Quénia e Etiópia: Porquê tão fortes?

    Trabalho / Treino: Não é um argumento que cai muito bem no Ocidente, mas a verdade é que, embora todos os factores apresentados contribuam, a chave deverá mesmo estar aqui. O tipo de treino e intensidade dos treinos nesta zona do globo são bastante mais exigentes do que os que estamos habituados no Ocidente. O respeito pelo descanso e pela importância da recuperação está presente na sua rotina, mas isso não impede que treinem regularmente mais do que uma vez por dia desde pequenos, em terrenos difíceis, com várias elevações, muitos treinos em ritmo de corrida, muitos treinados intervalados e intensidade bastante elevada. Claro que muito desse espírito vem dos factores anteriormentes apresentados. Muitas vezes é a motivação dos pares ou a questão financeira apresentada no ponto anterior, que imputa essa força de vontade e espírito de sacrifício acima da média. Se no Ocidente, o Atletismo é visto como um desporto que paga mal (Usain Bolt à parte), em certas regiões do globo é a via mais fácil para um vida financeira estável e isso só se consegue com muito trabalho. No Quénia e na Etiópia toda a gente treina. E muito. A competição interna é tão intensa quanto a internacional e é aqui a base de tudo. Se não mostrarem a diferença internamente, nunca alcançarão a glória no exterior. Ser o melhor não é fácil e exige um trabalho extra, único, que não tem paralelo em outro pais a nível do Atletismo (talvez apenas os EUA na velocidade – com ou sem barreiras – se assemelhem a nível de exigência interna). “Se fores o melhor no teu país, podes muito bem ser o melhor do mundo. Treina duro, sê humilde, reconhece as tuas fraquezas e no final as recompensas aparecerão.”.

    Crenças – O factor psicológico: Numa pequena cidade etíope, Bekoji, com apenas 16.000 habitantes já se viu entrar mais medalhas olímpicas do que, por exemplo, Portugal tem em toda a sua história do Atletismo olímpico. As irmãs Dibaba, Bekele ou Derartu Tulu são apenas alguns dos gigantes que ali nasceram e cresceram. Olhando para os exemplos que os rodeiam, quem dessa comunidade faz parte sabe do seu sucesso, convive com ele todos os dias, sabe que isso é possível e quer repetir os feitos. É como se existisse um sentimento de responsabilidade e de tradição a seguir. A crença que existe no mundo de que os atletas desta região são superiores e imbatíveis acaba por influenciar no espectro psicológico. Afecta os leste-africanos porque se consideram, de facto, mais fortes e com um legado a respeitar e honrar. Afecta todos os outros porque assumem a superioridades dos leste-africanos antes mesmo das provas iniciarem, antevendo que não serão capazes de dar resposta e falhando assim nos momentos importantes. Muitas vezes o que se vê no olhar de quenianos/etiopes é aquele sentimento de imbatibilidade em que eles próprios acreditam. O mesmo que os jamaicanos acreditam e demonstram desde bem cedo na velocidade. Alguém se recorda da expressão e do comportamento de Conseslus Kipruto (KEN) em Londres este ano, ao terminar a prova em primeiro lugar e conquistando o Ouro? E o favorito este ano até era o americano Evan Jager. No final, algo correu mal e Jager ficou com o Bronze. Ou correu bem. Afinal, correu como toda a gente pensa que acabará por correr. Com a vitória de quem é superior.

    [ot-video type=”youtube” url=”https://www.youtube.com/watch?v=SDns5ufhOY8″]

    Gostaríamos de encontrar uma razão que explicasse todo o sucesso do leste-africano na resistência. Mas essa razão não existe. Existem vários factores que explicam esta superioridade e que só em conjunto podem resultar. Resta-nos apreciar o cenário e imaginar até onde os limites do corpo humano podem chegar a nível de resistência física.

    Foto de Capa: Traininkenya.com

    - Advertisement -

    Subscreve!

    Artigos Populares

    Pedro Pires
    Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.