Estamos a exactamente 18 meses dos Mundiais de Doha. É o próximo evento global e o primeiro após o final de carreira de Usain Bolt, o que por si só já é um desafio. A escolha de Doha pareceu estranha há pouco mais de 3 anos e hoje parece ainda mais arriscada. Será este um passo certo da IAAF ou um passo em falso, numa altura em que o desporto recupera de várias batalhas?
Se olharmos para todas as edições anteriores de Mundiais ao ar livre, veremos um padrão que não observamos nesta escolha. O Qatar é um país com pouca tradição no Atletismo. Aliás, em toda a história de Campeonatos Mundiais, o Qatar apenas venceu 7 medalhas (face a 19 portuguesas, por exemplo), sendo o 44º país no ranking global de medalhas. É verdade que neste momento tem Mutaz Essa Barshim, um dos nomes grandes da modalidade e do Salto em Altura em específico. Tem também apostado em naturalizações e prospeção jovem, como é o caso de Abdalelah Haroun, nascido no Sudão e medalhado nos 400 metros de Londres ou o velocista nascido na Nigéria, Femi Ogunode. Mas também é verdade que parece ser pouco.
A nível de eventos de Atletismo, Doha já tem um Meeting anual presente na Diamond League. É o primeiro de cada época e embora em termos organizativos seja exemplar, a verdade é que é apenas uma sessão de três horas num estádio de 19.000 pessoas. Levanta-se aqui a grande interrogação: como irão encher o estádio de 48.000 pessoas em 10 dias de eventos dos Campeonatos Mundiais? A organização garante que voltaremos a ter os estádios cheios, como sucedeu em Londres, campeonatos que bateram todos os recordes a nível de assistências, com praticamente todas as sessões cheias. Mas a pouco mais de 1 ano, não existe ainda informação sobre qual será a estratégia a adoptar, o que não sossega a IAAF.
A juntar a tudo isto, existem preocupações no que diz respeito ao ambiente político entre o Qatar e alguns vizinhos do Golfo Pérsico (com acusações de financiamento de terrorismo), mas sobretudo devido a investigações que decorrem relativamente a acusações de corrupção e compras de votos no processo de selecção da cidade, que implicam até Lamine Diak, que era à altura o presidente da IAAF e o seu filho, com acusações de que Diak terá recebido uma simbólica quantia de…5 milhões de dólares para atribuir a organização à cidade! Sebastian Coe, o actual presidente da IAAF, foi apanhado no meio do furacão, com a batata quente nas suas mãos, a juntar ao escândalo de doping russo, bem como uma série de trapalhadas deixadas pela direcção anterior.