Giro d´Italia | 10 suspiros de espetáculo antes de um “Zoncolan” de emoção

    GANNA, EWAN, SAGAN… O OUTRO LADO DA VOLTA A ITÁLIA

    Filippo Ganna, Alessandro de Marchi e Atilla Valter. Os antecessores de Egan Bernal tiveram o prazer de liderar a prova num clima propício aos velocistas e corredores combativos deste pelotão. Entre sprints caóticos, fugas bem-sucedidas e um contrarrelógio vencido pelo “pai de todos os contrarrelógios”, este espaço designa-se a colocar o foco naquilo que foi cada dia de Volta a Itália até esta fase.

    Haveria outra forma de tratar Filippo Ganna que não vangloriando os seus feitos? Era o grande favorito para os 8,6 quilómetros de esforço individual em Turim e confirmou-o. Sendo o único a ultrapassar uma impressionante média de 58km/h, apenas uma dupla de jovens diamantes da Jumbo Visma – o italiano Edoardo Affini e o norueguês Tobias Foss – foi capaz de se aproximar do campeão do mundo na especialidade, completando o pódio.

    Este contrarrelógio com sabor a prólogo viu ainda Remy Cavagna e Jos Van Emden em polvorosa, como dois dos contrarrelogistas puros que, talvez com uma extensão mais volumosa, pudessem fazer maior comichão ao portento italiano. Os 30 quilómetros de esforço na última etapa, em Milão, serão uma bela oportunidade para tentar derrotar Ganna, juntando-se a estes atletas com apetência para o contrarrelógio os homens da geral com mais capacidade para rolar, como Remco Evenepoel, um dos últimos a vencer Filippo Ganna neste domínio.

    Outra das histórias bonitas deste Giro: um dos clássicos combatentes deste pelotão subiu um dos melhores degraus da sua vida. O pouco usual descontrolo do pelotão sobre os homens da fuga no início de uma prova de três semanas permitiu a Alessandro de Marchi realizar um sonho de menino. Taco Van de Hoorn, Joe Dombrowski, Gino Mader e Victor Lafay foram figuras de proa em quatro etapas que acabaram por ser decididas por fugitivos, mas o veterano italiano e também Atilla Valter, a promessa húngara da Groupama-FDJ, foram também brindados com a camisola rosa devido à sua regularidade.

    O “modus operandi” destes homens não variou muito. Foram, essencialmente, os atletas com maior capacidade física da respetiva jornada, disferindo um ataque no momento ideal para as pretensões de vencer a etapa. Todos chegaram isolados, atestando a justiça nos seus triunfos, sendo, curiosamente, a primeira vitória de cada um numa grande volta.

    Os sprints. Falta abordar as etapas que culminaram numa chegada em grande velocidade, e onde um homem se destacou. Caleb Ewan venceu duas etapas – mais uma do que Tim Merlier e Peter Sagan e mais duas do que o restante leque de velocistas em prova -, retirando-se, entretanto, envolto numa corrente de polémica que até… Eddy Merckx envolveu. As críticas quanto ao seu abandono choveram de todo o lado, porém, o sprinter australiano revelou que a situação se desencadeou devido a um problema físico.

    Foram duas etapas e ainda havia, teoricamente, mais duas oportunidades para todos os sprinters fazerem o gosto à bicicleta. Sobre os quatro triunfos registados por sprinters, Caleb Ewan, presente em três, voltou a evidenciar a sua temível velocidade de ponta, voltando a fazer jus à faceta de sprinter mais rápido do mundo, no entanto, não se tem traduzido em eficácia ou até mesmo no título de melhor sprinter do mundo, até porque velocidade parece não ser tudo. Porque é que assim é?

    Essa discussão talvez fique para outro dia. Ingredientes que podem ajudar a cozinhar uma teoria falam-nos do facto de Caleb Ewan não estar inserido numa equipa talhada para o levar ao risco de meta (apesar de priorizar os objetivos do australiano), ficando muitas vezes cortado, mal posicionado ou ainda a tempo de fazer recuperações incríveis em curtos espaços de tempo, para além dos claros problemas em manter uma consecutividade no seu rendimento nas grandes voltas.

    Vamos ao que interessa. A primeira decisão sorriu a Tim Merlier, que, entretanto, também já abandonou. Caleb Ewan, com dois colegas de equipa no apoio, não foi capaz de melhor do que um décimo lugar, num dia onde o belga da Alpecin-Fenix lançou-se ao ataque de longe e bateu a armada italiana (Nizzolo&Viviani) e ainda um Dylan Groenewegen de regresso aos grandes palcos.

    Seguiu-se o domínio australiano. Num final caótico, a etapa número cinco terminou com a primeira do homem da Lotto-Soudal, depois de uma reviravolta incrível, que tirou a primeira vitória numa grande volta a Giacomo Nizzolo. Toques, risco de queda e uma recuperação estonteante nas barbas do italiano e Elia Viviani, outro sprinter dos mais consistentes até agora.

    Mais tranquila foi a chegada a Termoli, na etapa sete. Fernando Gaviria tentou surpreender toda a gente, mas no fundo só facilitou a vitória a Caleb Ewan. Aproveitando o cone de vento de um dos seus concorrentes diretos, Ewan ultrapassou o colombiano e bateu Davide Cimolai e Tim Merlier sem grande dificuldade.

    Já com Ewan a caminho de casa, o sprint pela etapa dez pautou-se pela extrema velocidade. Num final perigoso, Peter Sagan regressou em grande estilo às vitórias, beneficiando de um posicionamento perfeito para vencer frente a Fernando Gaviria e Davide Cimolai. Nas contas da Maglia Ciclamino, a camisola dos pontos na Volta a Itália, Peter Sagan lidera com mais 17 pontos do que Fernando Gaviria e Davide Cimolai. Seguem-se dificuldades agressivas para os velocistas, sendo que os sprints intermédios vão começar a ganhar outra importância. Quem levará a melhor?

    Quanto a todas as classificações em disputa, mencionar ainda a camisola branca, símbolo da juventude, e que muito em princípio será entregue a um corredor em grande plano. Egan Bernal, Remco Evenepoel e Aleksandr Vlasov são os principais candidatos, logo por aí se percebe que a branca até pode juntar-se à rosa, dada a capacidade destes protagonistas.

    Sobre a classificação da montanha, quase que poderíamos dizer que ainda temos todas as escaladas por ultrapassar, mas são vários os corredores com uma boa vantagem e capacidade para pontuar em altitude. Bauke Mollema e Geoffrey Bouchard partem como favoritos. Quem sabe não teremos um homem da geral a juntar-se à festa, até porque Bernal e Ciccone fazem parte do top 5 de momento. Por fim, a classificação por equipas aponta para uma vitória da Ineos Grenadiers, ainda para mais agora com a obrigação de apoiar o seu líder até o mais próximo possível da linha de meta. Venha daí o que ainda falta, venha a Volta a Itália!

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    Ricardo Rebelo
    Ricardo Rebelohttp://www.bolanarede.pt
    O Ricardo é licenciado em Comunicação Social. Natural de Amarante, percorreu praticamente todos os pelados do distrito do Porto enquanto futebolista de formação, mas o sonho de seguir esse caminho deu lugar ao objetivo de se tornar jornalista. Encara a escrita e o desporto como dois dos maiores prazeres da vida, sendo um adepto incondicional de ciclismo desde 2011.