Portugal: O país onde as mulheres não andam de bicicleta?

    A Federação Portuguesa de Ciclismo já anunciou os representantes nacionais para os Mundiais de Ciclismo de Estrada a disputar em Innsbruck na Austria. No total, serão 12 os portugueses a enfrentar um dos mais seletivos Mundiais de que há memória: Nelson Oliveira, Ruben Guerreiro, Rui Costa, Tiago Machado e Domingos Gonçalves em Elites, André Carvalho, Gonçalo Carvalho, João Almeida, Tiago Antunes e Ivo Oliveira em Sub 23 e Guilherme Mota e Afonso Silva em Júniores.

    Certamente o leitor reparou que todos estes nomes são masculinos e estará neste momento a perguntar-se se em Portugal não há mulheres a praticar ciclismo. Não tema. Não só as há, como este ano temos um número recorde de três ciclistas femininas a correr no estrangeiro em equipas UCI. O que, realmente, só nos faz questionar ainda mais esta decisão da Federação.

    Olhando para o panorama nacional, o ciclismo feminino nunca esteve tão vivo e há várias ciclistas que bem mereciam esta experiência, até porque a dureza e competitividade dos Mundiais seria uma excelente aprendizagem para atletas com muito poucas oportunidades de se testarem contra as melhores da modalidade.

    Soraia Silva é uma das jovens promessas nacionais
    Fonte: José Baptista/Bola na Rede

    A campeã nacional absoluta Daniela Reis tinha aqui um percurso que lhe assentava melhor que as edições mais recentes e, por isso, Portugal teria todas as condições para, através dela, obter um resultado aceitável tanto no crono como no fundo, como ainda há pouco provou com os seus 4.ºs postos em ambas as provas nos Jogos do Mediterrâneo.

    Nas Elites, entre Liliana Jesus, que este ano até disputou algumas provas no País Basco, Marta Branco cuja regularidade foi um dos destaques da Taça de Portugal ou a veterana Celina Carpinteiro, medalhada de bronze nos nacionais, pelo menos uma delas poderia ser recompensada e ir à Austria para dar apoio à Daniela Reis na prova de fundo.

    No escalão Sub23 (que em femininos não têm Mundial próprio, pelo que também correriam em Elites), as duas grandes promessas nacionais, Maria Martins e Soraia Silva, ambas da Sopela Team, não se adaptam ao percurso tão acidentado, mas beneficiariam bastante, especialmente Maria, de participar no contrarrelógio, onde já mostraram algum potencial.

    Eider Merino vence uma etapa do Tour de l’Ardeche: em Espanha, a Federação faz um esforço para apoiar as atletas
    Fonte: Vélofocus/Movistar Team

    Para fazermos a comparação, a Federação Espanhola, que tem muito menos necessidade disso, porque em Espanha há várias equipas UCI e um calendário muito mais alargado, não deixa de aproveitar as oportunidades para dar mais experiência às suas atletas e ainda recentemente esteve com seis ciclistas no Tour de l’Ardèche, onde disputou a corrida.

    Por tudo isto, é inaceitável esta postura da Federação Portuguesa de Ciclismo que não pode pregar o desenvolvimento do ciclismo feminino, mas falha nestes momentos. E se o problema for financeiro, então aí tem de reivindicar e não assobiar para o lado e agir como se não houvesse nada de errado com esta lista de convocados.

    Foto de Capa: Federação Portuguesa de Ciclismo

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