Tour de France 2014: o rescaldo

Cabec¦ºalho ciclismo

Todos os anos, no dia seguinte à final do Tour, a sensação é a mesma. Uma vontade enorme de voltar atrás no tempo. É que esperar mais um ano para ver esta corrida mágica parece sempre uma eternidade! Seria bem mais fácil carregar no rewind e andar três semanas para trás. Este ano esse sentimento é redobrado. Sinto que as quedas nos roubaram o que poderia ter sido uma das melhores Voltas à França dos últimos (largos) anos. À partida tínhamos Froome, Contador e Nibali em busca da camisola amarela e, sabendo agora o nível que Nibali apresentou, que luta fantástica teria sido entre eles. Tínhamos Cavendish que queria aproveitar o facto de a prova começar no seu Reino Unido para mostrar ao mundo que ainda é o melhor sprinter do mundo. Tínhamos também (agora um interesse mais nacional) Rui Costa como chefe de equipa, o que me despertou uma enorme curiosidade pois tanto eu como muitas gerações passadas nunca tivemos oportunidade de ver um português nesse papel, ainda por cima com a camisola de campeão do mundo! Um lugar no top10 parecia realisticamente alcançável e com possibilidade de sonhar com um pouco mais. Pois é, não tivemos nada disso e fica também um sentimento de grande frustração. Apesar de tudo, não foi um Tour para esquecer, muito pelo contrário – tivemos uma boa corrida com momentos memoráveis, mas é impossível não pensar no que poderia ter sido.

Destaques

Vicenzo Nibali -> Começo pelo óbvio, que prestação sensacional! O italiano terminou com uma vantagem superior a 7min30s do segundo classificado, apresentando um nível muito acima de toda a concorrência que, apesar de ter sido privada dos dois maiores nomes, não era propriamente composta de meninos de coro. Ainda havia Valverde, Pinot, Rui Costa, Garderen, Mollema, Ten Dam, Rolland… A verdade é que o tubarão se destacou de tal maneira nas montanhas que parecia que estava a nadar num mar cheio de sardinhas. 16 anos depois de Pantani, um italiano volta a ganhar o Tour e junta-se ao restrito grupo daqueles que venceram as três grandes provas. Fica também para a história uma etapa memorável em que, apesar de ser o camisola amarela e ter mais de 5min de vantagem sobre o segundo classificado, Nibali atacou de uma forma que já não se via um líder da classificação fazer há muitos, muitos anos, deixando a mensagem clara de que ele estava num planeta à parte de todos os outros e que, mesmo que houvesse Froome e Contador no pelotão, não seria fácil batê-lo.

 

Rafal Majka -> Antes de começar a prova refilou publicamente com a sua equipa porque não queria ir ao Tour, preferia ficar a preparar-se para a Vuelta. Apesar disso, desde cedo que lançou o desafio a Rodriguéz pela luta da camisola da montanha. Venceu esse duelo com larga vantagem e trouxe a camisola das bolinhas para casa. Pelo meio venceu duas etapas e deu muito espetáculo nas montanhas. Para quem não queria ir, nada mau! Disse depois que se apaixonou pela prova (como não?) e que mal pode esperar para voltar. Depois do que fez no Giro mostra-se cada vez menos como uma promessa de futuro e cada vez mais como um grande ciclista da actualidade.

 

A “brigada francesa” -> Há muitos anos que a França não colocava um homem no pódio do Tour, mas este ano colocou dois. Dois no top3 e três no top6. Péraud, Pinot e Bardet fizeram provas impressionantes e sempre com duelos interessantes entre si. Péraud e Pinot disputaram até ao contra relógio um lugar no pódio com Valverde e durante a etapa, quando rapidamente se percebeu que Valverde estava em dificuldades, ofereceram-nos um duelo ao segundo pela segunda posição no pódio. Já entre Pinot e Bardet, para além da luta na classificação geral, havia também outro duelo particular, o duelo pela camisola branca, que premeia o melhor jovem. Se Pinot perdeu a luta com Péraud, venceu a luta com Bardet conquistando a camisola branca com 3min11s de vantagem. Para além disso, a equipa AG2R venceu a classificação por equipas com 34min46s de vantagem sobre a Belkin, segunda classificada, e com uma vantagem superior a uma hora para todas as outras equipas. Em França, esta edição não será esquecida tão rapidamente.

 Belkin -> Tenho de fazer uma pequena menção à equipa holandesa que, além de levar uma etapa para casa, ficou em segundo lugar na classificação por equipas e a par da AG2R é a única equipa a colocar dois ciclistas no top10.

Rafal Majka, um dos grandes destaques da prova.  Fonte: Cyclingweekly.co.uk
Rafal Majka, um dos grandes destaques da prova.
Fonte: Cyclingweekly.co.uk

Surpresas

A “brigada francesa” -> Novamente. Foi a grande surpresa do ano e nada mais se compara. Ninguém apostava à partida em três franceses no top10, quanto mais em dois no pódio. É verdade que isto se deve ao facto de não haver Froome e Contador, mas mesmo depois dos seus abandonos, muito poucos acreditavam que isto poderia acontecer.

 Desilusões

Valverde -> Nunca conseguiu um lugar no pódio do Tour e este ano não soube aproveitar a melhor oportunidade que alguma vez teve ou terá. Sem Froome e sem Contador, todos esperavam que Valverde fosse no mínimo terceiro classificado, mas apresentou-se no contra relógio em tão má forma que desceu de segundo para quarto e não esteve à altura da camisola de campeão espanhol que envergou nesse dia. O desastre foi tão grande que, aos 35 anos de idade e com um Quintana a disparar na mesma equipa, parece que acabou a aventura do Tour para este ciclista que marcou o século XXI. É pena vê-lo sair da ribalta desta forma, mas parece-me que apenas lhe resta a Vuelta, e isto por ser a prova do seu país natal.

 

Rui Costa -> Coloco o ciclista português nas desilusões não tanto pelo seu desempenho na estrada, mas por não ter tido capacidade física este ano para resistir às durezas do Tour. Rui Costa fica doente e abandona a prova mais cedo deixando uma série de expectativas por cumprir. Felizmente para ele, ainda está na fase da carreira em que há sempre o próximo ano.

Peter Sagan teve um Tour agridoce Fonte: cyclingperspective.com
Peter Sagan teve um Tour agridoce
Fonte: cyclingperspective.com

 PS: Não posso acabar este artigo sem mencionar Peter Sagan. A verdade é que não sei em que categoria o colocar. Sagan esteve em destaque por vencer novamente a camisola verde (já a 3ª consecutiva), mas também foi uma surpresa e desilusão o facto de não ter conseguido vencer nenhuma etapa.

Rafael Lapa
Rafael Lapahttp://www.bolanarede.pt
Um dia o seu avô disse-lhe: "anda cá, Rafael, senta-te aqui no meu colo, que vamos ver uns meninos a andar de bicicleta". A partir desse dia começou uma paixão incontrolável: o ciclismo!                                                                                                                                                 O Rafael não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Arsenal oficializa contratação de Kepa Arrizabalaga

Kepa Arrizabalaga é reforço confirmado pelo Arsenal. O guarda-redes espanhol deixou o Chelsea por cerca de seis milhões de euros.

Ansu Fati renova contrato com o Barcelona e é enviado para o AS Mónaco

Ansu Fati foi confirmado como o mais recente reforço do AS Mónaco. O extremo renovou igualmente contrato com o Barcelona.

Já há árbitra definida para o Portugal x Espanha do Euro 2025 Feminino

O Portugal x Espanha do Europeu de 2025 de Futebol Feminino vai ser arbitrado pela romena Iuliana Demetrescu.

Martín Anselmi já não se encontra em Portugal

Martín Anselmi já não se encontra em Portugal. O treinador argentino rumou a Buenos Aires sem assinar a rescisão com o FC Porto.

PUB

Mais Artigos Populares

Jogadora saiu lesionada do treino de Portugal

Portugal continuou a preparar o Euro Feminino 2025 durante esta terça-feira. Telma Encarnação sofreu uma lesão.

Médio do Championship novamente associado ao FC Porto

O FC Porto está interessado em contratar Hayden Hackney. O médio pertence aos quadros do Middlesbrough.

Martim Mayer apresenta a candidatura à liderança do Benfica no dia 9 de julho

Martim Mayer vai apresentar a sua candidatura à liderança do Benfica no dia 9 de julho, numa cerimónia que se vai realizar no Capitólio.