Nike Oregon Project – Afinal o que é o projeto de Alberto Salazar?

    As polémicas e as suspeitas 

    O facto de atletas instalarem-se no campus, colocando em segundo planos os seus estudos – como aconteceu com Galen Rupp – é algo que tem levantado alguma polémica e que eticamente tem os seus críticos. A verdade é que é uma opção dos próprios atletas se querem ou não dar o salto para a Universidade ou começar de imediato a apostar na carreira desportiva. Nos EUA, sabemos que a primeira opção é bastante mais comum e é até quase ofensivo não o seguir. No entanto, não é uma característica exclusiva deste centro. Noah Lyles, por exemplo, é um atleta Adidas, que também preferiu saltar esse etapa do seu desenvolvimento, apostando cedo na profissionalização. Existem, ainda assim, diferenças nos casos. O regime intensivo e até de reclusão que Galen Rupp, por exemplo, viveu durante essa etapa não é o mesmo que Noah Lyles partilha nas redes sociais acerca da sua rápida transição para a profissionalização. Mas, mais uma vez, ainda que se discuta a ética de “atacar” estes talentos desde bem cedo e tentar moldá-los à filosofia do projeto, não parece existir qualquer base legal que possa servir de polémica. 

    Outro fator que normalmente “levanta ondas”, como se costuma dizer, são os regimes bastante intensivos de treinos utilizados por Alberto Salazar. Recentemente, Rupp confessou que corre uma Maratona inteira numa passadeira, por vezes e que não acha isso nada de extraordinário porque também corre mais de 30km à volta de um terreno de apenas 300 metros, provando que Salazar é um técnico que adora repetição e que considera isso fundamental para ter resultados a longo prazo. 

    Mas as grandes polémicas do projeto estão relacionadas com as sempre presentes suspeitas em relação aos métodos utilizados e as suas potenciais ligações a substâncias proibidas. Desde o seu começo que as salas/casas de altitude têm levantado alguma polémica quanto à sua legalidade e efeitos no corpo humano. Ainda assim, este é um método utilizado um pouco por todo o mundo (onde não se faz treino de altitude não simulado) e é bastante comum, por exemplo na Grã-Bretanha, ouvirmos atletas a referirem-se a tal treino de forma natural. A USADA e, mais tarde, a WADA debruçaram-se sobre o assunto, mas até ao momento o método continua a ser aceite e legal. 

    No entanto, as maiores suspeitas surgiram em Junho de 2015, quando um documentário da BBC mostrou e acusou Alberto Salazar de incentivar os seus atletas a utilizar medicamentos prescritos, mesmo que não tenham qualquer doença, de forma a melhorar a sua performance. Dois presumíveis ex-atletas do projeto terão confidenciado, anonimamente, que foram incentivados a correr de forma bastante intensa antes de um teste de asma, de forma a aumentar as chances de obterem uma prescrição para um inalador. 

    Também são mostradas imagens com a frase “medicação de testosterona” num gráfico acerca de Galen Rupp, embora a defesa é de que essa frase dizia respeito a suplementos naturais para esse fim. Existem também polémicas quanto ao alegado gel de testosterona que terá sido encontrado depois de uma sessão de treinos em Utah, que Salazar terá respondido que seria parte da sua medicação para o coração. Acusações envolvem ainda a atleta Kara Goucher, que supostamente terá dito a Dvaid Epstein (o repórter por detrás da investigação) que foi forçada por Salazar a utilizar uma substância proibida – Cytomel. Todas essas alegações foram negadas por Alberto Salazar e as cartas escritas pelo técnico respondendo a todas as acusações podem ser encontradas no site oficial do projecto – https://nikeoregonproject.com/blogs/news/35523713-alberto-open-letter-part-2.  Ainda assim as acusações a Alberto Salazar e os seus métodos têm subido de tom e ler os seguintes artigos do NY Times e do Boston Globe, que exploram as acusação atuais que o técnico enfrenta, poderão ajudar a entender melhor a dimensão dessas mesmas acusações no momento:

    https://www.nytimes.com/2017/05/19/sports/nike-oregon-project-alberto-salazar-dathan-ritzenhein.html 

    https://www.bostonglobe.com/metro/2018/04/12/celebrated-coach-alberto-salazar-faces-doping-allegations-shadow-cast-over-two-his-elite-runners-competing-boston-marathon/Uh490TOBRqRvVUu6wbm36M/story.html 

    Se os métodos de Alberto Salazar e a sua equipa são legais, não o sabemos. Se são éticos, existem ainda mais possibilidades de resposta. A verdade é que, embora o Oregon Project ainda não tenha atingido a grandeza a que se propôs a nível do domínio norte-americano na meia e longa distância, os bons resultados do projeto da Nike são visíveis e o crescimento de atletas como Sifan Hassan, Yomif Kejelcha, Galen Rupp ou Jordan Hasay é sempre acompanhado por um considerável grau de ceticismo. Com razão ou não? O tempo possivelmente o dirá.

    Foto de Capa: Nike Oregon Project

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    Pedro Pires
    Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.