Mais um ano e mais uma invenção da ASO na La Course by Le tour de France, a prova feminina promovida pela organização da famosa prova francesa masculina. Depois de começar como uma prova ao sprint em Paris no último dia do Tour passou para uma competição de dois dias com montanha mais um ‘contrarrelógio’ ao estilo perseguição, seguiu-se um regresso a um dia apenas, mas continuando como prova montanhosa e este ano passou a ser um circuito ondulado no mesmo percurso do contrarrelógio masculino.
Muitos têm pedido que a ASO crie uma prova por etapas, ou seja, um verdadeiro Tour feminino. Pessoalmente, não partilho dessa visão, tanto porque entendo que o ciclismo feminino não precisa de copiar o masculino na composição do seu calendário como porque há outras opções para grandes provas, como o Giro Rosa ou o futuro Battle of the North.
Ainda assim, é preocupante a incapacidade de se definir que esta prova demonstra. Isto cria dificuldade em identificação com o público e mostra até algum desrespeito pelas atletas. Aliás, maior prova disso foi o circuito deste ano, em que as ciclistas parecerem ser mais usados para dar um ‘show’ aos adeptos enquanto estes esperavam pelo crono masculino, que propriamente respeitar a prova em si.
This was what Marianne Vos looked out at in her La Course press conference just now. Me and a lot of empty seats. Embarrassing that one of the sport’s greatest ever riders gets ignored like this #TDF2019 #LaCourse pic.twitter.com/gm6Sy6UM8f
— Peter Cossins (@petercossins) July 19, 2019
E é bom relembrar que que também a iteração espanhola deste formato, o Madrid Challenge by La Vuelta, organizada pela Unipublic que é propriedade da ASO, também vai por caminhos semelhantes, já que a dois meses da mesma ainda nem sequer há qualquer informação sobre o percurso que será ultrapassado.
Não é que a corrida tenha sido fraca. Foi exatamente o oposto. As atletas demonstraram exatamente porque dá tanto gosto de seguir o ciclismo feminino, com ataques, jogadas táticas, espetáculo e uma vitória com estilo.
Desde cedo que se verificaram muitos ataques e a fuga do dia constituiu-se robusta com vários elementos interessantes e muitas das principais equipas representadas. A meio da prova houve movimentação tática de algumas equipas quando um pequeno grupo tentou chegar à frente, o que proporcionou uma reação do pelotão para o evitar, fazendo também assim diminuir a vantagem das da frente.
Já na parte final e com a fuga inicial alcançada, atacou forte Amanda Spratt e a australiana parecia até bem encaminhada, entrando no quilómetro final com ainda alguma vantagem. Mas, mais uma vez, a fenomenal Vos não se fez rogada e atacou na colina colocada bem perto da meta, acelerando a solo para uma vitória autoritária, conquistando a La Course pela segunda vez, depois de ter também triunfado em 2014 na edição inaugural.
Foto de Capa: CCC-Liv