Corria o ano de 2019 e Rúben Guerreiro mudava-se de armas e bagagens para a equipa russa da Team Katusha, na qual o ex-praticante José Azevedo era um dos seus principais rostos.
É nesse mesmo ano que inaugura o seu calendário de participações em grandes Voltas, com tal situação a ser atingida na Vuelta.
Tal participação excederia as expectativas do próprio, fechando na 17.ª posição da geral, arrecadando um segundo posto numa tirada de alta montanha, bem como uma quarta posição numa etapa de média montanha.
Com a estrutura de capital soviético a finalizar a sua atividade, Rúben assina pela EF Education – NIPPO, mais conhecida do público por EF Education First.
Na nova formação, alinha na segunda grande Volta da carreira, neste caso o Giro, em 2020, no qual conquista a camisola de melhor trepador. E como se já não tivesse feito bastante para entrar para a eternidade, juntou-lhe uma vitória em etapa, a primeira e única, aos dias de hoje, numa das três grandes!
A presente temporada já o fez ir do oito ao oitenta.
Tudo porque na volta à Itália, prova que confessa admirar, acaba por, a meio da competição, ser forçado a abandonar devido a uma queda, que teve como principal consequência duas costelas fraturadas e quase a certeza de que a estreia no Tour teria de ser adiada, pelo menos uma temporada.
Mas como o nosso corpo em momentos de adversidade consegue resgatar forças onde muitas vezes não parece ser possível, fruto de uma recuperação altamente afincada, excecional, e na qual foram despendidas várias horas de sacrifício, foi contra todas as expectativas que Rúben Guerreiro fez jus ao nome integrando o pelotão do Tour.
Rúben Guerreiro vence a nona etapa do Giro di Portogallo, perdão, Giro d’Itália! João Almeida permanece com a Maglia Rosa.
Mais uma página de ouro no ciclismo nacional, não há palavras para descrever o quão importante é este dia!
Enorme orgulho! #Giro pic.twitter.com/xhYQJWcSxl
— Portuguese Cycling Magazine (@PCMPTMag) October 11, 2020
Aí escreveu, mais uma vez, história, e por mais que uma razão.
Primeiramente, porque se tornou apenas no sétimo corredor de terras de Cabral a fechar entre os 20 na prova gaulesa, numa galeria em que também pontificam nomes consagrados.
Entre eles, José Azevedo, Joaquim Agostinho, José Martins, Alves Barbosa, Fernando Mendes e Rui Costa, terminando o evento na 18.ª posição.
Além de ter sido o “braço direito” do seu líder, colombiano Rigoberto Urán, fruto de um mau dia, já dentro da derradeira semana de competição perderia as hipóteses de pódio, concluindo no 10.º posto.
Contudo, ficará sempre a incógnita de como seria se Rúben Guerreiro não tivesse a missão de auxiliar o cafetero!
Como forma de concluir, creio que continuando a evoluir poderemos estar em presença de um “voltista”, sendo que, em conjunto com o caldense João Almeida, promete ser um forte candidato a fechar, num futuro não muito distante, com regularidade entre os melhores em grandes Voltas.
Rúben é um guerreiro na estrada e fora dela, que revela um talento inato e uma margem de crescimento ainda bastante assinalável, podendo, em breve, continuar a escrever mais capítulos de glória para o desporto lusitano.
Artigo revisto por Joana Mendes