Basquetebol: O Oito e o Oitenta

    cab basquetebol nacional

    A comunidade do basquetebol tem motivos de sobra para estar contente. A Selecção Nacional Feminina de Sub 16 acaba de conquistar de  forma brilhante o título de Vice Campeã da Europa e o apuramento para o Campeonato do Mundo de Sub 17 a realizar em Espanha no próximo ano. Se lhe juntarmos o 6.º lugar das Sub 20, fácil é concluir que a evolução neste sector tem sido uma constante e que, para surpresa de muitos, jogamos agora de igual para igual contra todos (mesmo a selecção Sub 18, que se  classificou  em 15.º lugar, mostrou argumentos válidos).

    Com os apoios financeiros substancialmente reduzidos, com os CAR a fecharem e sem coordenação técnica geral visível em todos os escalões, conseguimos contrariar o que parecia inevitável.

    O mérito vai para os Clubes, treinadores e FPB, que realizaram um excelente trabalho de recrutamento e treino com uma nova geração, que, contrariando as previsões pessimistas, dá continuidade ao trabalho das mais velhas (Sub 20 e Sub 18). Mesmo com um nível de exigência muito baixo no Minibasket, o potencial inicial das nossas jovens é em tudo semelhante ao existente nos restantes países. Se o trabalho realizado não fizer a diferença, como era norma no passado, fica claramente demonstrado que podemos competir com todos.

    Em contraste no sector Masculino, cada selecção apresentou modelos de jogo diferenciados e sem qualquer fio condutor. Os resultados só podiam ser cinzentos, pese a boa vontade e a aplicação, não conseguimos sair da mediocridade da Divisão B.

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    Foi sempre mais fácil “fazer boa figura competitiva” internacional no feminino do que no masculino. Já há mais de 40 anos o Prof. Teotónio Teotónio o dizia!

    Encontrar explicações  para tais discrepâncias e quais as soluções a implementar  rapidamente para inverter esta situação é tarefa urgente de quem dirige. A opção não pode passar por apostar agora só no feminino e deixar cair o masculino. A modalidade é só uma. Urge sim reforçar o trabalho no feminino e retirar o masculino do buraco onde se encontra.

    A Ticha e a Mary como refrências

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    A partir de certa altura entrou no basquetebol feminino português uma “semente/modelo/referência” que “fez a cabeça” de muitas meninas/raparigas que se iniciavam no jogo. Refiro-me à presença de jogadoras portuguesas na WNBA! Na minha opinião, esta imagem fez mover muita imaginação e capacidade de superação que aspiraram ser “como a Ticha Penicheiro ou como a Mary Andrade”…

    O “sonho americano” de jogar numa Universidade dos Estados Unidos está cada dia mais presente no imaginário das nossas atletas.

    Foi muito mais no basquetebol feminino (do que no masculino) que, no basquetebol português, se trabalharam e se prepararam de forma mais continuada jogadoras com um sentido estratégico e uma visão de futuro.

    Guias espirituais

    Apesar de tudo, o basquetebol feminino foi tendo sempre “guias espirituais” reconhecidos oficialmente e (por isso mesmo!) capazes de irem encontrando os apoios que necessitavam. José Leite e Ricardo Vasconcelos são bons exemplos. Enquanto a partir de certa altura o basquetebol português a nível masculino foi ficando “inquinado”, no basquetebol feminino emergiram sempre treinadores cujo sentido de missão e entrega foi decisiva na preparação de várias gerações de jogadoras.

    O problema no sector masculino estará no recrutamento?

    O futebol, liderado por um ex-praticante de basquetebol, Fernando Gomes, conta com 160.000 atletas e recruta a maioria dos jovens mais aptos. Se juntarmos o futsal e o futebol de praia sobram poucos para as denominadas “amadoras”.

    Será que ao basquetebol masculino apenas chegam as denominadas crianças “totós” (designação do Prof. José Neto), que são hoje definidas como crianças superprotegidas para quem o confronto com os outros é complicado?

    A crise económica também não ajuda nada e actualmente no basquetebol tudo é pago.  O principal suporte dos clubes são agora os pais, e faz tempo que passou a ser regra a quotização mensal. Assim, a pergunta que fica é sempre a mesma: e quem não tem dinheiro para pagar não joga?

    Competem pouco os nossos rapazes?

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    Retirar a competição aos jovens é errado. O problema dos Campeonatos de Jovens não está na competição per si. Isso os jovens fazem todos os dias, na escola, na rua (cada vez menos), na playstation (cada vez mais), mas sim no enquadramento que alguns adultos dão a estas actividades.

    Faz todo o sentido que os jovens praticantes de basquetebol, seguindo o exemplo de todas as outras modalidades, compitam desde cedo a nível nacional de forma séria e por capacidades desportivas.

    Não há (nem deve haver!) qualquer contradição entre formar jovens atletas e, em simultâneo, buscar a afirmação e sucesso. Tentar ter êxito significa fazer o nosso melhor, ser excelente quanto possível relativamente a todas as exigências contidas na realidade profissional que nos rodeia.

    O que não faz sentido é as três selecções terem tão pouco ou nada em comum nos modelos de jogo e nos tempos de utilização dos jogadores. Quanto mais competem mais progridem.

    A culpa será dos treinadores?

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    Ensinam pouco? Ensinam mal? São mal ensinados?

    O modelo de jogo das equipas jovens está desajustado?

    Os problemas do nosso basquetebol não passam por defender zona ou hh. Se alguém tinha dúvidas, elas agora acabaram. Com  acesso, via Youtube, às competições da FIBA, os treinadores podem confrontar ideias e conceitos. Defender à zona não é “crime” em parte nenhuma do mundo (Escalão sub 16). “Crime” é não ensinar coisa nenhuma…

    Formar mais e melhores treinadores é a vocação da ENB, que tem dificuldades em encontrar quem desempenhe de forma efectiva o importante papel de tutor.

    Estamos numa fase do nosso basquetebol em que abundam Clinics de treinadores e se  realizam cursos nos vários níveis. Falta contudo passar a mensagem do que é urgente e prioritário para a modalidade. Um Clinic não é um treino e não adianta passar mensagens do tipo “olhem para o que eu digo, não olhem para o que eu faço”.

    Não acredito que seja possível formar treinadores e jogadores por via regulamentar. Continuo a acreditar no que canta Caetano Veloso (“É proibido proibir”):

    “Eu digo não.

    Eu digo não ao não.

    Eu digo.

    É proibido proibir.

    Eu digo sim

    Eu digo não ao não

    Eu digo é proibido proibir”

    Aproveitar a onda…

    O argumento de que somos um país com poucos habitantes e que não podemos aspirar a muita coisa cai pela base com a nossa classificação nos Sub 16, com a vitória da  República Checa (tem sensivelmente o mesmo número de habitantes que nós) e ainda entre muitos outros exemplos, como a vitória da Bósnia-Herzegovina (4 milhões de habitantes) no mesmo escalão em Masculinos.

    O basquetebol tem de dar continuidade ao que já se conquistou e ao mesmo tempo conseguir recrutar mais e melhores jovens praticantes.

    Temos de aproveitar a onda e não repetir os erros do passado em situações em tudo semelhantes. A preparação para o mundial Sub 17 já começou…

    Fotos retiradas do site da FIBA

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    Mário Silva
    Mário Silvahttp://www.bolanarede.pt
    De jogador a treinador, o êxito foi uma constante. Se o Atletismo marcou o início da sua vida desportiva enquanto atleta, foi no Basquetebol que se destacou e ao qual entregou a sua vida, jogando em clubes como o Benfica, CIF – Clube Internacional de Futebol e Estrelas de Alvalade. Mas foi como treinador que se notabilizou, desde a época de 67/68 em que começou a ganhar títulos pelo que do desporto escolar até à Liga Profissional foi um passo. Treinou clubes como o Belenenses, Sporting, Imortal de Albufeira, CAB Madeira – Clube Amigos do Basquete, Seixal, Estrelas da Avenidada, Leiria Basket e Algés. Em Vila Franca de Xira fundou o Clube de Jovens Alves Redol, de quem é ainda hoje Presidente, tendo realizado um trabalho meritório e reconhecido na formação de centenas de jovens atletas, fazendo a ligação perfeita entre o desporto escolar e o desporto federado. De destacar ainda o papel de jornalista e comentador de televisão da modalidade na RTP, Eurosport, Sport TV, onde deu voz a várias edições de Jogos Olímpicos e da NBA. Entusiasmo, dedicação e resultados pautam o percurso profissional de Mário Silva.                                                                                                                                                 O Mário escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.