Il Lombardia: Tadej Pogacar conquista o “tri”

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    O último monumento do ano, a Volta à Lombardia (Il Lombardia, em italiano) é a penúltima corrida do ano no World Tour, e é para muitos o baixar da cortina sobre a época. Mas, nem por decorrer no final da época, a “Clássica das Folhas Caídas” fica mais suave. 238 quilómetros a ligar Como a Bergamo marcados por um sobe e desce, mas com a particularidade de serem subidas com maior extensão, particularmente nos últimos 100 km da corrida. Esta característica ajuda a fazer desta a clássica dos trepadores e dos voltistas, uma vez que apenas quem aguenta a alta montanha consegue disputar esta corrida

    A ligação entre Como e Bergamo mostra uma inversão em relação ao percurso de 2022, que ligava as duas cidades, mas com chegada em Como. A corrida assumia, desta forma, um perfil idêntico ao de 2021, quando Pogacar conquistou a corrida pela primeira vez.

    A antecipação estava em torno de uma luta a três entre Tadej Pogacar, Remco Evenepoel e Primoz Roglic. Este último alinhava na sua última corrida como ciclista da Jumbo-Visma, tendo sido oficializado na Sexta-Feira como reforço da BORA-hansgrohe para 2024. Ainda assim, a saída da formação neerlandesa ao fim de 7 anos de ligação tinha sido já confirmada pelo próprio esloveno, no mesmo dia em que venceu o Giro del Emilia, batendo Tadej Pogacar de forma expressiva.

    Já Evenepoel chegava sem qualquer corrida nas pernas desde a Vuelta que acabou em grande, com a vitória na classificação da montanha e em três etapas, mas manchada pelo fracasso na luta pela geral, com uma etapa 13 completamente desastrosa, onde perdeu cerca de 27 minutos. A falta de rodagem do belga fazia da sua condição física uma incógnita.

    Já outros nomes como Richard Carapaz, Andrea Bagioli e Ilan Van Wilder, chegavam com estatuto de outsiders “de luxo” digamos assim. O equatoriano vinha de uma das melhores semanas da sua época de estreia pela EF Education – EasyPost, com bons resultados no Giro dell’Emilia e na Tre Valli Veresine.

    Já Van Wilder tinha derrotado a maior parte dos nomes grandes deste pelotão na Tre Valli Veresine e Bagioli vencera a Gran Piemonte. Depois, ainda saltavam à vista nomes como Enric Mas, Mikel Landa, Ben Healy, Ben O´Connor, Simon Yates, Adam Yates, entre outros que, sem apresentar uma forma espetacular não surpreenderiam ninguém ao vencer.

    Um pequeno holofote pairava sobre Thibaut Pinot, uma vez que o francês que conquistou esta corrida em 2018, partia para a última corrida da sua carreira. Rui Costa foi o único português presente na corrida.

    DUAS CORRIDAS NUMA SÓ

    A primeira metade da corrida foi bastante monótona, ficando marcada por uma queda que viu Remco Evenepoel ficar significativamente maltratado. O belga ficou com várias feridas e rasgões no equipamento. A incógnita em torno de Evenepoel adensava, pois não havia como adivinhar se as lesões o iriam afetar já nesta corrida.

    A fuga era constituída por um grupo de 16 ciclistas, reflexivo da luta que foi saltar para a frente. Saltavam à vista os nomes de Samuele Battistella e Thomas de Gendt, sendo que são sempre corredores perigosos para fugas em corridas aciendtadas. Contudo, a fuga nunca teve uma vantagem que chegasse sequer aos cinco minutos.

    A corrida era, desta forma, bastante monótona durante os primeiros 158 km, até que a Soudal-Quick Step decidiu tomar as rédeas do pelotão.  Enric Mas era o primeiro grande nome a ficar para trás, demonstrando sinais claros de uma lesão ou doença. Aqui, as coisas começavam a aquecer.

    Ben Healy lançava o primeiro ataque com Oscar Onley na roda. O irlandês da EF Education – EasyPost tinha conquistado a Volta ao Luxemburgo com um ataque a solo, pelo que esta iniciativa não era uma brincadeira. Diego Ulissi também atacou com Attila Valter na roda, sendo acompanhados por Ilan Van Wilder que se juntou ao duo intermédio com uma grande facilidade.

    Se estes três ciclistas se juntassem ao duo de Healy e Onley, tinham sérias possibilidades de fazer uma gracinha, pois tanto EF, Emirates, Jumbo, DSM e Soudal tinham ciclistas na frente, logo não perseguiam atrás. Contudo, Valter não era aposta, assim como Ulissi, pelo que foram rapidamente reintegrados num pelotão em que a Jumbo-Visma puxava. Já a Emirates ficava mais resguardada, uma estratégia oposta à que adotou no Giro dell’Emilia, onde usou a força coletiva para tentar quebrar Primoz Roglic.

    Curiosamente, a Jumbo parecia estar a desmantelar-se a si própria, pois ia puxando na frente, mas eram os seus ciclistas quem ficava para trás. Jan Tratnik, Wilco Kelderman, nenhum parecia ter as pernas da Vuelta. A 64 km do fim, ocorria uma nova queda, com Richard Carapaz e Mikel Landa a ficarem envolvidos, sendo que o basco ficava bastante maltratado.

    Chegava o Passo di Ganda, 9,3 km a 7,1% de pendente média, a penúltima subida do dia, colocada a 41 km do fim. Aí, a Emirates assumiu a corrida durante alguns quilómetros mas não cometeria o mesmo erro da semana anterior. Adam Yates atacava com Julian Alaphilippe na roda. Assim, a Jumbo tinha de perseguir, quando já só tinha Valter junto a Roglic.

    Adam Yates era apanhado, mas continuava a meter ritmo na frente e o grupo ficava com menos de 10 ciclistas na frente. Evenepoel ficava para trás, sentindo os efeitos da queda no início da corrida.

    Aleksandr Vlasov atacou com Simon Yates na roda, assim como Adam Yates, Michael Woods, Richard Carapaz, Andrea Bagioli e Chris Harper. Formou-se um grupo na frente, com Pogacar, Roglic, Carlos Rodriguez mais atrás. Pogacar sairia com facilidade enorme para o grupo dianteiro. O “Rei” da Jumbo respondia a ritmo e quando parecia que se ia juntar ao grupo da frente, foi Pogacar a atacar com uma mudança de ritmo ligeira. O esloveno ganhou uma pequena vantagem na dianteira, mas Vlasov mostrou-se capaz de fazer a ponte para o colega de João Almeida.

    Atrás Roglic puxava com Simon Yates e Richard Carapaz. Contudo o equatoriano ficava para trás e era a hora de Roglic sair do grupo e fazer a ponte. Ficava na frente um grupo com muito poucos ciclistas.

    Pogacar atacava na descida seguinte e arriscava imenso, assim como Aleksandr Vlasov na resposta. Roglic mostrava alguma inconsistência no seu ritmo, ora puxava na frente, ora estava atrás em dificuldades ou em controlar. Mostrou no Giro que sabe fazer bluff, mas a postura do ciclista era indicativa de outra circunstância de corrida. Pogacar quase se matava na descida mas ninguém mais o via. A subida final, o Colle Aperto não faria grande diferenças, sendo que o grupo perseguidor não se entendia, apesar de algumas cãibras para Pogacar na frente.

    O esloveno ganhava a sua terceira Volta à Lombardia consecutiva, o primeiro a alcançar o tri desde Fausto Coppi, entre 1946 e 1948.  Atrás Carlos Rodriguez parecia o mais forte, mas não era capaz de fazer diferenças no Colle Aperto. No sprint final, Primoz Roglic partiu na dianteira, mas foi batido por Andrea Bagioli que completava um segundo lugar fantástico. Já Rui Costa acabou a época em grande, com um 13º lugar na “Clássica das Folhas Caídas”.

    É o segundo monumento do ano para Tadej Pogacar, depois de conquistar o Tour de Flandres em abril. O esloveno garante desta forma o primeiro lugar no ranking da UCI e deixa a classificação coletiva também muito bem encaminhada para a UAE Team Emirates, o segundo ano consecutivo em que ambos alcançam a honra.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.