A bala mais certeira: A carreira de Alejandro Valverde

    A MAIOR QUEDA

    A grande “mancha” na carreira de Alejandro Valverde é o envolvimento na operação “Puerto”, uma investigação, iniciada em 2006, que levou ao desmantelamento de uma rede de doping no desporto espanhol, encabeçada pelo médico Eufemiano Fuentes. Valverde foi ligado a um dos sacos de sangue apreendidos a Fuentes pela polícia, que continha vestígios de eritropoetina (EPO).

    O “Bala” chegou a ser absolvido mas durante o Tour de 2008, uma amostra de ADN correspondeu com o sangue apreendido em 2006 . Como tal, o ciclista murciano enfrentou uma suspensão pelo Tribunal Arbitral do Desporto entre janeiro de 2010 e janeiro de 2012. Num documentário admitiu mesmo que enfrentou uma depressão quando regressou à competição.

    “Veem-nos como estrelas, mas no final, somos humanos, os pontos baixos estão aí, estão em qualquer ponto de vida, estão em qualquer contexto da vida e atingiram-me”. Palavras que se fazem ouvir cada vez mais, não fosse a saúde mental um assunto cada vez mais importante.

    O Diretor Desportivo da Movistar em 2011 (e até hoje), Eusebio Unzue elogiou numa entrevista ao VeloNews o murciano por nunca ter parado de treinar como um profissional, mesmo durante a suspensão.

    Alejandro Valverde voltou em janeiro de 2012 no Tour Down Under, corrida australiana na qual venceu a quinta etapa. O espanhol refere esta como a maior vitória da carreira. Ainda nesse ano, arranca a ferros um triunfo numa etapa Tour.

    Uma chegada em alto em Bagnères-de-Luchon perante uma perseguição intensa do famoso “Sky train” (que dava os primeiros sinais de uma vida muito longa) encabeçado por Chris Froome, seguido pelo camisola amarela, Bradley Wiggins. Foi ainda segundo classificado da Vuelta, atrás apenas de um certo pistoleiro.

    Alguns dos melhores anos da carreira de Valverde ainda estavam pela frente, nomeadamente a época de 2017, quando o espanhol alcança 11 vitórias em apenas 35 dias de corrida. A temporada foi encurtada por uma queda muito grave no contrarrelógio de abertura do Tour que colocou em causa a continuação da carreira do “Bala”.

    O REINADO NAS ARDENAS E A AMBIÇÃO DO ARCO-ÍRIS

    Apesar dos bons resultados em provas de três semanas, os maiores “shows” de Alejandro Valverde eram nas corridas de um dia. Quando estava no pico de forma, poucos eram capazes de acompanhar o espanhol nas subidas curtas e empinadas. A sua ponta final “explosiva” combinada com a capacidade de subir, particularmente em média altitude, tornavam-no um candidato a todas as provas com percurso acidentado, marcadas por um “sobe e desce” quase constante.

    As corridas mais talhadas com este tipo de perfil eram as clássicas das Ardenas, particularmente a Liège-Bastogne-Liège e a Fleche Wallonne. Valverde é recordista absoluto em ambas as provas com 4 e 5 vitórias, respetivamente.

    Em 2017, aproveitou para limpar (mais uma vez) as duas maiores clássicas das Ardenas, alcançou a vitória 100 da carreira. Provou que se a corrida fosse de um dia ou de uma semana, não era só candidato, não era só um favorito, era favoritíssimo. Ao nível de provas de um dia, o maior buraco na carreira de Valverde fica mesmo na ausência de ouro olímpico no palmarés.

    Um dos objetivos mais perseguidos pelo “Bala” foi a camisola arco-íris, a vitória no campeonato do Mundo. Foi ao pódio por seis ocasiões, ganhando a medalha de bronze por três anos consecutivos, nomeadamente em 2013, quando foi acusado por alguns adeptos espanhóis de ter facilitado a vitória de Rui Costa, colega de equipa na Movistar, contra o compatriota Joaquim Rodriguez.

    Á última foi de vez! No ano de 2018, 15 anos depois de ganhar a primeira medalha de prata, o “Bala” atingiu o alvo mais esperado (ou mais pensado, como preferirem) e sagrou-se campeão do Mundo pela primeira e única vez, batendo Romain Bardet e Michael Woods ao sprint em Innsbruck. Valverde cumpriu, desta forma, um objetivo de carreira: correr a Vuelta com a famosa arco-íris

    A época de 2022 não foi muito vitoriosa para Valverde, sendo que o murciano se dedicou sobretudo a assegurar a manutenção da Movistar no World Tour.

    É o próprio que diz “É a vez dos jovens, agora”. Uma carreira com desafios físicos e mentais que atravessou a prosperidade e a decadência do ciclismo espanhol. Alejandro Valverde tem uma equipa de Sub-23, a Valverde Team – Ricardo Fuentes e vai continuar na estrutura da Movistar. Sai perante uma nova geração do ciclismo espanhol, marcada por Juan Ayuso e Carlos Rodriguez, que começa a recarregar a arma.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.