Equipa Fantasia #4: Américas

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    As Américas apresentam uma ligação muito conflituosa com o ciclismo. Um continente assombrado pelos escândalos que envolveram personalidades como Lance Armstrong e a extinta Manzana – Postobón (de dimensões completamente diferentes, mas com ambos a  manchar a reputação no desporto, em particular no continente) e marcado por triunfos memoráveis como o triunfo de Greg Lemond e à posteriori de Egan Bernal no Tour de France, com os dois homens a tornarem-se no primeiro ciclista de Estados Unidos e Colômbia, respetivamente, a ganhar a classificação geral da “Grand Boucle”.

    Ainda assim, e com particular destaque para a América do Sul, os Pan-Americanos nunca perderam por completo a ligação ao desporto, com países como Colômbia, Canadá, EUA, Equador, entre outros, a garantir a produção de contínua de talentos na modalidade.

    Todavia, a ligação das Américas aos sprinters nunca foi assim tão forte. Apesar de surgirem talentos como Tyler Farrar ou Juan Sebastian Molano, os dois pan-americanos em questão são mais uma exceção do que propriamente a regra.  Esse aspeto foi algo que se refletiu nos 8 ciclistas selecionados para esta “equipa fantasia”, a penúltima desta série de artigos que o BnR tem levado a cabo.

    As regras são as do costume: 3 ciclistas por país, selecionados com base na forma com encaixam no bloco e não necessariamente por serem melhores do que outros de países já muito representados na equipa. Assim, sobressai a profundidade de talento em cada continente.

    8.  HUGO HOULE – CANADÁ

    Hugo Houle é um ciclista experiente que corre ao serviço da Israel Premier Tech, tendo mesmo conquistado uma etapa na edição de 2022 do Tour de France. Venceu num dia de média montanha, através de uma fuga.

    O canadiano tem um perfil muito completo, com uma certa aptidão para disputar todo o tipo de corridas, sejam contrarrelógios ou etapas mais acidentadas. Houle tem também uma boa ponta final, sendo um bom gregário e uma aposta sólida para integrar fugas.

    Nesta equipa pan-americana, Hugo Houle não teria grande destaque, sendo sobretudo útil pelas suas capacidades como rolador para controlar a fase inicial das jornadas e para fazer a primeira mudança de ritmo nas subidas.

    7. MATTEO JORGENSON- EUA

    Aos 23 anos de idade, Matteo Jorgenson é uma das maiores promessas do ciclismo norte-americano. O corredor da Movistar é explosivo e responde bem à alta montanha, nomeadamente em corridas de uma semana. Um exemplo claro desta capacidade de Jorgenson é o domínio completo que teve na Volta ao Omã, ao vencer as classificações dos pontos, juventude e da geral.

    Jorgenson corre ao serviço da Movistar e esteve em destaque no Tour do ano passado, quando ficou em 4º lugar na etapa ganha por Hugo Houle. O norte-americano destaca-se também pela sua habilidade no contrarrelógio, que o ajudou a ficar no 2º lugar da Volta à Romandia de 2023, perdendo para Adam Yates por uns meros 19 segundos.

    Nesta formação das Américas, Matteo Jorgenson seria um gregário, com destaque para a consistência do seu ritmo, nomeadamente em subidas, que lhe permitiria desgastar qualquer pelotão.

    6. RIGOBERTO URÁN – COLÔMBIA

    Um dos primeiros bastiões da geração de ouro que marcou o ciclismo colombiano na última década, Rigoberto Urán fechou no 2º lugar do Giro, tanto em 2013, como em 2014. O colombiano corre na EF Easy Post e é um ciclista extremamente completo. Bom contrarrelogista e muito bom em chegadas explosivas, Urán não é ciclista de grandes ataques, mas escolhe de forma cirúrgica aqueles que se atreve a realizar.

    Os bons resultados do colombiano remontam já a 2009, quando fecha a Volta à Suíça no 7º lugar, tornando-se (nos anos seguintes) presença assídua na luta por etapas nas grandes voltas. Urán nunca conquistou uma grande volta, mas é sem dúvida um dos melhores ciclistas colombianos de todos os tempos, estando apenas a precisar de um 2º lugar na Vuelta, para ter completado todas as grandes voltas no 2º lugar em pelo menos uma ocasião (foi 2º no Tour em 2017).

    Nesta “equipa fantasia” Rigoberto Urán seria uma boa aposta para segundo líder ou, de forma mais segura, para um gregário, destacando-se pelas suas capacidades de impor um ritmo consistente em subida, que lhe valeu 3 pódios em grandes voltas.

    5. SERGIO HIGUITA– COLÔMBIA

    Aos 25 anos, Sergio Higuita corre pela BORA, sendo um ciclista com um perfil distinto daquele mais tradicionalmente associado aos colombianos. Não é um puro trepador, sendo um ciclista mais talhado para subidas com pouca extensão. Tem um perfil explosivo e incorpora tudo o que define um “caça-etapas”, assemelhando-se até certo ponto a Rui Costa.

    Higuita tem também aptidão para corridas de uma semana. Uma prova disto é a vitória na edição de 2022 da Volta à Catalunha. Tem uma etapa ganha em grandes voltas, mais concretamente, na Vuelta de 2019.

    Nesta equipa da América, Sergio Higuita seria um bom ciclista para integrar fugas, perseguir a vitória em etapas de média/alta montanha e para fazer algum trabalho nas jornadas montanhosas.

    4. BRANDON MCNULTY- EUA

    Brandon McNulty esteve em destaque no Giro, ao ganhar uma etapa e ao ajudar João Almeida a conquistar um lugar histórico no pódio. Foi mais uma prova da competência do norte-americano que esteve também ao lado de Tadej Pogacar, quando o esloveno ganhou o seu segundo Tour, em 2021,

    Com 25 anos, McNulty é uma promessa do ciclismo americano, dispondo do contrarrelógio como a sua principal arma. Na alta montanha, tem tendência para sofrer mais um bocado, mas é sempre um escudeiro útil para ter numa equipa. O norte-americano tem sido presença constante no top 10 das corridas de uma semana em 2023, nomeadamente na Volta ao País Basco e na Volta à Comunidade Valenciana, tendo sido 2º na Volta ao Algarve de 2022.

    À semelhança de Sergio Higuita, o trabalho de Brandon McNulty na formação pan-americana passaria por contribuir para o seu líder, mas com uma certa liberdade para perseguir etapas, em função do desenvolvimento da prova.

    3. DANIEL MARTINEZ – COLÔMBIA

    Daniel Martinez foi um dos principais responsáveis pela vitória de Egan Bernal no Giro, em 2021. O colombiano ajudou o compatriota a minimizar perdas num grande momento de fraqueza que Bernal apresentou na última semana. Desde que assinou pela INEOS, este será o maior exemplo de como Daniel Martinez pode fazer a diferença, tendo terminado na 5ª posição da geral (com o mesmo tempo de João Almeida, que fechou na 6ª posição)

    Um ciclista fantástico nas colinas, Daniel Martinez também é capaz de boas exibições na alta montanha. Venceu o Critérium du Dauphiné em 2020, com uma reviravolta na última etapa e em 2022 levou a Volta ao País Basco para casa. É um corredor mais inconsistente nos contrarrelógios, mas foi uma boa etapa nesta especialidade que lhe valeu a vitória na Volta ao Algarve, no passado mês de fevereiro.

    Nesta equipa pan-americana, Daniel Martinez seria, na pior das hipóteses, um gregário para a montanha. Na melhor, podia ser o número 2 da equipa, aproveitando um mau dia do líder para subir na hierarquia

    2. SEPP KUSS – EUA

    O melhor gregário do Mundo, Sepp Kuss é um ciclista que engana muito os fãs de ciclismo. As suas “performances” de luxo na Vuelta de 2019, no Tour de 2020 e no Giro de 2023 são apenas três (porque era possível arranjar mais) exemplos de momentos em que Sepp Kuss foi de tal forma eficaz a trabalhar para o seu líder que deu mesmo a impressão de ser o mais forte na grande volta em questão.

    Todavia, nas poucas vezes que Sepp Kuss teve a oportunidade de liderar a Jumbo-Visma em corridas de uma semana, não teve grandes resultados. O norte-americano deu logo que falar quando ganhou a Volta ao Utah em 2018, deixando um burburinho semelhante ao que Jonas Vingegaard, então desconhecido do público geral, deixou quando conquistou uma etapa da Volta à Polónia em 2019.

    Aos 28 anos, Kuss tem já vitórias no Tour e na Vuelta, faltando apenas ganhar no Giro para completar o pleno nas grandes voltas. Sepp Kuss seria um gregário de luxo nesta equipa pan-americana a não ser que se mostrasse num nível acima do habitual. Capaz de impor ritmos fortíssimos na alta montanha, podia ser o homem responsável pela preparação do grande ataque do seu líder.

    1.RICHARD CARAPAZ – EQUADOR

    Richard Carapaz deu logo um ar da sua graça em 2017, quando conseguiu um pódio na Route d’ Occitanie. Mas foi a partir de 2018 que mostrou o seu nível de uma forma mais séria ao ganhar uma etapa e ao acabar em quarto lugar da geral no Giro. Em 2019, subestimado por Vincenzo Nibali e Primoz Roglic, aproveitou a luta entre os dois para vencer a geral da Volta à Itália, tornando-se no primeiro equatoriano de sempre vencer uma grande volta.

    O sul-americano não parou de fazer história, saltando para a INEOS, onde ficou a 24 segundos de vencer a Vuelta de 2020, que sorriu a Roglic. Em 2021, completou o terceiro pódio em três grandes voltas, ao ficar em terceiro do Tour, a 7 minutos e 3 segundos de Pogacar. Na semana seguinte, sagrou-se campeão olímpico de fundo e em 2022, ficou em 2º do Giro, onde perdeu a rosa na penúltima etapa.

    Ao serviço da EF Easy Post desde janeiro deste ano, o campeão olímpico ainda não se afirmou. Todavia, a avaliar pelo seu nível habitual, seria um excelente líder para esta “equipa fantasia” das Américas. Um puro trepador com uma boa ponta final e capaz de se defender no contrarrelógio.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.