Giro d´Italia | 10 suspiros de espetáculo antes de um “Zoncolan” de emoção

    TODOS CONTRA TODOS? TODOS CONTRA EGAN BERNAL!

    Em grande estilo, Egan Bernal assumiu a liderança da corrida no passado domingo, culminando uma exibição de grande nível na terra batida de Campo Felice com a sua primeira vitória em etapa numa grande volta. Assim sendo, não é preciso aglomerar muita lógica para identificar aquilo que vai ser a principal faceta da corrida nos próximos dias em termos de controlo e despesas do pelotão, assim como o principal alvo a abater daqui em diante.

    Perante esta exibição, nem poderia ser de outra forma. O ex-campeão da Volta a França demonstrou-se mais forte do que todos os outros, simbolizando essa superioridade com a conquista da vestimenta rosa. Em termos de tempo, não se pode dizer que os ganhos foram imensos, porque não foram. Sensivelmente, um minuto separa 1º e 10º classificado neste momento, o que sugere duas coisas: a imprevisibilidade quantos aos nomes mais fortes nas futuras dificuldades mais agressivas e as consequências positivas sobretudo em termos mentais para corredores como Bernal, Evenepoel, Ciccone ou Vlasov, por exemplo, que partilham da posição favorável a terminar dentro do respetivo objetivo.

    Vejamos a situação de corrida com mais pormenor: 19 nomes encontram-se separados por dois minutos e meio nos lugares cimeiros da tabela classificativa. Temos de recuar a 2012 para encontrar semelhanças neste aspeto, o que torna esta missão de antever o que quer que seja… um pouco complicada. Por um lado, explica-se isto com o equilíbrio entre o grosso de trepadores presentes, por outro, referir a ausência de altitude, pendentes brutais e escaladas de elevado número de duração até ao momento.

    Zoncolan e companhia estão por enfrentar. Mas o alternismo das etapas destinadas aos homens da geral ganha já forma com a Strade Bianche “improvisada” desta quarta-feira. Dentro daquilo que é o clima modernista dos principais corredores da atualidade, a mentalidade ofensiva pode levar a mexidas em qualquer tipo de terreno, e é já nesta 12.ª etapa que as coisas podem aquecer. No menu, para além do monstruoso Zoncolan, destaque ainda para as etapas 16 (Passo Pordoi e Passou Giau), 17 (Sega di Ala) e 19 (Valsesia), para além da óbvia importância que o contrarrelógio da última etapa terá nas contas finais. Não é preciso dizer mais nada, certo? As coisas estão prestes a aquecer.

    Bem, mas quentes… quentes já estão. As diferenças, apesar de mínimas, conjugaram-se em quatro etapas diferentes. Depois de um contrarrelógio onde João Almeida e Remco Evenepoel se destacaram, os derrotados do dia, apesar das perdas de tempo pouco volumosas, foram Daniel Martin, Giulio Ciccone e Emanuel Buchmann, que cederam mais do que 30 segundos para os dois homens da Deceuninck Quick-Step. Mencionar também a etapa número quatro, onde Mikel Landa – forçado a abandonar devido a queda – se mostrou em grande forma, apenas confrontado por Bernal, aparentemente. O trepador basco, uma grande perda para o espetáculo e para a luta pela vitória, adiantou-se e levou consigo apenas três a quatro homens, no dia em que João Almeida se despediu precocemente da luta pelo pódio.

    Novamente por segundos, mas já com uma ideia mais definida quanto à diferença de forças, os favoritos voltaram a dar o ar da sua graça na curta e explosiva chegada a San Giocomo. Bernal voltou a exibir-se ofensivamente, movimentando-se e a fazendo diferenças para uma boa parte dos seus adversários. Ciccone e Vlasov voltaram a demonstrar-se ao seu nível, assim como Remco Evenepoel conseguiu integrar esse grupo. Apesar da distância não ser muita, no global, perdura aquela sensação agridoce quanto à prestação de Simon Yates numa primeira linha, mas também de nomes como Buchmann, Bilbao, Bardet, Hindley ou até de Nibali.

    A necessidade de marcar na agenda os próximos dias de montanha na Volta a Itália torna-se, por tudo isto, imperativa. A verdade é que não existe uma ideia totalmente aceitável construída em torno daquilo que já vimos. Será Bernal capaz de alargar diferenças para tudo e todos, mas em maior número? Evenepoel é o principal candidato a estragar a festa ao colombiano? Que nomes podem emergir e declararem-se à luta pela vitória final?

    Relativamente às hostes portuguesas e depois da normal subida de expectativas dada a prestação lusa no Giro de 2020, infelizmente, não se prevê um papel de grande destaque. Nelson Oliveira já andou perto da Rosa, assim como João Almeida, que se viu traído pelo frio e pela má alimentação na etapa quatro e acabou por perder bastante tempo. O Duro das Caldas, pese embora esse infortúnio, tem-se mostrado consistente nas etapas mais duras, exaltando-se como um corredor que ainda pode ter um papel importante no desfecho final da corrida, sobretudo no apoio a Remco Evenepoel. De saída da Deceuninck Quick-Step, o jovem encontra-se às portas do top20, sendo de esperar que se mantenha sempre por perto do belga, o que lhe pode permitir uma subida gradual na classificação depois de um espantoso quarto lugar em 2020. Já Rubén Guerreiro, longe das fugas onde foi uma das caras no ano passado, mantém-se como principal escudeiro de Hugh Carty, líder da Education First.

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    Ricardo Rebelo
    Ricardo Rebelohttp://www.bolanarede.pt
    O Ricardo é licenciado em Comunicação Social. Natural de Amarante, percorreu praticamente todos os pelados do distrito do Porto enquanto futebolista de formação, mas o sonho de seguir esse caminho deu lugar ao objetivo de se tornar jornalista. Encara a escrita e o desporto como dois dos maiores prazeres da vida, sendo um adepto incondicional de ciclismo desde 2011.