Ponto para Pogacar: Os cinco melhores momentos do Paris-Nice

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    Eram para ser oito etapas, mas o vento intenso levou a que o antepenúltimo dia fosse riscado da prova. Ainda assim, não parece ter mudado o rumo de um Paris-Nice em que o nome de Pogacar foi sendo escrito à medida que os dias passavam. A “Corrida do Sol” chegava com uma antecipação em partícula ao seu redor, motivada pelo duelo entre Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar, primeiro e segundo do Tour do ano passado.

    O confronto entre os dois até começou logo no primeiro dia, mas as primeiras consequências chegaram na terceira etapa, em que se disputou o contrarrelógio por equipas e em que a Jumbo Visma levou a melhor sobre a UAE Team Emirates. Vingegaard partia assim com alguns segundos de vantagem para o rival esloveno, à entrada da primeira etapa de alta montanha.

    Ainda assim, erros táticos de Jonas Vingegaard, acompanhados de uma falta de capacidade física do dinamarquês, levaram Pogacar a fazer o que não conseguiu na “Grand Boucle” de 2022: descarregar Vingegaard nas montanhas, um cenário que se reptiu nas duas últimas etapas do Paris-Nice.

    Tadej Pogacar fez da corrida, e em particular da última etapa, uma montra para a sua capacidade física e também para a superioridade em relação aos rivais nesta fase inicial da época, com particular destaque para o homem que derrotou Pogacar no passado mês de julho. No fim, Pogacar venceu por margem clara em relação a David Gaudu que terminou mesmo à frente de Vingegaard, com o vencedor do Tour a completar o pódio

    Como sempre, uma edição emocionante do Paris-Nice marcada por um contexto de imprevisibilidade em relação à forma dos ciclistas que começam a época.

    5. O PRIMEIRO CONFRONTO, COM UM CHEIRINHO A POWLESS

    A primeira etapa era armadilhada com algum terreno acidentado, sendo que o maior destaque chegava a pouco mais de 5 km da meta, sob a forma de um sprint bonificado no topo de uma subida não categorizada. O vento cruzado não chegou e os cortes no pelotão, como aqueles que afastaram Richie Porte da luta pela vitória em 2017, eram praticamente impossíveis.

    Ainda assim, a etapa inaugural do Paris-Nice foi mesmo palco dos primeiros ataques da prova. Começou com Neilson Powless, da EF Easy Post, que atacou na penúltima subida do dia. Tdej Pogacar foi capaz de responder diretamente ao norte-americano. O pelotão ficava cortado, com Vingegaard a conseguir ficar no primeiro grupo. Era, todavia, o único ciclista da Jumbo-Visma a não ficar apanhado num corte.

    Powless não desistia e voltava a atacar a pouco mais de 16 km do fim, em terreno plano. Uma iniciativa infrutífera com o pelotão a alcançar o grupo intermédio, e em seguida, o homem da EF Easy Post. No início da subida final, Emirates e Jumbo estavam numa batalha pela melhor colocação no lançamento do sprint bonificado. Pogacar conseguiu colocar-se entre Vingegaard e o “lançador” do dinamarquês, sendo ainda capaz de aproveitar a roda de Pierre Latour, ciclista da TOTAL.

    Na frente ficavam Pogacar e Vingegaard na frente a cerca de 5 km da meta, apenas acompanhados de Latour e com o pelotão pouco atrás. Os dois favoritos recusaram-se a colaborar, deixando-se alcançar pelo pelotão, com Latour a tentar um esforço inglório a solo. Sam Bennett vencia a primeira etapa do Paris-Nice, numa chegada ao sprint, vestindo também a primeira amarela da prova. A insistência de Powless e a primeira reminiscência de ataque de Pogacar marcavam o primeiro dia da corrida.

    4. UM SPRINTER DE CADA VEZ

    Existiram 3 hipóteses para chegadas ao sprint na edição 81 do Paris-Nice, nas etapas 1, 2 e 45 O primeiro dia apelava mais a sprinters que se aguentassem bem na média montanha, mas os restantes encaixavam no perfil dos sprinters “puros”.

    Na primeira etapa, destaque para Tim Merlier, campeão belga que continua a ganhar dentro da Soudal Quick Step. A formação belga puxou o pelotão durante grande parte do último quilómetro, com vista a levar Tim Merlier à vitória. O belga agarrou a roda de Olav Kooij em vez da do seu colega, Florian Sénéchal, que liderava o pelotão. Desta forma, Danny Van Poppel conseguiu lançar de forma confortável Sam Bennett, mas foi Tim Merlier que aproveitou o arranque do sprinter da Jumbo para vencer de forma clara a etapa e vestir a camisola amarela.

    O segundo dia voltou a decidir-se ao sprint, depois de ameaças breves de cortes no pelotão, causados pelo vento forte. Sam Bennett perdia a roda de Van Poppel e Tim Merlier a ficar também de fora da luta pelo sprint devido a ilhas de trânsito dentro dos 3 km finais que dificultaram a colocação dos ciclistas. Foi Mads Pedersen quem abriu as hostilidades, batendo de imediato Daniel McLay, mas com Olav Kooij novamente a tentar surpreender pela esquerda, mas sem sucesso, pelo que o campeão do Mundo de 2019 levava a vitória na 2ª etapa do Paris- Nice para casa.

    À terceira seria de vez para Kooij. O neerlandês de 21 anos alcançava o seu primeiro triunfo da época num dia em que as ilhas de trânsito voltavam a fazer a diferença. Destaque para o atrevimento de Bem Swift nos últimos 700 metros, lançando-se ao ataque. Edoardo Affini fez a perseguição, com Olav Kooij a apanhar a roda de Pedersen, momento-chave para a vitória neerlandesa na 5ª etapa da “Corrida do Sol”.  3 etapas decididas ao sprint e 3 vencedores diferentes, cenário que confirma uma tendência que remete a 2020: nenhum ciclista a mostrar-se capaz de dominar as chegadas ao sprint.

    3. POGACAR CHEGA À AMARELA

    A 4ª etapa marcava a primeira chegada em alto do Paris-Nice. A etapa acabava na Loge des Gardes. A Emirates controlava a frente do pelotão, ainda que fosse Magnus Cort, da EF a vestir de amarelo. A equipa de Pogacar tinha interesse em vencer a etapa e anulou uma fuga que contava, novamente, com a presença de Jonas Gregaard, da Uno-X. O ciclista dinamarquês foi presença assídua nas fugas desta edição do Paris-Nice.

    Pogacar começou logo a ganhar tempo no sprint bonificado a 15,5 km do final, uma tendência que o esloveno foi mantendo ao longo da prova. A INEOS entrou na subida final na frente do pelotão, mas não tardou a que Felix Grosschartner assumisse a dianteira da corrida, com Pogacar e Vingegaard bem próximos.

    Apesar de estar sem companheiros de equipa no grupo da frente, Jonas Vingegaard lançou o primeiro ataque a menos de 5 km do final. Pogacar foi o único a responder e fê-lo com aparente facilidade, esboçando até um sorriso para a câmera. O duo não se afastava, ainda assim, e os restantes favoritos foram capazes de os alcançar.

    Esta foi a deixa para o ataque de David Gaudu que seguiu sem qualquer resposta, a 3,5 km do fim. Com praticamente todos os ciclistas isolados, Pogacar puxava o grupo dos favoritos e atacava a m2,5 km do fim, deixando Vingegaard gradualmente para trás, com o dinamarquês a quebrar no km final, depois de tentar colocar um ritmo que, pelo menos, não o deixasse perder o contacto visual com o vice campeão do Tour. Vingegaard seguia mesmo com dificuldades até em acompanhar Gino Mäder da Bahrein-Victorious.

    Um arranque de Pogacar permitia ao esloveno ganhar no sprint frente a Gaudu, chegando à liderança da geral no mesmo dia em que ganhou 44 segundos na estrada ao rival, Jonas Vingegaard.

    2. POGACAR VS VINGEGAARD VS GAUDU

    Depois do cancelamento da etapa 6, a chegada ao Col de la Couillole adquiriu um protagonismo ainda maior. Uma subida longa com quase 20 km de extensão foi palco de todo o espetáculo do dia. A Jumbo Visma, longe de repercutir a qualidade do bloco presente no Tour em 2022, assumiu a dianteira do pelotão a mais de 12 km do fim e só saiu passados 6 km. Daniel Martínez, vencedor da Volta ao Algarve ficava para trás muito cedo, passando ao lado da corrida francesa.

    Jonas Vingegaard assumia a frente do pelotão a 6 km do final, apenas para Tadej Pogacar atacar pouco depois. O dinamarquês não foi ao choque, ficando a meter ritmo no grupo principal até chegar ao esloveno. Vingegaard e David Gaudu foram os únicos capazes de fechar o espaço.

    A menos de 2,5 km do final, ataque de David Gaudu com o campeão do Tour a ficar para trás. Vingegaard fez o que não conseguiu fazer na etapa 4 e recolou ao duo da frente já no último quilómetro. Contudo, foi a deixa que Pogacar entendeu ser para lançar o sprint que o permitiu vencer no topo, ficando uma a luta a dois e meio antes da última etapa. O bicampeão do Tour ficava com 12 segundos para David Gaudu na geral e 58 para Vingegaard.

    1. EM DIA DE ÓSCARES, POGACAR FOI ESTRELA

    Último dia de Paris-Nice, um dos dias de ciclismo mais difíceis de controlar em todo o ano. Formava-se uma fuga numerosa, mas a Emirates não tremia na frente do pelotão e não deixava que se distanciasse uma fuga. Pogacar não perdoava, para desagrado do antigo colega, agora ciclista da Astana, David de la Cruz. Pogacar ficava sozinho depois de um grande trabalho de Domen Novsak e de Felix Grosschartner, mas era Simon Yates quem assumia a dianteira do grupo à entrada na última passagem pelo Col d’ Èze.

    E depois, aconteceu. Tadej Pogacar atacou e com a maior das facilidades atacou e não tornou a ver os adversários até chegar à meta. Gaudu, Matteo Jorgenson, Vingegaard e Simon Yates ficavam no grupo de trás. Pogacar ia sozinho a 18,4 km do fim e era assim que fechava a etapa, conseguindo a sétima vitória da etapa em 13 dias de competição.

    Pogacar vence a classificação geral do Paris-Nice, bem como a juventude e os pontos. O pódio da geral fica completo com um sensacional David Gaudu, que coloca as fichas de 2023 na Volta à França, depois do quarto lugar obtido em 2022 e por um desinspirado Jonas Vingegaard, obrigado a melhorar muito a forma, caso pretenda repetir o triunfo alcançado na edição de 2022 da “Grand Boucle”.

    Destaque ainda para Jonas Gregaard, ciclista combativo que venceu a classificação da montanha, a única que falhou a Pogacar. Matteo Jorgenson deu continuidade ao bom momento da Movistar e fechou às portas do top 5 da corrida. Já Simon Yates esteve bastante ofuscado, ficando cada vez mais distante do impacto que trazia às corridas em 2018.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.