Modalidades | Sintomas de uma morte eclética lenta e anunciada

O Governo português decidiu adiar todos os encontros de competições de modalidades desportivas não profissionais que estavam agendados para o fim de semana compreendido entre 30 de outubro e 3 de novembro.

Em comunicado conjunto, após reuniões, as cinco federações assentiram à decisão, apesar de darem a conhecer que não concordavam. A Federação Portuguesa de Basquetebol, a Federação de Andebol de Portugal, a Federação Portuguesa de Futebol, a Federação de Patinagem de Portugal e a Federação Portuguesa de Voleibol viram os jogos das suas competições adiados e remitidos a uma alteração total da próxima jornada dos seus calendários.

Em detrimento, apenas têm lugar os jogos das competições profissionais de futebol. No total, foram adiadas 58 partidas das modalidades, e falamos de jogos dos principais escalões de andebol, basquetebol, hóquei em patins e voleibol tanto na vertente masculina como feminina.

No comunicado conjunto lançado pelas federações lê-se que a razão pela qual o calendário foi alterado relaciona-se com as “medidas especiais aplicáveis aos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira no âmbito da situação de calamidade, e da Resolução do Conselho de Ministros nº 89-A/2020, que determina a limitação de circulação entre diferentes concelhos do território continental”. Mas, afinal, porque é que se aplica a uns e não a todos? O que existe de diferente?

Marcel Matz, treinador da equipa de voleibol masculino do SL Benfica, foi o primeiro a manifestar-se relativamente a esta decisão. E de forma correta porque é manifestamente nítido o destratamento dado às competições desportivas não profissionais, nomeadamente as modalidades.

Falamos de várias vertentes do desporto que foram as primeiras a ver a época passada dada como concluída, e algumas sem decisões para além da conclusão. Que estão, desde o início da corrente época, sem qualquer tipo de público – e é aqui que se levanta a questão que coloquei acima.

Porque é que não há espaço para público nas modalidades, mas existem noutras atividades sociais e culturais? Porque é que os transportes públicos continuam a abarrotar sem qualquer tipo de resposta de aumento de oferta por parte das empresas, mas os pavilhões continuam sem público? Porque é que uma praça de touros pode estar cheia, mas um pavilhão, onde se podem nitidamente cumprir as regras, não pode ter público? Porque é que não há espaço para público nas modalidades? Porque é que parece que nem há espaço para as modalidades?

Há clubes que, este fim de semana, já tinham viagens e estadias marcadas. Só um dos encontros acabou por se realizar. O confronto entre o Lusitânia e o Barreirense, para a liga de basquetebol, teve lugar porque a formação do Barreiro e os árbitros já estavam nos Açores quando a decisão do adiamento de jogos foi conhecida e tornada pública. Onde está o sentido de responsabilidade? Porque é que uns são mais que outros?

É assim que morrem lentamente estes clubes que sobrevivem das modalidades e da sua realização. Não ter público já é um sufoco, porque algumas destas sociedades vivem do lucro da bilhética, das quotas dos sócios, das vendas de bar e outras tantas razões, mas estarem a ser constantemente tomadas decisões desconsiderando as modalidades é provocar uma morte mais que anunciada e a olho nu.

“Há um triângulo de incoerência, injustiça e omissão”, é assim que Rui Lança, diretor das modalidades coletivas de pavilhão do SL Benfica, caracteriza estas decisões. Obviamente que o desporto não é mais importante do que a saúde, mas a injustiça é notória quando se veem concertos, touradas e outras atividades com um público maior que o staff de alguns clubes que alinham nestas modalidades.

Enquanto falamos e debatemos a injustiça de ver encontros adiados e de calendários alterados nas modalidades devido à “limitação de circulação entre diferentes concelhos do território continental”, existe alguém, neste mesmo momento, a transitar de um sítio para outro porque tem um bilhete para um espetáculo na mão.

Andreia Araújo
Andreia Araújohttp://www.bolanarede.pt
A Andreia é licenciada Ciências da Comunicação, no ramo de Jornalismo. Depois de ter praticado basquetebol durante anos, encontrou no desporto e no jornalismo as suas maiores paixões. Um dos maiores desejos é ser uma das vozes das mulheres no mundo do desporto e ambição para isso mesmo não lhe falta.

Subscreve!

Artigos Populares

Espanha só marca na 2ª parte, mas vence Suíça e está nas meias finais do Euro 2025 Feminino

A Espanha teve de suar para bater a Suíça no Euro 2025 Feminino. Roja está nas meias finais da competição.

O renascer de Amanda Animisova | Ténis

A tenista norte-americana Amanda Anisimova esteve próximo de conquistar...

José Semedo assume funções no Al Nassr

José Semedo foi confirmado como o novo CEO do Al Nassr. O antigo jogador terá influência na política de contratações.

Sverre Nypan é reforço do Manchester City até 2030

O Manchester City oficializou a chegada de Sverre Nypan. Médio deixa o Rosenborg e assina até 2030 pelos cityzens.

PUB

Mais Artigos Populares

Sporting já poderia ter despedido Viktor Gyokeres

Viktor Gyokeres soma sete faltas injustificadas e já poderia ter sido demitido pelo Sporting, segundo o regulamento interno.

Estrela da Amadora confirma saída de Miguel Lopes

Miguel Lopes deixou o Estrela da Amadora. Tricolor da Reboleira confirmou a saída do defesa e capitão do clube nos últimos anos.

Viktor Gyokeres já sabe que vai falhar o estágio do Arsenal

Viktor Gyokeres já sabe que não participar na digressão asiática do Arsenal. O avançado ainda pertence aos quadros do Sporting.