Quénia e Etiópia: Porquê tão fortes?

    A Geografia: Durante muito tempo se pensou que a vantagem competitiva se devia maioritariamente à geografia destes povos e à altitude de onde são provenientes. Também contribui. Claro que existem muitos outros povos por esse mundo fora que vivem em elevadas altitudes e não possuem os mesmos resultados desportivos do leste africano, muitos aliás nunca sequer produziram um atleta de topo. Verdade também é que um dia se pensou que os finlandeses dominavam devido à sua geografia e à suposta “energia climática” presente. Ainda assim, é um facto que o facto de estarem habituados a viver e treinar em altitude (em alguns casos, acima dos 2000 metros), permite que os pulmões dos habitantes destas regiões tenham uma maior capacidade de oxigenação que irá influenciar o rendimento e consequentemente a economia de corrida. A tudo isso junta-se o facto de correrem em terrenos em terra batida e montanhosos, requerendo um treino de maior força. Mesmo entre quenianos, existe uma comprovada diferença entre os que vivem em regiões onde têm que se deslocar para a escola – quando crianças – a pé, a correr ou os que utilizam outros meios de transporte. Ainda que este seja um argumento várias vezes negado como crucial, o gráfico abaixo comprova a diferença entre quenianos comuns (no grupo controlo) e quenianos atletas de alta competição, podendo perceber o peso que essa força do hábito pode vir a ter nos atletas do futuro. Conforme nos explica o treinador formador de muitas estrelas no leste africano, Renato Canova “É bem mais pelo tipo de vida que levam: dez quilómetros a pé para ir e voltar da escola e, quando chegam a casa, brincam mais três ou quatro horas, a correr”.

    Fonte: runnersworld
    Fonte: runnersworld

    A Dieta: Uma dieta rica e simples baseada em carbohidratos é o maior sonho do nosso nutricionista ou personal trainer, mas nesta região do globo isso é algo que acontece desde bem cedo, de forma natural, sem ser necessário qualquer esforço extra. Arroz, muita massa de milho (ugali) várias vezes ao dia, muito leite, muitos legumes, chá, pouca carne e praticamente nenhum alimento processado. Parece monótono, mas é a combinação ideal que permite aos atletas destas regiões manterem os baixos níveis de massa gorda no corpo, ajudando no treino e na recuperação diária. Sozinha nada faz e todos podemos replicar (em certa medida) a mesma alimentação. Mas contribui.

    Cultura de Corrida: Todos os dias é comum ver grupos de dezenas, 100, 200 corredores em conjunto, guiados por actuais ou antigas estrelas da resistência. Isto vê-se no Quénia, na Etiópia, mas é uma visão impensável para quem se encontra no Ocidente. É o desporto, por excelência, da grande maioria dos que aspiram a ser atletas, porque além de ser o “mais fácil” (afinal, é “só” correr), é ainda o mais barato (poucos ou nenhuns custos associados ao treino) e no qual existem referências nacionais ali junto a eles. Claro que o gosto pela corrida também se explica pela busca pela melhoria das condições financeiras. Um atleta de nível intermédio (não atingindo o estrelato internacional) poderá ganhar mais dinheiro do que um professor ou um agente da polícia em ambos os países. Imaginar que podem chegar ao nível máximo do reconhecimento internacional e associar isso ao factor financeiro pode ser um grande elemento motivador no percurso destes atletas.  Kipchoge “Kip” Keino no Quénia, Adebe Bikila na Etiópia foram pioneiros nos seus países e são dos maiores responsáveis pelo sucesso fora de portas. São mais de cem clubes de atletismo registados oficialmente no Quénia, mas muitos outros existem de forma não oficial.

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    Pedro Pires
    Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.