No verão passado, Neemias Queta trocou a Califórnia pela cidade de Boston, onde representa, atualmente, os Celtics. Na altura, a Europa era também uma forte opção. Porém, eu sempre defendi a sua continuidade na NBA. No entanto, por ser um contrato two-way, houve quem defendesse que o melhor seria regressar para os palcos europeus.
Neemias começou logo por criar muita agitação na pré-temporada. Em três jogos, o atleta luso fez uma média de 12 minutos, dez pontos e cinco ressaltos. Isto com 86,6% FG. Números bastante promissores. Infelizmente, sofreu uma lesão na fase inicial da regular season e apenas regressou ao ativo no mês de novembro.
Até então, Queta já participou em 19 partidas. Está a apenas um jogo para igualar o total de jogos realizados nos dois anos em que esteve em Sacramento. Neste momento, conta com médias de cinco pontos, quatro ressaltos e 12 minutos por jogo. A sua melhor fase decorreu no mês dezembro, mais especificamente entre o dia 16 de dezembro e o dia 1 de janeiro, época em que os Celtics encontravam-se desfalcados devido a lesões. Nessa altura, Neemias foi opção em nove jogos seguidos, somando uma média de 16 minutos por jogo. Destes nove jogos, seis deles foram com pelo menos 15 minutos e três deles chegaram à marca dos 20 minutos.
Entrando em estatísticas redondas, Neemias anotou o seu primeiro duplo-duplo da carreira no dia 20 de dezembro, na derrota frente aos Warriors, onde registou dez pontos e dez ressaltos. Três dias depois, em Los Angeles, o poste português apontou os seus melhores números da carreira, frente aos Clippers: foram 14 pontos e 12 ressaltos, com 57 FG% e 75 FT%.
Em janeiro, o seu tempo de jogo tem sido mais reduzido. Ainda assim, nos últimos cinco jogos dos Celtics, Neemias Queta participou em quatro. Destaque para a derrota frente aos Clippers, onde fez oito pontos e cinco ressaltos, registando 100 FG% em 12 minutos jogados.
É importante perceber que Neemias será a quarta escolha para a posição de poste até ao final da época. O atleta internacional por Portugal conta já com alguns jogos muito devido às lesões de Kornet e às gestões físicas de Al Horford e Porzingis. No entanto, isso não significa que a equipa técnica não tenha confiança nele. Ao contrário do que acontecia nos Kings, os treinadores dos Celtics têm demonstrado coerência naquilo que pretendem e esperam do Neemias. Uma das provas disso são as contantes declarações positivas por parte de membros da equipa sobre o poste português:
Jayson Tatum, extremo da equipa, a 27 de novembro: “Foi grande para nós hoje. A energia que trouxe do banco. Dou muito crédito a esses rapazes por se manterem prontos. Eles trabalham muito. É complicado não saber se vamos jogar, mas ele ajudou-nos a ganhar o jogo”.
Al Horford, poste da equipa, a 28 de dezembro: “Tem sido ótimo ver. É surpreendente a rapidez com que está a aprender, como está a captar tudo e o impacto. Traz muita energia e é encorajador. É o tipo de jogador que continua a trabalhar e o mais importante para ele é continuar a estar pronto, porque nunca sabemos quando é que vai ser chamado e ter mais minutos. Está a fazer um bom trabalho. Tanto quanto posso tenho falado com ele, em termos ofensivos e defensivos. Quero apoiá-lo”.
Brad Stevens, treinador adjunto, a 5 de janeiro: “O Neemias é muito trabalhador, tem jogado muito bem pelos Celtics. Tínhamos previsto, e dissemos-lhe isso quando o contratámos, que ele ia estar mais em Boston do que no Maine”.
Joe Mazzulla, treinador principal, a 18 de janeiro: “Gosto de quando ele mostra ser um jogador físico e da presença que tem em campo. É um daqueles miúdos que não sabe o quão bom pode vir a ser. Mas está a começar a perceber isso, com a presença dele somos uma equipa diferente. Mudou o jogo na 1.ª parte”.
Todo este feedback positivo transporta-me para o pensamento de imaginar como será o seu futuro nos Celtics. Neste momento, Neemias apenas pode ser convocado para 50 jogos, uma vez que tem um contrato tow-way. Até ao momento, já foi convocado para 34 dos 47 jogos realizados pelos Celtics. Faltam exatamente 35 jogos para o final da regular season, dos quais Queta apenas pode estar convocado para 16.
Analisando a situação, acho espectável que o Neemias possa ver o seu contacto convertido a standard. Pelas boas amostras que já deu e pela confiança que depositam nele. Porém, a equipa de Boston tem apenas mais uma vaga para um contrato de standard na equipa, o que dificulta esta decisão. Por isso, será preciso esperar até ao final da trade deadline para podermos ter alguma novidade. Caso o seu contrato não seja convertido, Neemias apenas poderá ser convocado mais 16 vezes e não poderá estar presente nos playoffs.
Queta foi recentemente convidado para o podcast oficial dos Celtics. Questionado sobre ser o primeiro português a chegar à NBA, o poste referiu: “Significa muito para mim devido à responsabilidade. Estou a representar muita gente. Sinto que estou apenas a tentar dar o meu melhor para poder deixá-los orgulhosos”.
Relativamente aos bons desempenhos individuais, Neemias partilhou: “Tem vindo naturalmente. Tenho vindo a trabalhar com consistência há muito tempo para poder ganhar minutos. Mas ao mesmo tempo é sobre tentar ajudar a equipa a ganhar. Eu não penso nos números, apenas tento fazer o meu papel”.
Queta confessou, ainda, a sua satisfação para com os fãs de Boston: “Os fãs são amáveis aqui. Qualquer sítio onde eu vá sinto-me reconhecido e as pessoas mostram-me muito amor. Sou muito feliz por jogar pelos Celtics com este tipo de fãs”.
Fico feliz em ver o Neemias a ser verdadeiramente valorizado numa equipa da NBA. 133 dias depois de ter assinado com os Celtics, o poste luso tem vindo a provar que tomou a decisão certa em continuar a lutar pelo “sonho americano”.
Continuo a ter o sonho de o ver a jogar com um base que crie muito mais para ele. No escuro da noite imagino o que seria o Neemias a receber passes de Luka Doncic, Haliburton, Trae Young ou até Lamelo Ball. Infelizmente, em Boston o jogo abunda na bola e três pontos e as estrelas são mais conhecidas por serem pontuadores e não passadores. Mas, no final do dia, são tudo rotinas que se vão criando.
Posso avaliar esta primeira metade de época positiva e até, de certa maneira, espectável. Para quem acompanha o Neemias, sabe que ele iria agarrar a oportunidade quando a mesma surgisse. É e mesmo isso que tem feito. Oriundo do Vale da Amoreira, o camisola 88 continua a orgulhar a bandeira portuguesa pelo mundo fora. Deste lado, continuarei à espera de abafos e afundanços, principalmente se forem na cara do Victor Wembanyama.
