O Ciclismo Nacional em 2022 #2

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    [parte 2]

    OPERAÇÃO PROVA LIMPA

    A 24 de abril do presente ano civil, a gíria do ciclismo nacional abanava como há muito tempo não se sucedia. Através de um comunicado emitido pela polícia judiciária a partir do seu sítio oficial, surgia a confirmação de um cenário negro avançado pela imprensa portuguesa.

    Tratavam-se de suspeitas sobre uma equipa de ciclismo portuguesa e a utilização indevida de substâncias proibidas tendo em vista o melhoramento dos resultados desportivos de inúmeros atletas. As investigações envolveram “buscas domiciliárias e não domiciliárias em diversas regiões do território nacional, visando dirigentes, atletas e instalações de uma das equipas”.

    A W52-FC Porto, formação mencionada durante o processo, estava a ferro e fogo dado que os resultados primordiais desta cooperação entre as entidades policiais e a autoridade antidopagem de Portugal revelaram a apreensão de “diversas substâncias e instrumentos clínicos, usados no treino dos atletas e com impacto no seu rendimento desportivo”, segundo o comunicado emitido pela Polícia Judiciária.

    Aquele que vinha sendo, por grande margem, o projeto mais bem-sucedido a nível nacional no que diz respeito a resultados, via o castelo a desmoronar depois da sequência de acontecimentos que ditaram o fim da cooperação entre a W52 e o Futebol Clube do Porto nas estradas portuguesas a este nível.

    Os primeiros sinais de ruína deram-se com o afastamento de Nuno Ribeiro, diretor desportivo da formação nortenha. Após o conhecimento da investigação e de muitos sinais de instabilidade, que resultaram na instauração de dois arguidos – para além do diretor da W52, também José Rodrigues, adjunto de Nuno Ribeiro, estava visado no processo -, a equipa abandonou à partida para a terceira etapa do Grande Prémio O Jogo, colocando em risco os principais objetivos da época, como a Volta a Portugal.

    Este turbilhão de suspeição influenciou e muito o projeto nortenho em específico, levando mesmo à suspensão preventiva de dez ciclistas, também constituídos arguidos, estando impedidos de dar o seu contributo por decisão da UCI, organismo que rege o ciclismo mundial a nível competitivo. Na linha cronológica dos acontecimentos, esta notícia surge um pouco antes da principal brecha que, em boa verdade, precipitou a estabilidade (que já era pouca) do castelo azul e branco: A UCI optou por retirar a licença desportiva à W52-FC Porto, o que significava a impossibilidade de competir até à obtenção de nova licença, o que seria sempre complicado com dez arguidos no centro de uma investigação por uso de métodos e/ou substâncias proibidas.

    Outras duas equipas foram também alvo de buscas: Efapel suspendeu o corredor Francisco Campos depois do mesmo ter sido visado no âmbito desta operação assim como Daniel Freitas, da Rádio Popular Boavista, foi mencionado no processo e no decurso das diligências efetuadas, partilhando o facto de ter corrido na W52-FC Porto com o colega de profissão da Efapel. Sabe-se também que a própria Glassdrive, estrutura vencedora da última Volta a Portugal, foi também incluída na investigação, mas sem resultados consequentes visto que “não encontraram nada porque não havia nada para encontrar”, informou Rúben Pereira, líder da equipa, ao jornal O Jogo.

    Apesar dos vários controlos realizados no início de maio não terem dado um resultado positivo para as substâncias em questão, segundo uma nota emitida pela equipa após o rebentamento do escândalo, a realidade é que a investigação ainda seguia o seu curso depois de dois meses de maior acalmia, mas, ainda assim, comprometendo o normal funcionamento desta estrutura, que, entretanto, passou de ter os dias contados para já não ter mais nada para contar. Depois da defesa acérrima Adriano Quintanilha dos seus ciclistas em praça pública, a visão do dono da equipa… mudou drasticamente.

    A criação de um conjunto continental para 2023 seria impossível, dado o adiamento da Federação Portuguesa de Ciclismo quanto à candidatura da equipa devido a uma nova decisão no decurso da Operação Prova Limpa, e que motivou uma reação mais ríspida de Adriano Quintanilha: sete ciclistas da W52-FC Porto foram suspensos por decisão da Autoridade Antidopagem de Portugal em colaboração com a UCI.

    João Rodrigues foi suspenso por sete anos por anomalias no passaporte biológico. Por três anos foram suspensos Rui Vinhas, Ricardo Mestre, Ricardo Vilela, Daniel Mestre, José Neves e Samuel Caldeira, por posse de substância proibida e método proibido. Foram encontradas substâncias como samotropina e hormonas de crescimento, resultando numa confissão por parte destes ciclistas que viram assim a suspensão a reduzir-se de quatro para três anos.

    No rescaldo da investigação e os seus resultados, em entrevista ao jornal A Bola, o empresário felgueirense, homem forte do projeto, admitiu sentir-se enganado: “Estou de consciência tranquila. Como responsável pela equipa talvez tivesse de estar mais por dentro do que se passava, mas confiei e contratei aqueles que me pareciam ser os melhores e fui enganado”, desabafou, referindo ainda assim a pretensão de formar equipa para 2023, que surge agora no objetivo de constituir uma equipa de formação no escalão sub23, ainda em cooperação com o Futebol Clube do Porto e intitulada de Fonte Nova – Clube de Ciclismo.

    A Operação, contudo, continua a decorrer visto que ainda faltam resolver várias questões relativamente a ciclistas e membros do staff da equipa que ainda não conheceram o resultado individual da investigação. Desta forma, é seguro dizer que o legado de uma das maiores equipas de sempre a correr em Portugal ficará manchado depois do trabalho das autoridades competentes ter culminado na detenção e suspensão de vários arguidos, sendo, claramente, um ponto bastante negativo no rescaldo à época transacta e que promete deixar marcas profundas a curto/médio prazo.

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