“O homem não se mede pelas vezes que cai, mas sim pela elegância com que se levanta” – a universal frase de Charlie Chaplin assenta, desta vez, no percurso trilhado por Nelson Évora ao longo do último ano e que culminou com a surpreendente conquista da medalha de bronze na prova do triplo salto nos Mundiais de Atletismo, a decorrer em Pequim.
Após uma nova grave lesão (fractura na tíbia da perna direita), em 2010 – acentuando ainda mais um já complexo histórico de problemas físicos –, eram poucos os que acreditavam num regresso de Nelson Évora ao mais alto nível: as previsões mais realistas apontavam para a sua ausência nas próximas grandes competições, o que se veio a confirmar nos Jogos Olímpicos de 2012; com 31 anos, ganhava forma o cenário de um final de carreira precoce para o antigo campeão olímpico do triplo salto (“ouro” conquistado em Pequim, em 2008). Todavia, o atleta português rejeitou a reforma antecipada, ou a alternativa de permanecer na sombra: enfrentando problemas reais e imaginários, encontrando forças naqueles que lhe são mais próximos, iniciou uma caminhada dura e silenciosa rumo à recuperação total. O regresso ao topo deu-se, por uma feliz coincidência do destino, no “ninho” onde havia sido mais feliz.
No início da competição, o nome de Nelson Évora suscitava – a adversários e observadores – a simpatia de um reconhecimento remoto. Os seus números deixavam-no distante do lote de favoritos à vitória – apenas o 6.º melhor registo mundial do ano (17,24 metros) –, e nem sequer o recente título no Europeu de “indoor” impressionava em demasia. Com o decorrer da prova, porém, foram surgindo sinais positivos. À entrada para a final, Nelson Évora (recuperado física e animicamente) já vislumbrava o patamar de excelência, a que sempre pertenceu. O norte-americano Christian Taylor (com uns impressionantes 18,21 metros, a segunda melhor marca de sempre) e o cubano Pedro Pichardo (17,73) confirmaram, sem surpresas, o favoritismo teórico, conquistando ouro e prata, respectivamente. Entretanto, a luta pelo lugar mais baixo do pódio continuava ao rubro, com Évora e Omar Craddock (EUA) a suarem cada centímetro na areia. Apenas na sua sexta e derradeira tentativa, com uma marca de 17,52 metros (o seu melhor registo dos últimos três anos), Nélson Évora confirmou a medalha – os efusivos festejos após o concurso evidenciaram, para o país e para o mundo, a importância de um resultado de bronze com sabor… a ouro.
No balanço destes Mundiais, Nelson Évora admitiu que ainda “voa” baixinho. Este resultado serve, essencialmente, para uma afirmação individual fundamental: a reforma ainda vem longe. As atenções estão já centradas nos Jogos Olímpicos de 2016, onde o atleta português tem a ambição de chegar à marca dos 18 metros e, assim, intrometer-se na luta pelo ouro. Os resultados alcançados nestes campeonatos recolocam o atleta do Benfica como a principal figura da representação portuguesa presente no Rio de Janeiro.
Foto de capa: Facebook do Benfica-Modalidades