Colin Stüssi: O passado e a carreira do campeão da Volta a Portugal

    modalidades cabeçalho

    A 20 de agosto, o suíço Colin Stüssi confirmou, aos 30 anos, a vitória na classificação geral da  Volta a Portugal, alcançando o maior triunfo de uma carreira muito marcada por funções de gregário e apoio aos colegas. Antes de ganhar a “Grandíssima”, a maior vitória de Stüssi tinha sido na Volta a Rodes, em 2017 e este ano ganhou a camisola de melhor trepador da mesma prova.

    Um trepador, com o seu ponto fraco a assentar no contrarrelógio, sendo que o próprio ficou surpreendido com o desempenho na última etapa em Viana do Castelo, dizendo que havia sido o melhor contrarrelógio da sua carreira. Atualmente, corre na Team Voralberg, formação continental austríaca que chegou a contar com nomes como Victor de la Parte, Fabian Lienhard, Riccardo Zoidl, Reto Hollenstein, Silvain Dillier e até com Patrick Konrad. É uma equipa que existe desde 2002 e por onde vários talentos da Europa Central passam numa fase inicial das suas carreiras.

    Stüssi é um trepador, mas não é um ciclista muito dado a mudanças abruptas de ritmo. Aliás, na Volta a Portugal, nomeadamente na etapa da Senhora da Graça, viu-se o corredor helvético a evitar responder diretamente aos ataques de António Carvalho, optando por fechar o espaço ao seu ritmo e com uma cadência consistente. A sua vitória acaba mesmo por representar um triunfo do ciclismo moderno sobre um certo arcaísmo que domina a Volta desde há muitos anos.

    Mas quem é este ciclista de 1,87 metros e 68 quilos, que se tornou no segundo suíço da história a ganhar a Volta a Portugal, depois de Fabian Jeker conseguir a proeza inédita, em 2001, e o primeiro ciclista de uma equipa estrangeira a ganhar a Volta desde o primeiro triunfo de David Blanco, ao serviço da Comunidade Valenciana, em 2006?

    AS ORIGENS

    Colin Chris Stüssi nasceu a 4 de junho de 1993. É natural de Näfels, uma Comuna (nível administrativo mais baixo da Suíça), localizada no Cantão de Glaris. O primeiro contacto de Stüssi com o ciclismo competitivo ocorre logo aos 6 anos,n ão numa bicicleta de estrada, mas numa de montanha.

    Stüssi participa numa prova de mountain bike que o próprio corredor classificou numa entrevista ao Glarner Woche, como um “grande desastre”. Ainda assim, completou a corrida, mas não sem uma exaustão maior do que a que o jovem Colin esperava sentir.         Por volta dos 10 anos, Stüssi volta-se para as corridas de estrada e estreia-se em grande, logo com uma vitória, seguida de um terceiro lugar. Eram estes resultados que faziam Colin Stüssi perceber que tinha futuro no ciclismo.

    O sonho de Stüssi contou com o apoio dos pais que colocaram o jovem suíço na “Glauernland Sportschule”, uma escola parceira do Comité Olímpico da Suíça, destinada à formação de jovens atletas. Após concluir os estudos, Stüssi voltou-se para a formação profissional, mais concretamente, como mecânico de camiões, sem nunca se desligar do ciclismo, mantendo uma rotina de treino diária.

    Na mesma entrevista, revela ainda que é nas montanhas que se sente bem, não apenas de um ponto de vista competitivo. “Dão-me uma sensação de sossego (…) Todas as vezes que passo de bicicleta numa montanha, lembro-me de porque é que faço isto”.

    A CARREIRA

    Em 2010, Colin Stüssi participa na Pays de Vaud, uma prova de juniores de bastante relevo que ocorre em território helvético. Não terminou a prova e não teria resultados brilhantes nessa temporada. Um top 10 no Campeonato da Suíça de Juniores e no GP Mobiliar foram as melhores posições da época, mas não existiam nomes assim tão promissores em nenhuma das provas.

    Todavia, já mostrava uma certa consistência em provas por etapas, com dois top 20, no Regio Tour e no GP Rüebliland, com a primeira destas corridas a ser conquistada por Bob Jungels e a segunda por Mario Vogt, com Stüssi a bater Emanuel Buchmann e a bater-se com nomes como Jasper Stuyven. Ainda assim, parecia um ciclista com alguma dificuldade em impor-se de forma clara nalgum tipo de terreno.

    2011 foi ano de mais alguns top 20, com a particularidade de grandes prestações do corredor Suíço na pista, nomeadamente nos Europeus e nos Mundiais de juniores. Stüssi era um corredor polivalente no velódromo, capaz de andar bem em scratch, madison e perseguição coletiva. Foi em scratch e na perseguição que mais próximo esteve de conquistar medalhas com dois quartos lugares no Europeu e um 6º posto nos Mundiais.

    Ainda nesse ano, voltava ao Rüebliland, onde fez dois top 10 de etapa, batendo-se com nomes da índole de Guillaume Martin, Pierre Latour, Soren Kragh Andersen e Matej Mohoric. Tudo dias com colinas, próprios para ciclistas de média montanha, pelo que o jovem de 18 anos começava a revelar a aptidão para o terreno inclinado.

    O ano de 2012 foi mais apagado, sem muitas corridas no calendário. Fez a Volta à Lombardia de sub-23 e conseguiu um top 25 na geral da Volta à Áustria. 2013 já foi um ano mais preenchido, no qual o suíço marcou presença nos Europeus e no Tour de l’Avenir. Os resultados mais sonantes foram o segundo lugar no Campeonato nacional de sub-23, batido apenas por Simon Pellaud, ficando à frente de um tal de Stefan Küng.

    A inclinação para clássicas acidentadas continuava a fazer-se sentir, nomeadamente na Ruota d’Oro, onde Stüssi fica no 12º lugar, batendo de forma clara ciclistas como Davide Formolo e Fausto Masnada. Não eram resultados impressionantes, mas notava-se que Stüssi era um ciclista com potencial.

    Em 2014, já ao serviço da Team Roth-Felt os seus melhores resultados foram no Giro della Regione Friulli. Destaque para o 6º lugar numa chegada em alto, em Forni di Sopra, onde apenas perdeu 3 segundos para o vencedor, Ricardo Pichetta. Nesse dia, o suíço ganhou 10 segundos a um tal de Primoz Roglic, também ele muito longe ainda de chegar ao seu melhor nível. Num final semelhante, em Resia, fechou no sétimo lugar.

    Em 2015, fecha pódio na corrida italiana e ganha a classificação da juventude, o primeiro grande resultado em corridas por etapas, ficando a 39 segundos do vencedor, Gaetan Bille. Stüssi ficava à frente de ciclistas como Masnada, Simone Velasco, Felix Grosschartner e Amanuel Gebreigzabhier. Já 2016, foi um ano bastante apagado em que Stüssi ganhava a juventude da Volta á Toscânia, onde ficou à frente de Richard Carapaz e de Elie Gesbert. Conseguiu também um top 10 no campeonato da Suíça.

                                                       OS GRANDES RESULTADOS APARECEM

    2017 foi um dos melhores anos da carreira de Colin Stüssi. Em março, conquistou a Volta a Rodes, vencendo a primeira etapa de forma clara, com o suíço a chegar isolado, apenas com Asmund Lovik a menos de 1 minuto.

    No Tour de Savoir Mont Blanc, fecha o top 5, sendo que na primeira etapa com chegada ao Fort Marie Christine, Stüssi fica no terceiro lugar, ganhando um minuto a Egan Bernal. O colombiano recuperaria o prejuízo, mas as boas indicações do homem da Roth não iam parar, levando-o a fechar top 5 numa prova de altíssima montanha e com um bom pelotão, no qual Bernal e Bjorg Lambrecht se apresentavam a um nível completamente distinto.

    No Sibiu Cycling Tour, Stüssi seria mesmo só batido (ainda que por dois minutos) por Egan Bernal, um talento que se revelaria um completo fenómeno. Em seguida, foi a ocasião de chegar no top 10 da Volta à Alsácia, a menos de um minuto do vencedor, Lucas Hamilton, sendo que Stüssi bateu mesmo nada mais, nada menos do que Jai Hindley. No Tour de Almaty, faz também top 10 confortável, o segundo melhor “não Astana” de uma corrida que é feita para a Astana ganhar. Ficou a menos de 20 segundos de Jakob Fuglsang que venceu o Critérium du Dauphiné nesse ano.

    Até ao sprint em clássicas de fim de ano nas Ardenas, Colin Stüssi continuava a sua senda de consistência. Tinha chegado o ciclista que um dia venceria a Volta a Portugal

    A MAIOR VITÓRIA DA CARREIRA

    Visto como um outsider na classificação geral da “Grandíssima”, Colin Stüssi vinha a meio de um 2018 bastante inconsistente em que dias bons eram estragados por azares ou por um mau dia. Não lutou pela amarela, mas fez a sua presença sentir-se nas chegadas de “puncheur”, nomeadamente em Portalegre e em Santa Luzia, demonstrando as características explosivas nas corridas de um dia. Terminou essas duas jornadas no top 10.

    Acabaria por desistir devido a uma queda na etapa com chegada à Senhora da Graça.  Stüssi mostrava ser um ciclista de corridas por etapas com uma certa queda para as clássicas, sendo que parecia ter mais sucesso na primeira instância do que na segunda. Um novo top 10 no Tour de Almaty abrilhantava o seu final de época.

    Em 2019, Stüssi voltava à glória na Volta a Rodes, desta vez com a conquista da camisola da montanha. Era a sua primeira época ao serviço da Voralberg, e ganhou de forma esmagadora o GP Voralberg, com apenas dois ciclistas a menos de 1 minuto de distância. Vestiu a camisola amarela do Tour Savoir Mont Blanc, um acréscimo à vitória em Villarodin-Bourget, a partir da fuga, frente a Chris Harper.

    Novo dia acidentado, desta vez na Volta à Áustria, em que Colin Stüssi foi batido na chegada a Frohnleiten, apenas por Giovanni Visconti. Em 2021, volta a conquistar uma classificação da montanha, desta vez, na Volta à Chéquia. Um trepador com boa explosividade, é a melhor forma de caracterizar Collin Stüssi que voltava a ter uma grande época em 2023.

    Venceu novamente a camisola da montanha da Volta a Rodes, fez quarto numa corrida por etapas na Áustria e ficou às portas do top 10 da Volta à Áustria. Grandes indicações que se confirmaram na Volta a Portugal, permitindo a Colin Stüssi vencer a sua primeira corrida desde 2019 e a primeira prova por etapas desde a Volta a Rodes, em 2017.

    A vitória de Colin Stüssi na Volta a Portugal acaba por não ser uma surpresa, visto que é um corredor explosivo com grande consistência na média montanha. A quilometragem reduzida de contrarrelógio, bem como o perfil acidentado da última etapa, permitiram ao ciclista que encontra a paz nas montanhas, chegar ao topo da “Grandíssima”.

    - Advertisement -

    Subscreve!

    Artigos Populares

    Sporting define preço para vender Paulinho

    O Sporting está disposto a vender Paulinho no mercado...

    Petit oficializado como novo treinador do Cuiabá

    Petit foi apresentado como novo treinador do Cuiabá. Técnico...
    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.