Recordar é Viver: O dia em que Inês venceu para ser igual

Depois da distância, no feminino, ter sido oficialmente aprovada pela IAAF (agora, World Athletics), o ano de 2017 deu-nos a primeira recordista oficial do evento: Inês Henriques!

Antes, a IAAF já havia deliberado que, a partir de 1 de Janeiro desse ano, qualquer performance abaixo das 4:30:00 seria aceite, cumprindo os pressupostos para recorde mundial. Com essa aguardada aprovação, após vários anos de luta pela integração da distância, Inês Henriques participou nos Campeonatos Nacionais, em Porto de Mós, a 15 de Janeiro. Mostrando estar totalmente preparada, a portuguesa terminou a prova em 4:08:26 (apesar de difíceis 5 km finais em mais de 30 minutos).

Dúvidas, no entanto, se mantiveram, relativamente à incorporação da disciplina, no feminino, nos Mundiais de Londres. A IAAF defendia não ter tempo para a mudança de programa, argumentando ainda que não existiam atletas femininas, de elite, em número suficiente para que o evento fosse suficientemente competitivo para fazer parte do programa dos Mundiais nesse ano.

A intenção inicial da IAAF era que as mulheres pudessem participar na prova masculina (sem medalhas femininas) e que, para se qualificarem, deveriam alcançar o mesmo mínimo que os homens (4:06:00), algo que não acontece em nenhuma disciplina. No entanto, várias federações pressionaram a organização (o treinador de Inês Henriques, Jorge Miguel, foi um dos que mais esteve na frente dessa batalha) e a ameaça de uma ação legal contra a IAAF, interposta pelo advogado norte-americano Paul DeMeester, foi fundamental para que a organização se tenha decidido pela inclusão da prova nos Mundiais de Londres… 12 dias antes do início dos Campeonatos!

Nessa decisão, anunciada a 23 de Julho, a IAAF deliberou também que a marca de qualificação – 4:30:00 – teria que ser alcançada até ao dia 25 desse mês… e que as atletas apenas poderiam terminar a prova, caso passassem o quilómetro 48 com um tempo abaixo de 4:17, no que muitos viram um “presente envenenado” por parte da IAAF. O mínimo da IAAF apenas tinha sido alcançado por cinco mulheres até essa data, ao qual se juntaram duas outras campeãs de área.

E assim, a 13 de Agosto de 2017, fez-se história, com sete mulheres a partirem, junto com os homens, para a primeira prova de 50 km feminina na história dos Mundiais. Inês, que junto com o seu técnico, muito batalhou por essa inclusão, confessou, num especial BnR Modalidades, que essa foi a maior vitória, mas para ela ainda estava destinada a maior recompensa de todas.

Inês Henriques terminou a prova em primeiro lugar, tornando-se na primeira campeã mundial do evento e melhorando o seu recorde mundial para 2:05:56. Repararam na marca? Sim, Inês não só foi campeã mundial (com direito a medalha de Ouro e prémio monetário de $160.000), com recorde mundial, como o fez com uma marca que cumpria os mínimos pedidos aos homens, dando uma verdadeira chapada sem mão à IAAF e a quem tanto complicou a inclusão da prova feminina ao mais alto nível. Nesse dia, Inês precisou de se superar e fazer o que nunca alguém tinha feito, apenas para poder ter os mesmos direitos que os homens.

A IAAF, no entanto, apenas “arrumou a viola” temporariamente. Apesar de a prova continuar a fazer parte do programa e ter sido incluída nos Mundiais de Doha do ano passado, a verdade é que a organização já anunciou que pretende reduzir distâncias e os 50 km deixarão de ser marchados em Mundiais, seja por homens ou mulheres. Muitos culpam a IAAF, outros dizem que a IAAF apenas está a querer agradar ao COI que, há muito, pretende a exclusão dos 50 km dos Jogos Olímpicos, por considerá-la uma prova longa e sem interesse comercial.

A verdade é que, no que diz respeito à igualdade de géneros ou direitos humanos no geral, o COI sempre se mostrou menos progressista do que a IAAF e, para os Jogos de Tóquio, agora apenas em 2021, ainda teremos os 50 km masculinos (pela última vez?), mas as mulheres apenas deverão ter os 20 km para participar. Essa vitória, talvez, já não esteja ao alcance de Inês, mas o lugar na história que alcançou, já ninguém o tira.

Foto de Capa: World Athletics

Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

Pedro Pires
Pedro Pireshttp://www.bolanarede.pt
O Pedro é um amante de desporto em geral, passando muito do seu tempo observando desportos tão variados, como futebol, ténis, basquetebol ou desportos de combate. É no entanto no Atletismo que tem a sua paixão maior, muito devido ao facto de ser um desporto bastante simples na aparência, mas bastante complexo na busca pela perfeição, sendo que um milésimo de segundo ou um centimetro faz toda a diferença no final. É administador da página Planeta do Atletismo, que tem como principal objectivo dar a conhecer mais do Atletismo Mundial a todos os seus fãs de língua portuguesa e, principalmente, cativar mais adeptos para a modalidade.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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