mundial de pista coberta (Courtney Okolo) e a mais rápida do ano a seguir a Miller-Uibo e Naser: Shakima Wimbley! Isto se Sydney McLaughlin não quiser fazer uma gracinha na distância sem barreiras…

    Na equação até pode aparecer Caster Semenya! A sul-africana surpreendeu tudo e todos, com os incríveis 49.62 segundos na Continental Cup de Ostrava. Não chegaram para bater Naser, mas chegaram para provar que se a sul-africana quiser apostar nos 400, tem grandes possibilidades de ser bem-sucedida. Sabemos que fará a “sua distância”: os 800. Provavelmente irá dobrar, resta saber se quererá fazer os 1500 ou os 400. O calendário parece mais propício para a prova de 1500 metros, mas é sempre uma possibilidade. 

    Quando Miller passou a Miller-Uibo

    Como nota final, e como sabemos que por vezes existe alguma confusão com o nome de Shaunae, sendo que por vezes chamamos Miller e outras Miller-Uibo. Foi como Shaunae Miller que se deu a conhecer ao mundo e isso só mudou em Fevereiro de 2017 quando Miller casou com o estónio Maicel Uibo, adotando o seu apelido. E porque é que isto é também importante para este artigo? É que Maicel Uibo é também ele um atleta, das provas combinadas, que este ano foi medalhado de Bronze no Heptatlo dos Mundiais de Pista Coberta em Birmingham!

    O dia em que passou a ser Miller-Uibo
    Fonte: Shaunae Miller-Uibo

    Foto de Capa: IAAF Diamond League

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    Pedro Pires
    Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.