La Vuelta Feminina: O duelo entre uma lenda e a sucessora

    modalidades cabeçalho

    Primeira grande volta do ano! A expetativa era grande na La Vuelta, para os 7 dias em que Annemiek Van Vleuten, ciclista de 41 anos da Movistar, que partia para a defesa do seu título, no último ano da carreira e numa forma aparentemente menos boa, com a neerlandesa a falhar a conquista de qualquer monumento na primavera de 2023. Ao revés, Demi Vollering, neerlandesa de 26 anos que corre pela SD Worx fez o que Pogacar não conseguiu e ganhou as três clássicas das Ardenas num só ano.

    Destaque para a presença de 4 ciclistas portuguesas: Beatriz Roxo, da Cantabria Deporte, jovem de 19 anos que se destacou na Volta à Comunidade Valenciana depois de ter percorrido mais de 100 quilómetros a solo na etapa rainha; Mariana Líbano, da Solltec, também ela com 19 anos, tendo já conquistado provas em Espanha no ano passado; Vera Vilaça, da Massi Tactic, antiga campeã nacional de triatlo pelo Benfica, que fez a conversão total para o ciclismo este ano com um top 5 numa prova da Taça de Espanha, tendo inclusive feito pódio na Volta a Portugal  do ano passado; e por último, a campeã nacional, Daniela Campos que corre ao serviço da Bizkaia-Durango.

    A primeira etapa foi um contrarrelógio por equipas de 14,5 km, que acabou por ser ganho pela Jumbo-Visma, com Anna Henderson a ser a primeira líder da prova. A equipa neerlandesa quase conseguiu baixar dos 18 minutos, mas ainda assim, acabou com a Canyon apenas 2 segundos atrás. A SD Worx foi capaz de ganhar 2 segundos à Movistar, mas a DSM e a FDJ perderam ambas 25 segundos. Pela positiva, destaque para as equipas continentais da Massi Tactic e da St. Michel Auber 23, ambas capazes de estabelecer tempos de referência, mantendo uma tendência apresentada no contrarrelógio inicial da Volta à Extremadura.

    Na segunda etapa, o dia ficou marcado por uma queda a menos de 40 km da meta, que envolveu ciclistas da Israel Premier Tech, da Bizkaia Durango,da DSM, da FDJ e da UAE ADQ, com a italiana Silvia Persico a ficar envolvida. De resto, a subida a Punto del Abate, foi a contagem que marcou o dia com um ritmo forte a ser imposto pela Canyon, para aproximar Dygert da liderança, sendo que a antiga campeã do Mundo de contrarrelógio bonificou mesmo 2 segundos no sprint intermédio (que passou um pouco despercebido), sendo batida por Riejanne Markus, que mantinha a liderança virtual na Jumbo-Visma.

    A primeira ciclista a pontuar e a vestir a camisola da montanha foi Jade Wiel, da FDJ, com a francesa a fechar em primeiro lugar no alto do Punto del Abate. Na preparação do sprint, o destaque foi para o trabalho de Persico e também de Demi Vollering na frente do pelotão, uma posição surpreendente para uma das maiores favoritas à vitoria final.

     No quilómetro final, as protagonistas foram outras. Chloe Dygert lançou-se ao ataque para tentar surpreender as sprinters, iniciativa que não surtiu efeito, com Marianne Vos a apanhar a norte americana dentro dos 100 metros finais. Ainda assim, foi Charlotte Koola sair da roda de Vos para dar uma vitória fantástica da DSM. Marianne Vos envergava a vermelha que ficava dentro da Jumbo-Visma.

    A 3ª etapa foi a mais longa da Vuelta, com 158 km. Todavia, foi corrida a um ritmo diabólico que levou a cortes significativos no pelotão, com um vento forte, em Albacete. A Movistar era a principal responsável pela seleção no grupo principal. O pelotão começou a cortar a 90 km do fim e no grupo perseguidor rodava a campeã nacional Daniela Campos.

    Já a Trek-Segafredo ficava completamente para trás num grupo que circulava a mais de minuto e meio do grupo da frente, onde puxavam a EF-TIBCO e a Jayco, uma vez que Kristen Faulkner, líder da equipa australiana tinha também ficado para trás.   Na frente, mantinham-se a SD Worx e Demi Vollering, de entre as favoritas à geral. A Jumbo-Visma também seguia bem representada, nomeadamente com a líder da geral na frente.

    Sprint bonificado em Barrax e Annemiek Van Vleuten ganhava 1 segundo de bonificação com a Jumbo a ocupar as duas primeiras posições, com Marianne Vos e Riejanne Markus a ocuparem as duas primeiras posições. Destaque para o desempenho da Bizkaio e da St. Michel Auber 23 que foram as duas formações continentais capazes de colocar ciclistas num dos dois primeiros grupos.

    O grupo perseguidor chegou a perder menos de 20 segundos para a frente, mas a perseguição acabou por ficar desorganizada, levando as corredoras a abdicarem da tentativa de alcançar a frente da corrida.  No grupo principal, as maestrinas eram a DSM, a Canyon e a Jumbo. No sprint final, invertiam-se os papéis com Charlotte Kool a lançar o sprint, apenas para ser batida de forma clara por Marianne Vos.

    Foi no fim da etapa 3 que Mariana Líbano e Daniela Campos tiveram de abandonar. A ciclista de 19 anos chegou fora do controlo e foi obrigada a abandonar. Já Daniela Campos caiu a menos de 5 km do fim e teve de abandonar.

    AS DECISÕES COMEÇAM

    A 4ª etapa foi um dia mais acidentado. Muitas ciclistas tentaram saltar para a frente da corrida, com destaque para Vera Vilaça, da Massi Tactic que chegou a estar numa fuga a solo durante 7 km. A fuga que marcou o dia acabou por ter 4 ciclistas, incluindo a campeã Olímpica Anna Kiesenhoffer e a campeã brasileira de sub-23, Ana Vitória Magalhães, colega de equipa de Daniela Campos na Bizkaia.

    A brasileira de 22 anos foi mesmo capaz de se isolar na frente, com mais de 50 km para o fim, demonstrando uma grande capacidade física, apesar de nunca ter ameaçado ganhar a etapa. “Tota” Magalhães era alcançada a cerca de 40 km do final por um grupo perseguidor e pouco depois pelo pelotão, no qual nenhuma equipa parecia muito inclinada para assumir a dianteira do grupo principal.

    Portanto, começaram a surgir ataques. Primeiro foi a líder da classificação da montanha, Jade Wiel quem tentava sair, mas a iniciativa da gaulesa não teria grande sucesso, pois saiu pouco antes do sprint bonificado.  Quem teve mais sucesso foram Georgia Williams, da EF TBICO, e Aranza Villalón, da Eneicat. O duo ganhava mesmo uma margem a rondar os 30 segundos para o pelotão.

    A corrida seguiu com uma certa incerteza até ao Alto de Horche, sendo que o duo da frente ganhou a companhia de Agnieszka Skalniak-Sójka (Canyon), Silke Smulders (LIV Racing) e de Sigrid Haugset,  (Team Coop). A subida final do dia começava e o quinteto era reintegrado no grupo principal. Femke Markus foi a primeira a lançar-se ao ataque, mas a Movistar tomou conta da corrida e reintegrou a irmã de Riejanne Markus no grupo.

    Vollering assumia a dianteira do pelotão no último km da subida, com Van Vleuten a marcar a roda da compatriota, ciclista da SD Worx. A subida foi seletiva, sobretudo por causa de uma queda que ocorreu durante a contagem. No fim da subida, Van Vleuten acelerava e Vollering saía na roda da campeã do Mundo, com Mavi García a alcançar o duo, rapidamente.

    A vantagem nunca foi grande e os quilómetros seguintes ficaram marcados por uma certa marcação entre as candidatas à vitória na geral. Liane Lippert também arrancava a 6 km do fim e isolava-se na frente, com Vollering a fazer a ponte para a campeã da Alemanha. As duas foram apanhadas a cerca de 2,5 km. No sprint, Marlen Reusser tentou surpreender com um ataque, mas Vos tornava a vencer, agora com um sprint lançado a mais de 100 metros, reforçando a liderança na classificação.

    Antepenúltimo dia da corrida marcado pela primeira chegada em alto da Vuelta, em 2023 e logo num local que fez a sua estreia absoluta como chegada na prova espanhola: o Mirador de Peñas Largas. Mas o pelotão não esperou pela subida final para endurecer a corrida, com um ritmo forte a ser imposto, selecionando o grupo logo no Puerto de Navafría, garantindo inclusive a mudança de líder no fim da corrida.

    As próprias Silvia Persico e Katarzyna Newiadoma perderam o contacto, devido ao ritmo imposto. O mesmo aconteceu com Lippert, sendo que Van Vleuten ficava como a única representante da Movistar na frente da corrida. Para além da campeã do Mundo, Mavi Garcia e Rejanne Markus eram as únicas ciclistas sem colegas de equipa no grupo.

    No grupo de Vos seguia o resto da Movistar que perseguia com vista a chegar-se à frente. A 36 km do fim, Niamh Fischer-Black e Ane Santesteban, prejudicando a SD Worx e a Jayco respetivamente.

    Chloe Dygert era a líder virtual e continuava a dar boas indicações ao longo da semana. Á entrada da subida final, o cenário mudava com Riejanne Markus a vencer o sprint bonificado em Riaza à frente de Chloe Dygert e de Van Vleuten, que também alcançava bonificações importantes. A Trek-Segafredo passava pela frente, metendo ritmo com Gaia Realini e Persico ficava para trás a menos de 3 km. Niewiadoma, terceira do Tour em 2022, cedia a 2,3 km do fim.

    Demi Vollering assumiu a dianteira do grupo e dinamitou a corrida nos últimos 2 km. Realini bem tentou seguir as duas neerlandesas, mas abriu para o lado dentro dos últimos 1000 metros, deixando um quarteto com Van Vleuten, Vollering, Évita Muzic (FDJ) e Ricarda Bauerfind (Canyon).

     A cerca de 400 metros, Annemiek Van Vleuten passava para a frente, mas Vollering não largava a roda, assim como Bauerfeind. Vollering e Van Vleuten a um nível diferente, mas foi a líder da SD Worx a primeira ciclista profissional a vencer no Mirador de Peñas Largas. Demi Vollering era a nova líder da classificação geral, com 5 segundos de vantagem para Annemiek Van Vleuten. Riejanne Markus mantinha um lugar no pódio, a 12 segundos do primeiro lugar.

    UMA PAUSA NO MOMENTO ERRADO

    A etapa 5 acabou também por marcar o fim da primeira Volta à Espanha de Beatriz Roxo, com a ciclista da equipa da Cantábria a não terminar a etapa, devido a doença. Chloe Dygert acabou a etapa, mas não arrancou no dia seguinte, tendo deixado ainda assim, boas indicações para o futuro, depois da queda grave nos Mundiais, em 2020.

    Nova etapa de alta montanha e Annemiek Van Vleuten não perdeu tempo para tentar chegar à liderança na geral, dinamitando a corrida a 46 km do fim, ainda antes da Fuente de Las Varas, uma contagem, de 2ª categoria. Vollering parou a 2 km do início da subida para urinar Nesse momento, com ventos cruzados a Movistar, a Trek e a Jumbo endureceram a corrida.

    No grupo da campeã do Mundo, seguiam Muzic, Garcia, Markus e outras três corredoras. Não estava era uma pessoa de destaque: Demi Vollering, com a tripla campeã das Ardenas a mais de minuto e meio das líderes.

    Ficava a impressão até de que Van Vleuten, García e Realini podiam ir embora, fazendo lembrar a etapa em que Van Vleuten sentenciou o Giro Rosa no ano passado. Rejanne Markus e Mavi Garcia ficavam para trás. A 32 km do fim, Van Vleuten volta a partir do grupo e desta vez só mesmo Gaia Realini seguiu. No sprint a duas, a italiana da Trek foi inteligente e lançou-se primeiro ao sprint, ficando com a vitória na jornada. Van Vleuten vestia a vermelha.

    Demi Vollering até se defendeu bem e recolou a todas as ciclistas, menos ao duo da frente. Aliás a neerlandesa acabou mesmo por recuperar mais de 30 segundos nos últimos quarenta quilómetros, para a líder da Movistar que chegava à última etapa, chegada a Lagos de Covadonga, com um minuto e onze segundos de vantagem para a ciclista da SD Worx.

    No fim da etapa, Anna Van der Breggen, Diretora Desportiva da SD Worx disse o seguinte após a etapa:

    “Logo após a paragem das nossas corredoras para urinar, com mais algumas ciclistas de outras equipas, a Movistar, a Jumbo Visma e a Trek-Segafredo apareceram na corrida Enquanto o vento nem vinha verdadeiramente de lado. Foi mais um vento frontal naquele momento.”

    Ao que o Diretor da Movistar, Sebastian Unzue, respondeu:

    “Tínhamos um plano muito claro, esta manhã. Sabíamos que era uma área desprotegida com uma grande ponte e com vento cruzado forte. Tivemos Jurgen Roelandts na frente da corrida a informar-nos das condições de vento no sítio onde queríamos fazer a aceleração (…) Conhecemos perfeitamente esta estrada porque vivemos perto da área e corremos aqui a vida toda e sabíamos que alguns candidatos à geral não estariam à espera disso, pelo que avançámos

    VAN VLEUTEN MANTÉM A COROA

    Chegava a etapa rainha, a última desta edição, com chegada mítica aos Lagos de Covadonga. A SD Worx não perdeu tempo para endurecer a corrida e reduziu o grupo principal para 16 corredoras, com Ana Santesteban a ser a única ciclista de entre as 10 primeiras a perder o contacto e com Van Vleuten a ficar sozinha (Lippert ainda reentrou no grupo, mas descolou de novo na última subida).

    Na categoria especial de Lagos de Covadonga, última subida da edição de 2023 da Vuelta, Niemh Fischer-Black destruiu o grupo das favoritas, deixando Niewiadoma e Mavi García para trás. A 10,1 km do fim, ataca Demi Vollering, com resposta de quase todas as ciclistas no grupo. Isto, porque Vollering é uma ciclista mais conhecida pelo ritmo consistente do que pelos “esticões”. A 9 km do fim, só quatro ciclistas seguiam no grupo de Van Vleuten: a própria, Muzic, Realini e Vollering. Muzic cedia a cerca de 6,5 km para o fim e ficavam no grupo as três melhores ciclistas da Vuelta.

    A 5,8 km do fim, a italiana aumentou o ritmo e deixou a camisola vermelha em dificuldades, mas capaz de apanhar a roda de Vollering. Mas a neerlandesa da Movistar ficava para trás a 5,5 km do fim, com um endurecimento por parte de Realini. Numa fase em descida no último quilómetro, Vollering ficou sozinha na frente e só parou na meta, com a vitória na última etapa, mas Annemiek Van Vleuten acabou em terceiro lugar da etapa e venceu a Vuelta no último ano da carreira, por 9 segundos.

    Gaia Realini foi a segunda na etapa e subiu do 12º lugar da geral para o lugar mais baixo do pódio num só dia. A italiana de 21 anos até podia ter desempenhado um papel de maior protagonismo na geral, mas os cortes da 3ª etapa, jornada em que Realini perde 2 minutos e 41 segundos afastaram-na das duas primeiras classificadas. A jovem da Trek-Segafredo ganhou a classificação da montanha. Já Marianne Vos dominou a classificação por pontos e a UAE ADQ foi a melhor equipa. Vera Vilaça foi a única portuguesa a terminar a corrida, fechando na 97ª posição.

    - Advertisement -

    Subscreve!

    Artigos Populares

    Barcelona: Vitor Roque conta com três interessados na La Liga

    Vitor Roque chegou ao Barcelona em janeiro. O avançado...

    Os 4 gigantes de olho em Dani Olmo

    Dani Olmo reuniu vários pretendentes na Europa. O Leipzig...
    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.