Antevisão Vuelta a España: Principais candidatos, outsiders e possíveis surpresas

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    Chegados ao dia 26 de agosto de 2023, tudo está pronto para que se abram as hostilidades da 78.ª edição da Vuelta a España, a última Grande Volta do calendário velocipédico a ser disputada em 2023. La Vuelta inicia-se hoje com um contrarrelógio por equipas de 14,8 km, em Barcelona, e irá terminar no dia 17 de setembro, em Madrid, com uma etapa destinada aos velocistas, estabelecendo, assim, a ligação entre as duas principais cidades espanholas.

    À partida desta Vuelta, apresentam-se 176 ciclistas (sendo 8 de 22 equipas diferentes), que vêm preparados para, face a múltiplos desafios e diversas adversidades, ultrapassarem os limites da resistência humana e atingirem a risco de meta da 21.ª etapa, em Madrid, com os objetivos pessoais e coletivos traçados alcançados.

    A 78.ª edição da Vuelta conta com um dos melhores alinhamentos dos últimos anos, havendo mais de uma de dezena de candidatos ao pódio à partida, em Barcelona, e a possibilidade histórica da Jumbo-Visma conseguir vencer as 3 Grandes Voltas num único ano. No que toca à presença de ex-vencedores na prova, Remco Evenepoel (Soudal-Quick Step) e Primoz Roglic (Jumbo-Visma) são os únicos que podem triunfar novamente. Quanto aos portugueses, são 6 os que iniciam este ano a prova mais importante do calendário velocipédico espanhol: João Almeida e Rui Oliveira, da UAE Team Emirates; Rui Costa, da Intermarché-Circus-Wanty; Rúben Guerreiro e Nélson Oliveira, da Movistar Team; e André Carvalho, da Cofidis.

    Quanto ao percurso, os ciclistas terão de enfrentar um contrarrelógio por equipas (etapa 1); um contrarrelógio individual (etapa 10); quatro tiradas relativamente planas (4, 7, 19 e 21); seis etapas mais acidentadas (2, 5, 9, 12, 15 e 16); e nove dias de média e alta montanha (3, 6, 8, 11, 13, 14, 17, 18 e 20).

    PRINCIPAIS CANDIDATOS

    Primoz Roglic (Jumbo-Visma)

    O esloveno de 33 anos tem sempre de ser encarado como um sério candidato à vitória em qualquer corrida por etapas em que participe, tal é a sua qualidade e a sua resiliência. Vencedor do Giro, do Tirreno-Adriatico, da Volta à Catalunha e da Volta à Burgos deste ano, conseguiu, até agora, o feito notável de ter vencido a classificação geral de todas as provas nas quais competiu, bem como, pelo menos, uma vitória de etapa nessas competições. Estando absolutamente invicto este ano, no que diz respeito a classificações gerais, planeia manter a sua sequência impiedosa de invencibilidade competitiva na Vuelta. O experiente ciclista da Jumbo tem vindo a preparar-se especificamente para a derradeira Grande Volta do ano desde o seu triunfo no Giro, em maio, e já foi dito pelo seu diretor desportivo, Marc Reef, que a preparação feita foi excelente. A equipa, unicamente dedicada ao sucesso final na classificação geral e à possibilidade de vencer as três Grandes Voltas na mesma temporada, conta com Roglic para a vitória, que parte de Barcelona em busca da sua quarta Vuelta.

    Remco Evenepoel (Soudal-Quick Step)

    O atual campeão do mundo de contrarrelógio é outro dos grandes candidatos a subir ao lugar mais alto do pódio na capital espanhola. Iniciando a sua travessia por terras espanholas com o dorsal n.º 1, indicativo do facto de ser o campeão em título da Volta, parte com aspirações a figurar no pódio final, que se sabe estar perfeitamente ao alcance do belga. A vitória final dependerá das prestações dos colegas de equipa ao longo de prova, que deverão ter algumas dificuldades em ombrear diretamente com alguns gregários rivais, como os da Jumbo, mas que darão tudo o que têm para colocarem o seu líder na melhor posição possível; e, sobretudo, da evolução diária de Evenepoel nas montanhas, que poderá não ter preparado tão meticulosamente como desejaria esta Grande Volta. No início da temporada, a Vuelta não fazia parte dos planos do campeão em título, que apontou ao Giro inicialmente, tendo apenas passado a figurar no calendário do jovem de 23 anos após o abandono por doença no final da primeira semana do Giro. Evenepoel venceu no ano passado e procura este ano, com uma revalidação do título, convencer aqueles que ainda duvidam das suas capacidades de voltista.

    Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma)

    O dinamarquês de 26 anos, companheiro de equipa de Primoz Roglic, é, nada mais nada menos, do que o bicampeão em título do Tour de France. Tendo conquistado o Tour em julho e, tendo o seu colega de equipa esloveno vencido o Giro em maio, alterou os seus planos de fim da época para vir competir à Vuelta e, assim, conquistar a tripla anual de Grandes Voltas pela equipa. Ainda que o seu estado de forma após a Volta à França seja uma incógnita, a sua presença será já fundamental para a manobra tática da equipa e para gerar o pânico entre os adversários, podendo o esloveno e o dinamarquês beneficiar da presença de um e do outro. É sabido que Vingegaard é candidato ao triunfo. Mas quão candidato?

    Juan Ayuso (UAE Team Emirates)

    O espanhol de tenra idade teve alguns problemas físicos no início da época que o impediram de competir, mas tem estado a preparar desde o inverno de 2022 o seu grande objetivo da temporada, a Vuelta, e desde abril, onde tem competido, tem demonstrado que, nos seus melhores dias, pode bater qualquer um, seja no contrarrelógio ou na alta montanha. Ayuso vai iniciar a Vuelta na cidade onde nasceu e espera que isso seja prenúncio de uma excelente Grande Volta para ele. Se tiver conseguido elevar o seu nível de voltista em relação à Volta à Espanha do ano passado, que finalizou no terceiro lugar, e, sobretudo, a sua consistência, é um ciclista a ter em conta para a vitória final.

    OUTSIDERS

    INEOS Grenadiers- A força da INEOS não reside num só ciclista, mas no bloco (como um coletivo). Geraint Thomas e Thymen Arensman deverão ser co-líderes da equipa, sendo o segundo lugar do britânico na classificação geral do Giro deste ano uma demonstração da qualidade de voltista que ainda possui e as exibições de qualidade do neerlandês na Vuelta do ano passado uma referência para o que pode/poderá valer no presente e no futuro nas Grandes Voltas. Os dois líderes poderão contar com quatro bons trepadores a seu lado: o incansável Jonathan Castroviejo, o vencedor do Tour de 2019, Egan Bernal, o polivalente Omar Fraile e o gregário de luxo Laurens de Plus; e dois excelentes roladores: Filippo Ganna e Kim Heiduk.

    João Almeida (UAE Team Emirates)-  O português teve este ano a sua oportunidade de disputar a vitória final de uma Grande Volta no Giro d’Italia e apresenta-se à partida para Barcelona como a “segunda carta” da UAE, devendo ser Ayuso o líder. O ciclista de 25 anos, natural de Caldas da Rainha, poderá beneficiar de não ser o líder absoluto, como foi no Giro, e, estando na disputa pelo pódio, poderá aproveitar o facto de correr na sombra do espanhol para lançar ofensivas.

    Bahrain-Victorious- A formação do Médio Oriente traz vários ciclistas diferentes que podem figurar no top 10 da classificação geral e, no que diz respeito à disputa pelos lugares cimeiros da classificação geral, a presença de ciclistas de Bahrain é sempre uma forte possibilidade. Para esta Volta à Espanha, as opções são o colombiano Santiago Buitrago, o basco Mikel Landa, o italiano Damiano Caruso e, eventualmente, o neerlandês Wout Poels, que venceu uma etapa do Tour deste ano.

    Enric Mas (Movistar Team)- O espanhol tem sido massacrado por diversos azares recentemente, não tendo competido em qualquer prova desde a sua queda na primeira etapa do Tour deste ano. Procura agora na Vuelta, apoiado por uma equipa aos seus serviços, recuperar as boas sensações numa prova em que costuma ser feliz e onde já foi três vezes segundo classificado.

    Eddie Dunbar (Team Jayco AlUla)- O irlandês de 27 anos de idade é o líder da formação australiana na Vuelta e é um dos melhores presentes quando o terreno inclina. Falta-lhe ainda alguma consistência para se tornar uma dor de cabeça maior para os adversários, mas as suas prestações em algumas etapas no Giro fazem com que tenha de ser um ciclista temido para as posições cimeiras da tabela classificativa.

    BORA-hansgrohe- A equipa alemã não possui um claro líder ou favorito, mas um conjunto de ciclistas que podem estar na disputa pelo topo da classificação geral, sendo eles: o vencedor da Volta à Romandia de 2022, Aleksandr Vlasov; o campeão nacional alemão de estrada, Emanuel Buchmann; o vencedor da Volta à Catalunha de 2022, Sergio Higuita; o nono classificado do Giro deste ano, Lennard Kamna; e o campeão em título do Tour de l’Avenir, Cian Uijtdebroeks.

    POSSÍVEIS SURPRESAS

    Sepp Kuss (Jumbo-Visma)- O melhor gregário de luxo de etapas de alta montanha do mundo, Sepp Kuss, tem dois líderes indiscutíveis antes dele na hierarquia da equipa, mas, tendo em conta toda a sua qualidade e a sua experiência em Grandes Voltas, deverá ser acionado como um dos líderes perante qualquer eventualidade.

    Jay Vine (UAE Team Emirates)- O campeão nacional de contrarrelógio da Austrália, ex-Zwifter, mostrou ser um dos melhores escaladores do mundo após conquistar duas vitórias de etapa na Vuelta de 2022 e é mais um dos trunfos da UAE durante os meses de agosto e setembro. Terceiro na hierarquia da equipa desta Vuelta, não deverá ser chamado a liderar o bloco presente em terras espanholas, mas a qualidade está lá.

    Michael Storer (Groupama-FDJ)- O australiano de 26 anos estava a ter uma época muito aquém das expectativas em 2023, mas acabou por encontrar boas sensações no início do mês de agosto, ao vencer o Tour de l’Ain. A recuperar a sua melhor forma, espera-se que possamos, pelo menos, vislumbrar o Storer vencedor de etapas da Vuelta de 2021 na Vuelta de 2023.

    Lenny Martinez (Groupama-FDJ)-  O jovem francês de 20 anos, colega de equipa de Storer, é uma das maiores esperanças francesas da nova geração, que aspiram a devolver glória do Tour aos franceses, e espera-se que nesta Volta comece a mostrar a sua real qualidade.

    Team dsm-firmenich- A formação neerlandesa traz para a contenda da classificação geral um trio composto por um veterano gaulês e dois jovens britânicos. Romain Bardet, já por duas vezes no pódio final do Tour, é a certeza, que servirá de farol às duas “pérolas da Coroa”, Oscar Onley e Max Poole, dois jovens cheios de talento.

    Juan Pedro López (Lidl-Trek)- O espanhol de 26 anos, que envergou a maglia rosa no Giro de 2022, foi gregário no Tour deste ano e terá agora a oportunidade na Vuelta de ser líder. López não é aquele ciclista que apresenta grande regularidade ao longo do ano, mas, em certas alturas, pode-se mostrar bastante competitivo.

    Hugh Carthy (EF Education-EasyPost)- O britânico já chegou a ser um dos melhores voltistas do mundo. Neste momento, Carthy vai tentando reencontrar-se com os seus melhores tempos e terá liberdade para conseguir o melhor resultado possível na classificação geral, com o terceiro lugar que alcançou na Vuelta de 2020 em mente.

    Kévin Vauquelin (Team Arkéa Samsic)- Já estava definido há bastante tempo que o ciclista francês faria a sua estreia em Grandes Voltas na Vuelta deste ano aqui está ele: à partida para a Vuelta, em Barcelona. Vauquelin é um ciclista bastante completo e procura aferir nesta Volta qual é a sua real capacidade para no futuro disputar classificações gerais.

    Filippo Zana (Team Jayco AlUla)- O italiano de 24 anos iniciou a sua época de forma bastante despercebida . Porém, no Giro, mostrou-se a um bom nível e até uma etapa de montanha venceu, tendo vencido também a Volta à Eslovénia, posteriormente. Na Vuelta, Zana procura mostrar novamente a sua melhor forma.

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    Miguel Monteiro
    Miguel Monteirohttp://www.bolanarede.pt
    O Miguel é um estudante universitário natural do Porto, cuja paixão pelo desporto, fomentada na infância pelos cromos de Futebol que recebia e colava nas cadernetas, considera ser algo indescritível. Espetador assíduo de uma multiplicidade de desportos, tentou também a sua sorte em algumas modalidades, sem grande sucesso, tendo encontrado agora na análise desportiva uma oportunidade para cultivar o seu amor pelo desporto e para partilhar com os demais as suas opiniões, nomeadamente de Ciclismo, modalidade pela qual nutre um carinho especial.