Giro d’ Italia #3: E mais uma para Roglic!

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    O esloveno Primoz Roglic sagrou-se vencedor da 106.ª edição do Giro de Itália, no passado domingo, em Roma. O galês Geraint Thomas ficou em segundo lugar, a 14 segundos, enquanto que o português João Almeida alcançou o primeiro pódio de sempre de um ciclista nacional em edições do Giro.

    Uma prova marcada por várias peripécias, muito devido ao mau tempo que se fez sentir por diversas ocasiões e por desistências por covid-19. Muitas foram as etapas monótonas nas primeiras duas semanas. As emoções só ficaram ao rubro na última semana, com algumas etapas importantes de montanha e a cronoescolada final. As desistências de nomes importantes para  a geral também pode ter condicionado os ataques e táticas dos próprios ciclistas. Remco Evenepoel, Tao Hart, Sivakov, Vlasov e Urán, todos eles abandonaram a prova mais cedo. O belga, campeão do mundo, foi o abandono com mais impacto, pois liderava a prova, aquando do teste positivo à covid-19.

    Para muitos foi uma edição pouco memorável. No entanto, a última semana acabou por causar muita expetativa quanto ao possível vencedor da classificação geral. Roglic fracassou na etapa 16, reergueu-se na etapa 18 e depois manteve o bom ritmo até ao fim da competição.

    O esloveno venceu pela primeira vez uma edição do Giro, à sua terceira participação. Já tem três Voltas a Espanha no palmarés, só falta vencer o Tour. Este ano conta com 100% de eficácia, visto que participou em três provas e venceu a classificação geral em todas (Tirreno Adriático, Volta à Catalunha, Giro de Itália). Curiosamente o seu triunfo foi conquistado ao penúltimo dia de competição, numa cronoescalada, o que acaba por ser uma história semelhante ao que aconteceu no Tour de 2020, mas desta vez feliz, pois na altura acabou por perder a prova para Tadej Pogacar.

    A sua equipa, Jumbo-Visma, teve vários azares no início da competição, com várias substituições de última hora a serem feitas, sobretudo, devido à covid-19. A par da Bahrain-Victorious foi a única equipa a não ter desistências durante os 21 dias de prova. O bloco da montanha acabou por funcionar com Koen Bouwman, Sam Oomen, Rohan Dennis e, acima de tudo, com o rendimento de Sepp Kuss. O norte-americano é considerado por muitos o melhor gregário de luxo do pelotão internacional e demonstrou-o na etapa 16, em que o seu líder passava dificuldades e este teve de o levar subida acima.

    O segundo lugar de Geraint Thomas foi até surpreendente, dada a concorrência existente no início da competição. A verdade é que andou oito dias de rosa, sem vencer qualquer etapa, mas manteve-se no top dez desde o primeiro dia. Terminou em segundo lugar em dois contrarrelógios e na etapa 16, e pensava-se mesmo que podia estar à beira da sua segunda conquista em Grandes Voltas, depois de já ter vencido o Tour em 2018.

    Antes de chegar ao Giro, não tinha tido os melhores resultados: 88.º lugar no Santos Tour Down Under, 45.º na Volta a Catalunha e 15.º no Tour dos Alpes.

    Trazia uma equipa muito boa, talvez a melhor de todas para a montanha, com Tao Hart em grande forma, Thymen Arensman, Laurens de Plus, Filippo Ganna, Salvatore Puccio, Pavel Sivakov e Ben Swift. Se Ganna era a melhor “carta” para ser lançada nos contrarrelógios, mas teve de abandonar devido à covid-19, a dupla Tao Hart e Sivakov seguiu o mesmo caminho, mas porque foram vitímas de queda.

    Partia numa coliderança com Tao Hart (vencedor de 2020), mas a partir da etapa 11 ficaria com toda a equipa à disposição. Acabou por dar uma boa resposta de si mesmo, mantendo a consistência que quase lhe valia a conquista do Giro. Aos 37 anos, o galês perde o Giro para Roglic, por apenas 14 segundos.

    No último lugar do pódio ficou João Almeida! O ciclista português, natural de A-dos-Francos, Caldas da Rainha, fez, novamente, sonhar uma nação, conquistando um dos melhores resultados de sempre em Grandes Voltas. Tornou-se no primeiro português a conseguir terminar no pódio da Volta a Itália.

    Para se ter noção deste enorme feito, somente, Joaquim Agostinho conseguiu terminar no pódio de Grandes Voltas: 3.º nas edições de 1978 e 1979 do Tour e 2.º na Vuelta de 1974.

    Depois de ter assumido a corrida e de se ter lançado para a frente em busca da glória, o caldense também venceu a etapa 16 com categoria. Foi num sprint a dois, com G.Thomas, que a etapa se decidiu. É o terceiro ciclista luso a vencer uma etapa no Giro, depois das vitórias de Acácio da Silva e de Rúben Guerreiro. São sete vitórias portuguesas em edições do Giro.

    Aos 24 anos demonstra uma grande leitura de corrida e a consistência necessária para obter grandes resultados em provas por etapas. Está cada vez melhor em subidas longas, apresenta um bom nível nos contrarrelógios e tem uma boa ponta final. Mantém a sua forma de correr, “no vai e volta”, sem ir ao choque, tentando poupar energias e seguir ao ritmo que melhor lhe convém.

    Antes do Giro, falando de provas por etapas, tinha alcançado um sexto lugar na Volta ao Algarve, um segundo posto no Tirreno Adriático e um terceiro lugar na Volta à Catulunha. Se não contabilizarmos a edição de 2022 do Giro, em que foi obrigado a abandonar devido à covid, temos de recuar até à Volta à Alemanha de agosto de 2021, para vermos Almeida fora dos dez melhores numa prova de etapas. Esta consistência está ao nível de poucos no pelotão internacional.

    Teve, finalmente, um bloco à altura para a montanha. O português contou com a ajuda de Davide Formolo, Diego Ulissi, Brandon Mcnulty e acima de tudo de Jay Vine. O australiano, criado na academia do Zwift, teve um papel preponderante na ajuda ao ciclista luso nas partes mais duras das etapas.

    Almeida ficou a 1m15s do primeiro lugar de Roglic, mas fez sonhar uma nação com aquela etapa 16, com a sua irreverência e ao ter conquistado a Camisola Branca da Juventude. Alcançou um dos maiores feitos de sempre no ciclismo nacional.

    Outros Destaques

    Eddie Dunbar esteve incrível, nunca tinha demonstrado um nível semelhante em provas por etapas. Finalizou o Giro no sétimo lugar, a 7m30s do líder. Andreas Leknessund andou de rosa e terminou a sua primeira participação no Giro com um oitavo posto. Lennard Kamna e Laurens de Plus conquistaram o seu primeiro top dez em Grandes Voltas. O colombiano Einer Rubio venceu a etapa 13 em Crans-Montana e ficou às portas dos dez primeiros, acabando a prova na 11.ª posição.

    Nota ainda para o regresso aos grandes momentos de Thibaut Pinot. O francês, apesar de não ter vencido nenhuma etapa, fez uma prova sempre em crescendo, e acabou por colher os frutos com um quinto lugar na geral e a camisola da montanha.

    Este ano houve pouca luta pela “maglia ciclamino”. Jonathan Milan venceu a classificação pela primeira vez e foi um dos destaques desta edição do Giro. Não era um ciclista muito conhecido, à partida, e que se pensasse que teria chances de vencer a camisola. A verdade é que, com apenas 22 anos, assumiu o estatuto de sprinter dentro da equipa e, com a experiência de Jasha Sutterlin e de Andrea Pasqualon tudo ficou mais fácil. Aliando ao facto do seu maior rival, Mads Pedersen, ter abandonado a prova de forma prematura. Venceu a segunda etapa, agarrando aqui o primeiro lugar na classificação por pontos que levou até ao final, e terminou em segundo lugar em quatro tiradas. A sua equipa, Bahrain-Victorious, venceu ainda a classificação por equipas.

    Destacar ainda nomes que surgiram nesta edição do Giro: Derek Gee, Marco Frigo, Davide Bais, Ben Healy e Nico Denz. O canadiano Derek Gee recebeu o prémio de ciclista mais combativo do Giro, muito devido à sua presença constante nas fugas. Terminou a prova com quatro segundos lugares em etapas e no segundo lugar nas classificações por pontos e montanha. O seu companheiro de equipa, o neo-pro Marco Frigo, também se fez valer nas fugas.

    Davide Bais teve de dar o ouro à equipa de Alberto Contador, com uma vitória na montanha de Gran Sasso, após o sucesso da fuga na sétima etapa. Foi o seu primeiro triunfo como profissional.

    Ben Healy tinha começado bem a temporada e, portanto, já seria de esperar boas exibições. Tinha vencido uma etapa na Settimana Coppi e Bartali, o GP Industria & Artigianato e obteve boas prestações nas Ardenas, com um segundo lugar na Amstel Gold Race e um quarto lugar na Liège-Bastogne-Liège. Ainda esteve na luta pela classificação da montanha, mas o cansaço acumulado não permitiu que fosse para além do terceiro lugar. O germânico Nico Denz, aos 29 anos, e sem qualquer vitória de grande renome, “sacou dois coelhos da cartola” e levantou os braços por duas ocasiões na sua oitava participação em Grandes Voltas.

    Curiosidade

    O ciclismo é um desporto de equipa e sobre isso ninguém tem dúvidas. Mas Geraint Thomas levou esse mote mais além, após ter ajudado o ex-companheiro de equipa Mark Cavendish a chegar à vitória na última etapa. O sprinter britânico anunciou durante o Giro que seria a sua última participação na prova, pois conta em retirar-se no final da época. Thomas, sem obrigação por ser de uma equipa diferente, mas como grande companheiro que é e foi de “Cav”, acabou por rebocar o sprinter da Astana nas últimas retas da cidade de Roma, dando origem a uma bonita vitória na despedida de um dos maiores sprinters de todos os tempos.

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    André Filipe Antunes
    André Filipe Antuneshttp://www.bolanarede.pt
    O André é licenciado em Marketing e Publicidade e um fã incondicional de ciclismo. Começou desde pequeno a ter uma paixão pelo desporto, através do futebol. Chegava a saber os plantéis de todas as equipas da Primeira Liga! Com o tempo, abriu-se o horizonte e o interesse para outros desportos, como o Ciclismo, o Futsal e, mais recentemente, a NBA. Diz que no Ciclismo existem valores e táticas que mais nenhum desporto possui e ambiciona um dia ter a oportunidade de assistir ao vivo a um evento deste calibre.